Redação

A dura realidade do futebol brasileiro: escândalo o clube paulista e a MSI põe à mostra os efeitos do capitalismo nos esportesNos últimos dias, os brasileiros e, principalmente, os amantes do futebol estão testemunhando algo lamentável no cenário futebolístico do Brasil. A operação Perestroika da Polícia Federal já revelou, através de escutas telefônicas, casos graves de corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro entre os dirigentes de um dos clubes mais populares do Brasil, o Corinthians, e a parceira do clube desde 2002, a Media Sports Investment (MSI).

A investigação da PF descobriu que a lavagem de dinheiro provinha do pagamento de salários de jogadores em contas no exterior, além do fechamento de negócios com empresas prestadoras de serviços fantasmas. Também estão incluídas nesse esquema as viagens do presidente do clube alvinegro, Alberto Dualib, à sede da MSI, em Londres, objetivando se reunir com os sócios ocultos da parceria corintiana para trazer recursos de origem duvidosa para o clube. Nessas viagens, ele chegou a gastar, inclusive, o absurdo de R$ 500 milhões dos cofres do clube. Mas o pior ainda está por vir.

Desvendou-se também que o verdadeiro dono da MSI é o magnata Boris Berezovsky. Com uma fortuna estimada em cerca de US$ 10 bilhões, Berezovsky é acusado de lavagem de dinheiro público e até mesmo de assassinato na Rússia. Por isso, instalou-se em Londres para fugir das autoridades russas.

Como já era de se esperar, há indícios de que o governo brasileiro possa estar envolvido nesse escândalo de corrupção, tendo como principal personagem José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil, dirigente da quadrilha do “mensalão”). Dirceu é caracterizado como um lobista acusado, segundo relatórios da PF, de praticar “trafico de influência, advocacia administrativa e favorecimento pessoal”, tudo isso para que Boris Berezovsky conseguisse se instalar no Brasil na condição de asilado político, prometendo investir na aviação e em energia, além de liberá-lo das acusações da Justiça brasileira.

Para isso, Zé Dirceu contou com a colaboração de um grande aliado, Breno Altman, colaborador da Secretaria de Relações Internacionais do PT. Altman foi o responsável por manter contatos com Renato Duprat, representante da MSI no Brasil e principal elo entre a MSI e a direção do Corinthians. Porém isso é o de menos. Segundo relatórios da PF, Breno manteve ainda contatos com dois altos funcionários do gabinete presidencial: Gilberto Carvalho (chefe do Gabinete Pessoal da Presidência) e José Toffoli (da Advocacia Geral da União), justamente para discutirem sobre o asilo de Berezovsky.

Benefícios à cartolagem
Completando esse vergonhoso episódio, o governo Lula está para sancionar nos próximos dias a famigerada “Timemania”, uma loteria criada para sanar as dívidas tributárias dos clubes brasileiros, estimada em cerca de R$ 900 milhões. A Caixa Econômica Federal (CEF) estima que a arrecadação inicial da Timemania seja de R$ 500 milhões por ano. A Timemania será uma loteria semelhante à Mega Sena, mas, ao invés de números, o apostador terá os escudos dos clubes. Segundo a lei que cria essa loteria, 46% de sua arrecadação serão destinados à premiação e 25% aos clubes que aderirem à Timemania. O restante do recurso é distribuído para custeio e manutenção (20%), Fundo Penitenciário Nacional (3%), Seguridade Social (1%), Lei Agnelo Piva (2%) e, conforme requisição em emenda parlamentar, 3% vão para órgãos gestores de esporte (por exemplo, secretarias estaduais) nos 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal.

Do percentual destinado aos clubes (25%), os times da série A receberão 65%, os da série B, 25% e os da série C, 10%. Isso quer dizer, que o pagamento das dívidas dos clubes brasileiros com o governo usará descaradamente o dinheiro dos trabalhadores. Isso favorece unicamente a cartolagem, utilizando-se da paixão que os torcedores têm pelos seus clubes para pagar uma dívida criada por esses dirigentes corruptos e que enriquecem à custa dos clubes brasileiros.

Driblar os parasitas
Infelizmente, é essa a realidade do nosso futebol: corrupção, torcidas violentas, cartolagem, enfim a crescente mercantilização do esporte e a pressão das grandes empresas que patrocinam os clubes de futebol. Essas empresas abocanharam a economia brasileira na década de 90 através das privatizações. Com os clubes não foi diferente: a ISL dominou o Flamengo; o Bank of América controla o Vasco; a Nike manda na CBF.

“A regra é clara”: quem paga a banda escolhe a música. Hoje o que interessa a esses donos da bola é exclusivamente ganhar todos os jogos, nem que seja necessário comprar os olhos dos árbitros para engordar seus lucros.

Já os jogadores são adestrados unicamente para fazerem dinheiro e se projetarem como produto de exportação. A sede dos cartolas e dos patrocinadores é tanta que os jogadores são submetidos a treinamentos exaustivos devido à grande quantidade de campeonatos, podendo jogar até quatro partidas por semana. Não é por acaso que temos visto a morte de vários jogadores em campo.

Todos esses problemas estão relacionados à sustentação financeira dos clubes, dentro de uma lógica capitalista. Nos gramados não é diferente. Vale tudo para fazer frente aos concorrentes. O mundo futebolístico incorporou tanto a prática mercadológica do capital que a competição existente dentro do mercado passou para as rivalidades entre as torcidas de futebol, causando as mortes e a violência dentro dos estádios.

O investimento dos patrocinadores no futebol visa apenas o retorno lucrativo e não sua verdadeira finalidade, que é proporcionar aos trabalhadores um espetáculo de dribles, jogadas e “arte”.

É claro que o futebol às vezes serve para a alienação de muitos trabalhadores, mas só é assim porque a burguesia se apropria dele e o manipula para a dominação da classe trabalhadora e também como mais uma fonte para garantir seus lucros, algo que também ocorre em outros aspectos da vida social. Mas esse grande espetáculo que mobiliza milhões de trabalhadores em todo mundo não precisa de um punhado de parasitas para sobreviver.

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