Mikail, estudante russo, saúda o encontro
Jeferson Choma

[04/05/2006 – 13h] O ENE (Encontro Nacional de Estudantes) começou esta manhã em clima de euforia e concentração. Ônibus trazendo estudantes de todo o país estacionaram esta manhã em Sumaré, cidade próxima a São Paulo. Cerca de 550 estudantes foram até agora credenciados, mas ainda faltam delegações como a de Belém do Pará, que teve dificuldades para chegar. Após um café da manhã rápido, as delegações internacionais da Costa Rica, Equador, Rússia e Argentina saudaram os estudantes e foram recebidos com aplausos animados.

O movimento é grande e contrasta com lugar tranqüilo escolhido para o evento. As delegações do Rio de Janeiro passam abaixo-assinados: um contra o chamado “caveirão” – unidade especial da polícia carioca que é acusada de exterminar a população pobre nas favelas e periferias – e outro contra o corte de ponto dos grevistas da Faetec/RJ. Bancas de livros e jornais se espalham no lado de fora do auditório, enquanto militantes distribuem diferentes panfletos e manifestos.

O ânimo se explica pela situação mundial de importantes lutas da classe trabalhadora e dos estudantes contra os ataques do neoliberalismo. O painel de abertura do encontro, com a presença do sociólogo e editor da revista Marxismo Vivo, José Welmowick, de José Vitório Zago, do Andes, e de Durval Wanderbroock Junior, do DCE de Maringá (PR), abordou justamente a conjuntura política mundial e nacional, bem como sua relação com a educação. Foram citadas as lutas recentes contra o imperialismo, como a resistência iraquiana, as insurreições na América Latina (Equador, Bolívia, Argentina), as grandes mobilizações da juventude e dos trabalhadores franceses contra o CPE. “A união da classe operária, da juventude, camponeses e indígenas é a alternativa de luta que devemos construir, esse é o futuro”, declarou Welmowick.

Zago, por sua vez, abordou o processo gradual de privatização do ensino superior brasileiro, aprofundado principalmente durante o governo de FHC, sob a administração do então ministro da educação, Paulo Renato. Hoje, conta o professor, 80% das vagas no ensino superior são oferecidas em faculdades particulares.

O ProUni (Programa Universidade para Todos) e as PPPs (Parcerias Público Privadas) só vêm aprofundar esse cenário, acrescentou o professor. Além disso, o governo enviou o projeto de Lei Orgânica da Reforma Universitária para o Congresso. O golpe contra a educação pública é “lento e gradual”, sendo a aprovação da Reforma Universitária um ponto-chave desse mesmo golpe.

Em meio aos painéis, algumas entidades estudantis fizeram saudações rápidas aos participantes. “A UNE não nos representa mais e é preciso ter uma entidade que ajude a unificar as lutas dos estudantes. A Conlute precisa ser estruturada”, afirmou a representante da Executiva Nacional dos Estudantes de Letras.

Cerca de 100 entidades estão participando do ENE, que tem a proposta de ser um encontro amplo e de unidade na campanha contra a Reforma Universitária e na luta por mais verbas públicas para a educação. Esse é o ponto principal do encontro. Segundo Emiliano Soto, da Secretaria Nacional da Juventude do PSTU, a campanha vai se associar também à luta pelo não pagamento das dívidas externa e interna, que está diretamente relacionado à falta de verbas. Segundo Zago, cerca de 70% do orçamento anual da União é direcionado para o pagamento das dívidas.

Logo após o painel de abertura, as organizações e entidades estudantis vão apresentar suas propostas (teses) para o ENE. Um dos principais temas a serem debatidos no encontro será uma campanha nacional pela construção de uma entidade nacional dos estudantes. Atualmente, explica Emiliano Soto, a Conlute é uma “coordenação de entidades, mas é preciso dar um passo à frente, mobilizando para a criação de uma entidade estruturada, que seja a nova referência dos estudantes nas lutas”.

Na parte da tarde, irão acontecer grupos de discussão sobre temas diversos, como educação, Reforma Universitária, conjuntura, movimento estudantil e opressões (mulheres, negros, GLBT). Na plenária final, prevista para 18h, todos virão debater e votar as propostas resolutivas do ENE.