A chegada da marcha dos mineiros em Madri, no último dia 11, emocionou todos aqueles que acompanham as lutas dos trabalhadores da Europa contra os efeitos da crise econômica.

A “Marcha Negra”, como ficou conhecida, partiu no dia 22 de junho, das Astúrias, e foi recebida pela população de Madri com um apoio social impressionante. Milhares gritavam: “Madrid obrero apoya a los mineros” formando um rio de gente que entrou madrugada adentro pelas ruas da capital (leia reportagem ao lado). No dia seguinte, os mineiros realizaram uma nova marcha, que se dirigiu ao Ministério de Indústria e foi duramente reprimida pela polícia. Muitos mineiros foram presos e respondem a processos criminais.

Bastante golpeados pelo processo de desindustrialização promovido pelos sucessivos governos, o setor mineiro espanhol ainda conta com cerca de dez mil trabalhadores na área do carvão, além de mais vinte mil postos de trabalho indiretos. O setor é ainda importante na região das Astúrias, mas recentemente sofreu um duro golpe, quando o governo anunciou a redução dos subsídios para a indústria do carvão. Condenados ao desemprego, os mineiros laçaram mão de uma marcha que acabou comovendo todo um país cansado de ataques e planos de austeridade. Um país que não quer se converter em uma nova Grécia.

Novos cortes
Ao mesmo tempo em que reprimia os mineiros, o governo direitista de Rajoy (primeiro-ministro espanhol, do Partido Popular), lacaio da Troika (União Europeia, FMI e Banco Europeu), anunciou um novo e brutal plano de austeridade que prevê o corte de 65 bilhões de euros em dois anos, para salvar os bancos da UE. O novo pacote visa aumentar impostos indiretos, eliminar o subsídio de Natal e outras remunerações aos salários; cortes no seguro desemprego; aperto financeiro às Comunidades Autônomas e diminuição das contribuições previdenciárias da patronal.

Mas a resposta não tardou. Na semana seguinte à Marcha Negra, no último dia 19, protestos em mais de 80 cidades da Espanha levaram centenas de milhares às ruas para contestar os novos cortes anunciados pelo governo de Rajoy. Em Madri, mais de 100 mil pessoas participaram da marcha pelo Paseo del Prado, Calle de Alcalá, até chegar na simbólica Praça Puerta del Sol. Entre as categorias presentes estavam bombeiros, profissionais do canal de televisão Telemadrid, profissionais da saúde e da educação e até mesmo policiais. Os protestos ganharam o apoio de celebridades, como o craque do Barcelona, David Villa, que vem de uma família de mineiros, e do ator Javier Barden.

O pacote de austeridade de Rajoy coloca a Espanha numa espiral ao estilo grego. O país enfrenta uma forte recessão e os cortes produzirão ainda maiores retrocessos à economia. Como na Grécia, os planos de austeridade sequer reduzirão o déficit fiscal. Pelo contrário, a dívida vai aumentar ainda mais.

Os grandes bancos e o próprio BCE já disseram que não vão afrouxar os juros da dívida e que as novas medidas não são suficientes. O presidente do Banco Central alemão cobrou do governo espanhol para que peça a intervenção formal da UE, o que Portugal e Grécia já fizeram. Ou seja, para todos os parasitas do sistema financeiro e seus lacaios no mundo político, o servilismo de Rajoy não foi suficiente. Por isso, o governo já prepara outro ataque brutal: um corte selvagem nas pensões, no seguro desemprego e a redução das férias anuais.

Crise política
A crise econômica também produz uma grave crise política no país. O apoio popular aos mineiros também colocou em evidência a crise de popularidade do governo Rajoy. A crise se expressa até mesmo no interior de seu partido. Os novos ataques produzem enfrentamentos entre o governo central e os governos das autonomias que o PP dirige. Em pouco mais de seis meses de governo, a popularidade de Rajoy já foi erodida por protestos e muita resistência de vários setores da classe trabalhadora. A base social de pequenos e médios empresários e profissionais liberais, que deram apoio eleitoral ao PP, agora se vêm condenados à ruína.

Por outro lado, o Partido Socialista (PSOE) não é nenhuma alternativa à crise. Figuras de proa do partido, como Alfredo Pérez Rubalcaba, defendem uma política de “oposição responsável” e pedem a Rajoy um “pacto de unidade nacional” para aplicar as medidas impostas pela Troika. O resultado é que o PSOE está cada vez mais desacreditado diante dos trabalhadores. É sempre bom lembrar que a social-democracia é co-responsável pela atual situação, pois foi o partido que iniciou a implementação dos pacotes de austeridade no país sob o governo de Zapatero.

Dar um passo à frente
A Marcha Negra pode ter aberto uma situação política no país. Por isso, a resposta às brutais medidas do governo exige dar um passo adiante: manter viva a solidariedade com os mineiros e organizar uma próxima greve geral que permita responder aos ataques, unificando as mais distintas categorias (funcionalismo público, trabalhadores das fábricas, universidades e escolas, bairros) na luta contra o governo e Troika.

Por isso é preciso exigir de todos os sindicatos e, em primeiro lugar dos que têm maior responsabilidade, como a CC.OO (Comisiones Obreras) e a UGT, as duas principais centrais do país. Elas devem tomar a tarefa de organizar uma greve geral para derrotar Rajoy. Hoje, essas duas centrais mantêm uma política traidora de contemporização com o governo e o resultado é o isolamento das lutas em todo o país.

Por isso, como afirma em declaração a Corriente Roja (organização simpatizante da LIT-QI na Espanha), a greve geral não pode ser uma mera greve de protesto, sem continuidade. “Deve ser controlada democraticamente pela base, em assembleias gerais que decidam as reivindicações, a sua duração e o caminho da luta. Uma greve geral que inclua, entre suas exigências, as reivindicações mineiras; o fim na repressão policial; a retirada dos ataques aos funcionários públicos e aos desempregados e de todo o pacote de austeridade de Rajoy; a revogação da reforma trabalhista e das pensões; nem um euro para os bancos; a suspensão imediata do pagamento da dívida pública aos banqueiros e especuladores; fora ao governo Rajoy e a Troika!”.
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