No dia 29 de setembro, uma greve geral promete paralisar a Espanha. Os trabalhadores vão à luta contra diversos ataques realizados pelo governo “socialista” de Zapatero, como a recente implementação da reforma trabalhista e a já anunciada reforma na PreviA reforma trabalhista decretada pelo governo é sem dúvida a maior agressão aos trabalhadores desde o fim da ditadura franquista. O “governo progressista”, o que está aqui para “frear a direita”, acaba se mostrando o pior carrasco da classe operária.

Toxo e Méndez (1) dizem que o governo “cede à chantagem dos mercados”. Mas “os mercados” (a lamentável expressão usada para não falar de capitalismo) são uma abstração sem os governos e o Parlamento que executam e legislam para eles. Com os chamados cortes nas despesas públicas, sua reforma trabalhista ou o ataque à Previdência, este governo mostra-se o que sempre foi: um governo dos banqueiros e salvador da direita. Enquanto o PP faz demagogia, esfrega com satisfação as mãos, contente com a política de um Governo que continua abrindo-lhe o caminho à Moncloa (2).

Ou eles ou nós
Dois meses após entrar em vigor, a reforma trabalhista já mostrou que serve apenas para baratear e facilitar as demissões. As demissões na multinacional UPS ou os 61 trabalhadores demitidos no mês de agosto comprovam isso. Com a reforma para “acabar com a dualidade na contratação”, 93,4% dos novos contratos assinados são temporários e tudo isso sem esquecer a benção das próprias associações patronais que asseguraram um setembro com onda de demissões.

Depois da reforma trabalhista, anunciam agora um ataque à Previdência. Pretendem elevar a idade mínima para se aposentar para 67 anos, além de subir de 15 para 20 anos o cálculo das pensões. Sobram razões, portanto, para uma greve geral. Mas diferente de outras ocasiões, não enfrentamos uma medida, mas um bombardeio de ataques que não terá limite, caso os trabalhadores não conseguirem detê-los. Vem os ataques à Previdência, vêm o Orçamento Geral e com eles mais cortes de verbas, entre outros às empresas públicas como já fizeram com o Metrô de Madri; anunciam a reforma do seguro de desemprego; a reforma da negociação coletiva, etc.… Não há limite! São planos ao estilo grego.

Por isso, o que fica claro é que o problema de fundo aqui e em toda Europa é à saída desta crise capitalista: ou os lucros aumentam sobre a miséria da classe operária e dos setores populares, sobre o avanço da barbárie, ou começamos a abrir caminho para uma saída operária à crise, contra os capitalistas, seus governos e seus regimes políticos. O dilema é: ou eles ou nós.

Mesma greve, mas objetivos diferentes
Tanto nós como CCOO e UGT [Comissões Operárias e União Geral dos Trabalhadores] dizemos estar contra a reforma e o ataque à Previdência, por isso no dia 29 de setembro será possível uma grande unidade de ação através da greve geral. Mas Méndez e Toxo enfatizam que o objetivo da greve é “que o Governo retifique” e volte ao “diálogo social”, por isso seu lema é “Assim não”. Se o governo, depois do dia 29 fizer um gesto de retorno ao “diálogo social”, estes dirigentes se dariam por satisfeitos. O problema, porém, é que há pouca margem de manobra diante dos planos do FMI, da UE e frente a uma crise econômica sem saída.

Para nós esse objetivo é uma fraude, pois seria reduzir a greve e o sacrifício de milhões de trabalhadores a um aval à política que nos meteu neste buraco. O “diálogo social” fez com que 4,6 milhões de trabalhadores sofressem com desemprego, e impôs a assinatura dos EREs e os cortes de direitos.

Para nós o objetivo desta greve é o oposto; devemos dar o primeiro passo para mudar a correlação de forças. Para que a classe operária comece a entrar em cena e não se torne um fantoche sujeito aos planos do governo, o FMI e a UE. Por isso, quanto maior seja a participação operária no dia 29 de setembro, em melhores condições estaremos para barrar os ataques às pensões e para continuar a luta até derrotar a reforma trabalhista.

Não há desculpas para não fazer a greve geral
A profunda desconfiança de muitos trabalhadores nos burocratas sindicais é uma das principais razões que ameaça o sucesso da greve. Mas devemos fazer uma greve geral no dia 29, pois Toxo e Méndez não são contra nem a Reforma Trabalhista nem o ataque à Previdência. Um fracasso da greve geral significaria um retrocesso brutal para todos. Não fazer greve no dia 29 em nome da justa desconfiança com a burocracia sindical é apoiar a direção da empresa.

Há quem diga que “com um dia apenas de greve não mudaremos isto”. Têm razão os companheiros. Por isso, há que dar continuidade à mobilização, mas sem o sucesso do dia 29 será muito difícil exigir depois (e impor) a continuidade da luta.

Há companheiros que nos dizem: “vale para algo a greve, agora que a reforma já é Lei?”. Não há dúvidas de que é uma desgraça e responsabilidade dos dirigentes de CCOO e UGT, que adiaram a condução da mobilização. Mas a greve vale a pena sim, pois, em primeiro lugar, quanto maior ela seja mais garantias teremos de derrotar os ataques à Previdência e colocar uma barreira ao resto de medidas anunciadas.

E vale sim para começar a mudar a correlação de forças a favor dos trabalhadores, pois assim poderemos revogar a lei da reforma. Precisamos lembrar que a luta dos trabalhadores tem derrubado leis, governos e regimes inteiros. É essa luta operária a que derruba leis e conquista direitos.

O desafio do dia 29 de setembro é, portanto, sair à rua e dar o primeiro grande passo para mudar a dinâmica da “paz social” e pôr fim a resignação através da mobilização operária. Esse é o grande desafio. Difícil, sem dúvida. Mas longe de preconceitos e atitudes defensivas, a esquerda sindical e os trabalhadores mais conscientes devem assumir se colocando na vanguarda da greve.

Fonte: WWW.corrienteroja.net

NT:
(1) refere-se aos secretários gerais das duas principais centrais sindicais do país: Ignacio Fernández Toxo, da CC.OO; e Cándido Méndez, da UGT.

(2) O Pacto de la Moncloa foi assinado em 25 de outubro de 1977, em uma situação de grave crise econômica e social vivida pela Espanha logo depois do fim da ditadura do general Francisco Franco. A classe trabalhadora vivia um Ascenso. Para acabar com as lutas que ameaçavam uma frágil burguesia que ainda não havia consolidado o regime democrático burguês pós-Franco, o governo de Adolfo Suarez propôs um Pacto Social com os representantes dos trabalhadores, contando-se aí o Partido Socialista Operário Espanhol, o Partido Comunista Espanhol e as organizações sindicais União Geral dos Trabalhadores e Comissões Operárias.

Tradução: Jeferson Choma