“A gente não rouba, a gente não mata. Como vão matar um irmão trabalhando? Justiça!”, gritava, emocionado, o primo de Moïse Kabagambe, refugiado congolês brutalmente assassinato no dia 24 de janeiro último no Quiosque Tropicália, na orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele foi espancado até a morte por cinco homens, com murros, pontapés, golpes de madeira e taco de beisebol, após cobrar uma dívida trabalhista.
Moïse era negro, trabalhava como garçom, tinha apenas 24 anos e estava com sua família no Brasil desde 2014, na qualidade de refugiado político vindo da República Democrática do Congo (RDC). Seu assassinato escancara o racismo, a xenofobia e o desprezo à vida do trabalhador que assolam o Brasil, um país governado por um presidente que dá carta branca aos racistas e à extrema-direita.
Nos últimos anos, a xenofobia – preconceito ou ódio a pessoas estrangeiras, refugiadas e imigrantes – vem crescendo em nosso país, e ela é mais forte quando se trata de pessoas não brancas: negros, árabes e asiáticos.
Outros casos de xenofobia
Em julho do ano passado, o haitiano Djimy Cosmeus, 28 anos, foi agredido por três seguranças privados dentro da fábrica da Brasil Foods (BRF), na cidade de Chapecó (SC). Ele sofreu lesões, foi humilhado e constrangido em frente aos outros trabalhadores.
Em Cuiabá, capital de Mato Grosso, em abril do ano passado, um vídeo ganhou notoriedade na internet. Ao subir em um ônibus e ver dois haitianos, um homem começou os ataques xenófobos e racistas: “Desgraçado, haitiano filho da puta. Olha outro aí também haitiano irmão. Por isso, Hitler está certo”, disse numa alusão ao ditador alemão Adolf Hitler e o abominável extermínio nazista perpetrado por ele.
“No Brasil, com uma população de maioria negra, a xenofobia e o racismo andam juntos. O que fizeram com Moïse foi cruel. O povo brasileiro não pode banalizar essas ações de pessoas que enxergam a vida do negro sem valor. Isso tem levado a nossa comunidade a pensar muito, a nos preocupar. Mas é preciso irmos à luta, caso contrário, eles seguirão nos matando”, disse Fedo Bacourt, coordenador da União Social dos Imigrantes Haitianos (Usih).
Dividir para reinar
Ideologias a serviço da burguesia
A xenofobia e o racismo são ideologias usadas pela burguesia para dividir os trabalhadores, levar um setor a oprimir outro, jogar um setor da classe contra o outro, impedindo que a classe se una contra as opressões e a exploração, e enxergue o capitalismo como o principal inimigo.
Essas ideologias difundidas pela burguesia capitalista impõem a crença de que a vida dos imigrantes e refugiados vale menos. Por isso, são superexplorados, em regimes de trabalhos análogos à escravidão. São vistos como cidadãos de segunda classe, que podem ser mortos a pauladas, como ocorreu com Moïse, ou ser assassinados com tiros por uma dívida de R$ 100,00 de aluguel, como aconteceu no último dia 3 em Mauá (SP) com o venezuelano Marcelo Antonio Larez Gonzalez, de 21 anos.
“Temos que entender que o racismo, o machismo, a LGBTfobia e a xenofobia são reflexos de uma ideologia implementada pelo sistema capitalista de dominação e exploração”, pontua Elias Alfredo, militante do PSTU e ativista do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe no Rio de Janeiro.
“Não há uma perspectiva de mudança no marco do capitalismo e de suas instituições, mas através de nossa organização e mobilização dos de baixo contra os de cima. Precisamos tomar em nossas mãos a tarefa da construção de uma revolução, que vai destruir esse sistema opressor e explorador e construir uma sociedade socialista”, completa.
Nosso inimigo é a burguesia
Os imigrantes não são nossos inimigos
De acordo com dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), entre 2011 e 2020, um total de 58.835 cidadãos estrangeiros tiveram reconhecida sua situação de refugiados no Brasil, de 77 diferentes nacionalidades. Contudo, os não brancos são os que mais sofrem com a ausência de políticas públicas e com a falta de emprego, de documentos e de assistência médica.
Vivemos uma naturalização da violência contra pessoas negras em nosso país, incentivada por Bolsonaro, um racista nojento, e o seu canalha capitão do mato Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, que foi às redes sociais desferir ataques caluniosos a Moïse, um refugiado africano vítima do capitalismo e do racismo e que foi morto por gente do naipe de Sérgio Camargo.
“Eles pegaram uma linha (uma corda), colocaram o meu filho no chão, o puxaram com uma corda. Por quê? Por que ele era pretinho? Negro? Eles mataram o meu filho porque ele era negro, porque era africano”, disse Ivana Lay, mãe de Moïse, ao jornal O Globo.
Não podemos aceitar que Bolsonaro e a burguesia nos lance contra nossos irmãos trabalhadores de outras nacionalidades. Nossos inimigos são os burgueses, e não os imigrantes e refugiados. O PSTU defende o livre trânsito internacional dos trabalhadores, com direito à documentação, trabalho e assistência médica para todos os imigrantes e refugiados. Nenhum ser humano é ilegal!