Os marquetólogos do governo e do sistema financeiro andam batendo na tecla de que o “Brasil se descolou da Argentina”. De quebra, governo e também expoentes da direção do PT dizem que o Brasil não foi e não vai à insolvência porque aqui FHC desvalorizou o real em 1999, ao contrário da Argentina que manteve o câmbio fixo.
No Brasil, em 1999 o câmbio explodiu porque o país esteve à beira da insolvência, de não ter como pagar sua dívida externa e bancar a fuga de dólares e capitais do país. O FMI entrou com US$ 42 milhões em novos empréstimos.

Mas a suposta “estabilidade” brasileira e os “fundamentos sólidos” da economia têm pés de barro. A “calmaria” conjuntural prenuncia tempestades. O custo da “calmaria” conjuntural é um aumento só no ano de 2001 de 22% na dívida pública interna, mais de 50% desta é remunerada a juros de 19% e boa parte está atrelada à variação do dólar.

Esta dívida era de R$ 59,2 bilhões em 1994 e hoje está em R$ 624 bilhões ou 53% do PIB. Um aumento de 352%. Ou seja, hoje o Brasil “deve” R$ 3.675 por cabeça, por cada pessoa. O governo paga só da dívida interna mais de R$ 100 bilhões por ano de juros. Daí vem a “solidez” do sistema bancário privado nacional e estrangeiro, que no Brasil têm a maior lucratividade do planeta. A receita dos bancos com títulos do governo triplicou sob o governo FHC.

A trajetória e destino dessa ciranda é a insolvência. Chegará uma hora que por mais cortes no Orçamento que faça o governo não haverá dinheiro para pagar.
O governo tem “administrado” a instabilidade com recessão, aumento do desemprego, da exploração, com cortes orçamentários em investimentos e gastos sociais e aumento do endividamento. O trem Brasil segue pelo mesmo trilho da Argentina, teleguiado pelo FMI. Apenas encontra-se algumas estações atrás do vizinho do sul. Para tentar evitar uma crise até outubro de 2002, o governo vai continuar mostrando serviço para o FMI, jogando a crise nas costas dos trabalhadores.

Infelizmente, o PT não quer fazer marola. Lula declarou à revista Época que ao PT interessa calmaria. Traduzindo, o PT não quer grandes lutas dos trabalhadores e do povo.

Pior que isso, o PT não quer alertar o povo sobre a gravidade da crise que se avizinha e menos ainda propor o tratamento que ela precisa. Quer tratar pneumonia com as pirina e fazer de conta que o doente só tem um resfriado.
Mas não nos enganemos, o Brasil é a Argentina amanhã.

Post author Editorial do Opinião Socialista 127
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