Durante a campanha eleitoral, nós denunciamos incansavelmente a farsa eleitoral montada com a “disputa feroz” entre Lula e Alckmin.

A grande luta entre eles, dizíamos, era para ver quem se aproveitaria das verbas e cargos do Estado. Afirmávamos que não existia nenhuma diferença qualitativa entre os dois projetos, e que eles estariam juntos, depois das eleições, para aplicar um plano contrário aos interesses dos trabalhadores.

Lula venceu, apoiado no medo da maioria dos trabalhadores de que a direita (PSDB-PFL) voltasse ao poder. Mesmo antes do fim de 2006, os fatos comprovam o que dizíamos.

O amplo apoio do governo no Congresso
Em primeiro lugar, Lula fechou acordo com todo o PMDB para um governo de coalizão. Trata-se de uma inegável vitória do PT. Os peemedebistas, que estavam divididos durante as eleições, com uma significativa parte na oposição, agora estão unidos ao redor do governo. O presidente do PMDB, Michel Temer, é a expressão disso. Antes o deputado estava com Alckmin, mas agora resolveu ser prático e apóia Lula. Por trás do “governo de coalizão” está a entrega de três ministérios ao PMDB, com todas as verbas e cargos incluídos no pacote.

Não é demais lembrar que, depois de todos os escândalos de corrupção do primeiro mandato, Lula vai entregar esses ministérios ao PMDB. Este é o partido mais fisiológico e corrupto de todos, porque esteve em todos os governos desde a queda da ditadura até hoje, passando por Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique Cardoso e Lula. A coalizão com o PMDB é uma garantia absoluta da continuidade da corrupção.

Em segundo lugar, está valendo um acordo de trégua estabelecido pelo presidente com o PSDB, através de suas mais expressivas lideranças, os governadores eleitos de Minas Gerais (Aécio Neves) e de São Paulo (José Serra). Essa trégua tem o objetivo de possibilitar o apoio financeiro do governo federal a estes governos estaduais.
Lula conseguiu um amplo respaldo, maior até que o obtido após as eleições de 2002. Até o PDT está negociando apoio ao governo.

A identidade entre o governo e a oposição burguesa
Duas lições podem ser tiradas desses episódios. A primeira é a confirmação de que não existiam dois projetos contrapostos, o de Lula e o de Alckmin. Não fosse assim, seria impossível a atual trégua entre petistas e tucanos.

Da mesma forma, as duas alas do PMDB que agora se reconciliam expressam a identidade entre governo e oposição burguesa, assim como a cobiça de todos eles pelo controle das verbas.

Passada a eleição, esse amplo acordo entre governo e oposição já está se expressando no perdão a todos os sanguessugas envolvidos no escândalo. Como os parlamentares já não têm mais medo das eleições, podem fazer o que quiserem, até mesmo absolver um notório corrupto como Ney Suassuna.

A segunda lição
É preciso que os trabalhadores que seguem tendo esperanças no governo Lula acompanhem a montagem desse “governo de coalizão”, de maneira a se preparar para os ataques que vão sofrer.

Durante as eleições, dizíamos que quanto mais forte ficasse o governo, maior seria o ataque aos trabalhadores. Agora, assistindo à formação do “governo de coalizão”, podemos afirmar que um ataque muito duro está por vir.

Como tem grande apoio das instituições do regime, Lula virá para cima com as reformas neoliberais, como as da Previdência e a trabalhista. O governo terá maioria absoluta no Congresso para aprovar as reformas que quiser. Mais uma vez, os patrões estarão unidos contra os interesses dos trabalhadores.

É preciso dar o troco
É hora de preparar uma ação também unitária, mas dos trabalhadores. Por isso a Conlutas convocou no dia 29 de novembro uma reunião contra as reformas neoliberais, que contou com várias confederações e dezenas de sindicatos.

O encontro aprovou medidas para uma luta unificada contra a reforma da Previdência e a trabalhista, como um grande encontro nacional em 2007 e uma mobilização de massas. Neste momento, a campanha já não é somente patrimônio da Conlutas, mas de uma frente contra as reformas que está se ampliando pelo país.

Chamamos todos os sindicatos, entidades, movimentos sindicais, estudantis e populares a se unirem ao redor dessa frente, para articular uma grande luta de massas contra as reformas no ano que vem.

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