A demissão de 4.270 trabalhadores da Embraer, além de expressar o drama do desemprego que atinge a classe trabalhadora, reflete também o funcionamento do capitalismo, em que as principais decisões sobre o destino do país são tomadas pelo capital financeiro internacional.

Alguns dirão que existe uma crise na economia mundial e por isso as demissões são inevitáveis. Mas os cortes não são inevitáveis. Eles sintetizam um sistema dominado pelos interesses das potências imperialistas, em que não existe soberania do país para decidir seu destino. Essas demissões e o futuro da Embraer resultam de uma escolha sobre o que faremos com nossos recursos naturais, tecnológicos e humanos.
A opção é simples. Ou colocamos os recursos a serviço da população ou trabalhamos para que os banqueiros de Wall Street sigam lucrando à custa do suor e do desemprego da classe operária.

A Embraer foi uma empresa estatal construída com o esforço de todo o povo, com dinheiro do Estado, ou seja, dos impostos pagos pela maioria. Ela lidera o mercado de jatos de pequeno e médio porte, atrás somente de grandes empresas como a Boeing – de capital norte-americano – e a Airbus – um consórcio europeu.

A Embraer foi privatizada em 1994. Na verdade, foi doada ao capital multinacional por R$ 154,1 milhões. Hoje, seu valor pode ultrapassar os R$ 15 bilhões.
Como podemos observar no gráfico, 51,7% do controle acionário da Embraer pertence aos fundos de investimentos internacionais. E os 10,4% do grupo Bozano deixaram de ser “nacionais”, pois foram incorporados pelo Santander, banco espanhol.

Além disso, parte das ações negociadas na Bovespa é de propriedade estrangeira. Assim, cerca de 60% da Embraer está em mãos de fundos especulativos internacionais. Quem manda é o capital financeiro internacional. Por isso, 97% da produção é exportada.

Esse quadro acionário está contra as próprias regras da privatização, que limitavam em 40% o controle estrangeiro. Além disso, em 2006, houve uma mudança importante na composição acionária: o consórcio europeu se retirou. Detinha 20% das ações, adquiridas por fundos especulativos dos EUA (Janus, Oppenheimer e Thornburg). A empresa argumentou que isso daria acesso ao mercado internacional. O governo Lula, que detém uma ação com poder de veto (Golden Share), poderia ter vetado a operação, mas não o fez.

Na busca pelo lucro fácil, a Embraer privatizada especializou-se em jatos regionais (com até 100 lugares) e para executivos. No entanto, quando estatal, produziu 50% da frota da Força Aérea Brasileira. Assim, surgem os primeiros dilemas sobre a empresa. O que produzir? Para quem?

Produzir para as necessidades da população ou priorizar o mercado mundial e lucrar em dólar? Muitos dirão que no Brasil falta mercado para aviões. Foi um argumento para privatizar. Mas, após esses anos, o que a realidade demonstrou?

De 1997 até 2008, o BNDES desembolsou US$ 8,39 bilhões para que a Embraer colocasse seus aviões no mercado internacional, quase três vezes o lucro da empresa no período. O mercado internacional comprou os aviões financiados pelo Estado brasileiro. Qual a razão para que esse financiamento não tenha sido usado para ampliar a frota de aviões do país? Não há obstáculo econômico. Estamos diante de um problema político.

A privatização foi uma decisão política do governo Itamar Franco, mantida por Lula. Como resultado, o BNDES, com dinheiro do Estado e até do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), financia aviões para executivos de multinacionais. A Embraer tem lucro e o envia aos fundos de investimentos norte-americanos. Os trabalhadores constroem os aviões, o Estado financia, mas o lucro vai para banqueiros de Nova York. Que, quando querem ganhar mais, demitem em massa!

Os argumentos para a privatização foram mentirosos, pois a Embraer continuou dependendo de dinheiro público para financiar a venda de aviões.

Para quem produzir?
Existe a possibilidade de romper esse ciclo perverso? Sim, com a reestatização da Embraer. Esse processo pode destinar o dinheiro público não para Nova York, mas para um projeto de fortalecimento da aviação nacional. Estamos em um país continental e a necessidade de deslocar pessoas e mercadorias é real. Se o BNDES até agora financiou jatos para executivos de empresas, por que não pode financiar aviões para que a população brasileira viaje mais e a preços mais baixos?

Um projeto de fortalecimento da empresa implicaria em nacionalizar toda a produção, pois 95% das peças usadas na montagem do avião são importadas ou produzidas por multinacionais instaladas fora ou dentro do Brasil. O BNDES, para financiar a Embraer, exigiu uma contrapartida de nacionalização da fabricação. A Embraer combinou então com grandes multinacionais para se instalarem no Brasil, especialmente em São José dos Campos, garantindo essa “nacionalização”. As fornecedoras da Embraer com capital nacional produzem peças com pouco valor agregado.

Se todo o ciclo de produção estivesse concentrado no Brasil, seria um impulso ao desenvolvimento tecnológico que não ficaria restrito à produção de aviões. Ampliaríamos a pesquisa e a quantidade de técnicos e engenheiros e necessariamente distribuiríamos esse conhecimento a outros ramos da indústria. Isso seria apostar no desenvolvimento tecnológico e gerar mais empregos diretos e indiretos, desde a produção do avião até os serviços de aviação.

As duas maiores empresas do mundo, Boeing e Airbus, foram projetos bancados pelos EUA e pela Europa. Foram decisões políticas, na medida em que a aviação é um setor industrial e militar estratégico.

Quem são os mais interessados em que a Embraer produza para o mercado interno? Os trabalhadores e a população pobre, que poderiam pagar passagens bem mais baratas. E que teriam mais e melhores empregos. Mas quem é contra? Todos os que lucram com a falta de independência e soberania do país. Os sanguessugas, “testas de ferro” do capital internacional, que ficam com as migalhas dos lucros e enviam a maior parte ao exterior.

Lula diz que ficaria na “torcida” pela reintegração dos trabalhadores. A verdade é outra. Ele já entrou em campo, mas não está jogando no time dos trabalhadores. Se estivesse do lado de cá, a primeira medida seria a reestatização. Lula não está disposto a enfrentar o capital internacional e por isso mantém o país atrelado aos interesses das empresas e bancos norte-americanos.

As demissões da Embraer demonstram que não se pode ter emprego e uma vida melhor se o país seguir controlado por bancos e empresas de países imperialistas. Por trás do drama humano, há anos e anos para formar técnicos e operários qualificados.

Dinheiro público investido na formação dessas pessoas para que seu destino seja decidido em Nova York. Os operários da Embraer sintetizam o drama de todo um país, e nossa resposta deve ser a luta pela reestatização.
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