Parlamentares querem dobrar seus próprios salários. Dados comprovam que empresas financiaram campanhas eleitorais de deputados.A imensa maioria da população sabe que o Congresso Nacional é um covil de picaretas. Como se não bastassem os inúmeros escândalos de corrupção que afundaram a instituição em um mar de lama, poucos dias depois das eleições os deputados já estão discutindo reajustar seus próprios salários em quase 100%. Os vencimentos dos deputados podem passar dos atuais R$ 12.847 para R$ 24,5 mil por mês. Os parlamentares já articulam o aumento nos bastidores da Câmara para aprovar o reajuste no início das férias e evitar reações da opinião pública.

Já o PT, mirando a disputa pela presidência da Câmara, defende 30% de reajuste para os parlamentares, o que elevaria os salários para R$ 16,7 mil.

O mais absurdo de tudo isso é que o governo já anunciou a sua proposta de salário mínimo para o próximo ano, que será levada à votação no Congresso. A proposta é “reajustar” o mínimo de R$ 350 para R$ 367, ou seja, um aumento de ridículos R$ 17. Nas eleições, Lula prometeu elevar o mínimo para R$ 375, mas até essa tímida proposta foi traída.

Com isso, os deputados terão um salário 45 vezes maior (de acordo com a proposta do PT) do que os trabalhadores que recebem um salário mínimo.
Além do dinheiro da roubalheira, da corrupção e dos milionários lobbies, os deputados vão dobrar seus salários milionários enquanto darão o mínimo para os trabalhadores.

Balcão de negócios
Como se isso não bastasse, dados divulgados pela Justiça Eleitoral sobre financiamento das campanhas mostraram que o balcão de negócios vai se ampliar no Congresso.

De acordo com um balanço parcial – quase 40% dos candidatos não entregaram sua declaração ao TSE e as informações sobre as doações para as campanhas presidenciais não foram divulgadas -, os quatro setores empresariais que mais forneceram dinheiro para as campanhas foram as construtoras (R$ 66,3 milhões), siderúrgicas (R$ 21,6 milhões), agronegócio (R$ 19,6 milhões) e o mercado financeiro (R$ 17,8 milhões).
Mas há uma forma de doar recursos sem ser identificado. As empresas podem passar recursos para os partidos, orientando posteriormente quem será o candidato beneficiado. Além disso, há o famoso caixa dois das campanhas eleitorais.

As empresas financiam as campanhas dos parlamentares que em troca votam em leis contra os trabalhadores, a favor desses senhores. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a aprovação do Supersimples, que acaba com direitos dos trabalhadores das micro e pequenas empresas. Sabe-se muito bem que essas empresas doadoras de dinheiro também são prestadoras de serviços para o Estado, como as construtoras e siderúrgicas. Ou seja, a corrupção vai se ampliar.

Bancada da Vale
Uma reportagem do jornal Valor Econômico (10/11), confirma que o Congresso é onde se realizam as grandes negociatas, por meio de lobbies entre parlamentares, grandes bancos, empreiteiras, latifundiários, etc.

A reportagem mostra as empresas que financiaram as campanhas dos parlamentares, com base nos dados oficiais da Justiça Eleitoral. Segundo o Valor, a Vale do Rio Doce foi uma das empresas que mais bancou deputados, 46 ao todo. Depois vem o Itaú, com 31, o Grupo Gerdau, com 27, a Klabin, com 26, Camargo Correa, com 25, OAS, com 23 e Instituto Brasileiro de Siderurgia, com 21. Ao todo, elas destinaram R$ 16.287.359,00 aos parlamentares.

A Vale, sozinha, gastou R$ 5,3 milhões em financiamento de campanhas. O parlamentar mais beneficiado pela Companhia foi o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB – SP), que recebeu RS 300 mil. O deputado “comunista” também foi quem recebeu a maior doação da construtora Camargo Correa, com R$ 250 mil. O fato levou o jornalista Gilberto Maringoni a sugerir, com muito bom humor, que Rebelo colocasse em seu gabinete o logo das empresas ao lado das fotos de João Amazonas e Che Guevara. “Hay que endurecer, pero sin perder el financiamiento”, ironizou.

Mas a bancada da Vale ainda abarca outros partidos, como o PT (partido que recebeu a maior fatia do financiamento, com 16 deputados beneficiados), PSDB (7), PMDB (5), PFL (4), e outros do PTB, PSB, PPS, PL, PDT e PL.

Por trás do financiamento da Vale há a preocupação de fazer com que os deputados votem em projetos favoráveis aos seus interesses. Tramita atualmente na Justiça uma ação para anular o leilão fraudulento que privatizou a companhia (ver páginas 6 e 7). Se o tema chegar ao Congresso certamente os parlamentares financiados pela Vale votarão a favor dos interesses da empresa.

Outras bancadas
As contas do TSE também mostram que o deputado e ministro Cyro Gomes foi o maior beneficiado pelas doações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com R$ 500 mil. A empresa investe no Ceará desde os tempos em que Cyro era governador.
Já o Itaú, o maior banco privado do país, investiu pesado nas candidaturas do PSDB, doando um total de R$ 457,5 mil para os tucanos. O PT foi o segundo partido mais beneficiado pelo banco, recebendo R$ 280 mil.

Uma outra reportagem da Folha de S. Paulo (19/11) também mostrou a promiscuidade entre as empresas e os deputados. Centenas de parlamentares reeleitos captaram recursos de setores atendidos por projetos. O do deputado Alberto Lupion (PFL-PR), presidente da Comissão de Agricultura, recebeu, pelos “serviços prestados”, R$ 625 mil de empresas ligadas ao agronegócio, 80% de tudo o que ele arrecadou na campanha.

Entretanto, teve deputado que reclamou por que recebeu um valor “menor” do que o esperado. É o caso do deputado Alberto Fraga (PFL-DF), que recebeu R$ 282,5 mil das empresas de armamento Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). “Paguei um ônus tão grande por ser líder da bancada da bala, eu acho que muita gente se surpreendeu com a doação que eu tive. Eu mesmo esperava mais”, disse.

Um jogo viciado
A grande imprensa não cansa de repetir que o Congresso é a “casa do povo” e de que basta votar que a vida dos trabalhadores vai mudar. Uma grande mentira. As eleições é um jogo de cartas marcadas, totalmente controlado pela burguesia. O regime vive do engano. Os políticos burgueses nunca falam o que pensam, mas o que as massas querem ouvir (que lhes é dito por marqueteiros, pagos a peso de ouro).

Apenas aqueles que têm campanhas milionárias financiadas por grandes empresários conseguem se eleger. Não há nada de democrático nesse regime. Um partido operário, por exemplo, que se recusa a aceitar o financiamento da grande burguesia, tem as suas chances eleitorais extremamente reduzidas.

Uma vez no poder, os empresários que financiam as campanhas eleitorais cobram a fatura e formam as grandes bancadas e lobbies a favor de seus interesses. Assim se votam semanalmente leis contra os trabalhadores no Congresso. Esse é o mecanismo do jogo viciado da democracia dos ricos. Um jogo onde os trabalhadores sempre perdem.

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