A crise capitalista atinge com força a Espanha e questiona seu padrão de crescimento dos últimos 30 anos. Mais de 800 mil trabalhadores foram para a rua só nos primeiros três meses do ano. O desemprego no país superou quatro milhões de pessoa, ou 17,4% da população. Em apenas um ano, o total de desempregados duplicou e chegou a um índice semelhante aos dos países latino-americanos. Essa cifra catastrófica superou todas as previsões do governo.

O PIB na Espanha caiu 1,8%. Além disso, a previsão é de que o déficit público atinja 6,2% do PIB em 2009, enquanto o déficit exterior continuará sendo um dos maiores do mundo.

Governo Zapatero
A crise, porém, também anuncia um período de mudanças políticas no país. Em 2004, a coalizão do PSOE (partido socialista) liderada por José Luiz Zapatero venceu as eleições, canalizando o descontentamento com o governo direitista do PP. Desde então, Zapatero manteve o governo sem maiores problemas, apoiado, sobretudo, no ciclo de crescimento econômico, expresso no “boom” da construção civil, e no apoio das burocracias sindicais.

Isso, porém, já é parte do passado. Desemprego catastrófico, fechamentos de empresas, quebras de pequenos negócios, tudo isso começa a afetar o governo. A crise, a ajuda aos banqueiros e as tentativas de fazer passar os planos privatistas da União Europeia já começam a provocar descontentamento e desgastes até no regime monárquico imposto depois da transição da ditadura Franco. Recentemente, Zapatero amargou uma derrota eleitoral na Galícia. Dirigentes do governo temem ainda uma possível derrota nas próximas eleições europeias, no dia 7.

Outra dificuldade do presidente é o conflito que o governo enfrenta com as diferentes comunidades autônomas, especialmente com o povo basco e a Catalunha. O Estado espanhol é formado por diversas nacionalidades. Todas elas foram reprimidas pela ditadura franquista e continuam oprimidas pelo atual regime.

Enquanto a crise segue devastando empregos, aumentam as campanhas de perseguições e deportações contra os trabalhadores imigrantes. As ideias racistas e xenófobas são instrumentalizadas para fomentar a divisão entre os operários. Zapatero também promove um grande ataque ao ensino público com o chamado Plano Bolonha, projeto de privatização da educação universitária aplicado no conjunto da Europa.

Para estancar a crise, o governo tenta realizar algumas supostas “mudanças”. Recentemente, Zapatero realizou uma reforma ministerial e começou a falar em ampliar a seguridade social. No entanto, essas mudanças só atendem a um objetivo eleitoralista.

“De que proteção social falam? Enquanto os banqueiros enchiam os bolsos nestes anos, os trabalhadores foram perdendo direitos e mantendo seu nível de vida a base de hipotecar-se. Há mais de um milhão de lares onde ninguém tem trabalho nem recebe auxílio algum.”, questiona Antonio Rodríguez, do Comitê de Empresa do centro de Vallecas, em Madri, pelo Sindicato Cobas, candidato da lista Iniciativa Internacionalista.

Greves no País Basco
Até agora, o apoio das burocracias sindicais a Zapatero impediu grandes enfrentamentos de massa contra o governo. A existência de um governo apoiado pelas direções majoritárias do movimento operário explica por que o país europeu que mais sofre com a crise não vive uma situação de lutas generalizadas, como ocorre na vizinha França.

As burocracias sindicais – forçadas a fazer algo diante da crise – convocaram apenas algumas manifestações isoladas. Fragmentar as lutas e impedir que se articulem nacionalmente são as principais maneiras encontradas para proteger o governo. “O sindicato não convocará nenhuma greve para debilitar o governo central enquanto este seja o melhor aliado dos trabalhadores”, declarou ao jornal El País o dirigente da UGT Jose Antonio Cubillo.

Contudo, no dia 21 de maio foi realizada uma vitoriosa greve geral no sul do País Basco. Apesar do boicote por parte da CCOO e da UGT (principais centrais sindicais), os dados são eloquentes. Mais de 53% das empresas pararam completamente. Um terço do quadro de pessoal parou em 74% das empresas. Também ocorreram manifestações massivas nas capitais do sul do País Basco. Cerca de 15 mil pessoas protestaram em Bilbao, 10 mil em San Sebastián e Pamplona e mais de 8 mil em Vitória.

Em Vigo, no sul da Galícia, milhares de metalúrgicos também voltaram às ruas para reivindicar um convênio trabalhista e denunciar a violência policial.
Os trabalhadores saíram à luta para denunciar a crise capitalista e deixar claro que não estão dispostos a pagar por ela. Essas lutas podem indicar que a classe operária espanhola começa a construir sua própria saída para a crise.

Post author Da redação
Publication Date