Estudantes chilenos vão às ruas exigir educação pública e gratuitaEstudantes secundaristas e universitários protagonizam no Chile a maior jornada de mobilizações desde o fim da ditadura militar, em 1989. Há pelo menos três meses, a juventude chilena vem se mobilizando, no que culminou em protestos massivos em junho, alguns deles duramente reprimidos pela polícia.

Os estudantes protestam contra o modelo de educação do país herdado da ditadura Pinochet: grande parte dos recursos é destinada à educação privada e, mesmo nas instituições públicas, são cobradas mensalidades. O resultado é uma educação excludente e que endivida os jovens que nem mesmo entraram no mercado de trabalho. O Chile foi pioneiro nas políticas neoliberais e privatistas, ficando conhecido como o “laboratório neoliberal” do mundo.

As marchas e manifestações se espalham pelas principais regiões do país. No dia 16 de junho, dezenas de milhares de estudantes marcharam em várias cidades. Já no dia 30, as manifestações reuniram um total de 100 mil jovens em Santiago e 500 mil estudantes, nacionalmente. Além da repressão policial, posta em prática pelos “carabineros” (policia local), o governo tenta de tudo para acabar com as mobilizações. O ministro da educação, Joaquin Lavín, chegou a adiar as férias de inverno para desmobilizar os estudantes. Em vão.
Já o presidente Sebastián Piñera anunciou um “Grande Acordo Nacional pela Educação”, que inclui um investimento de 4 bilhões de dólares para as dívidas dos estudantes. Tal proposta, porém, não toca nos problemas de fundo da educação chilena e foi rechaçada pelos alunos.

Radicalização
Além de uma educação pública e gratuita, os manifestantes reivindicam a democratização das escolas e universidades. As manifestações lembraram a ‘Revolução dos Pinguins’, a grande onda de mobilizações que sacudiu o Chile em 2006. Dessa vez, porém, ela reúne também, além dos universitários, professores e funcionários.

Outra característica dos protestos é a sua radicalização. “Já são mais de 700 os colégios ou liceus tomados em todo o país, e dezenas de universidades públicas ocupadas ou em greves indefinidas”, registra nota do PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores), seção chilena da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores). “Acostumados a lutarem por migalhas, a nova geração de jovens luta por ideais máximos, pondo em discussão o modelo de sociedade que rege o capitalismo”, completa a nota.

A mobilização conta até com greve de fome. Um estudante de engenharia mecânica da Universidad Técnica Federico Santa Maria, Exequiel Medica, iniciou o protesto para pressionar o governo Piñera.

Beijaço pela educação
Nesse dia 6 de julho os estudantes deram um toque de Maio de 68 aos protestos. Como forma de burlar a proibição de manifestações perto de prédios públicos, como no Palácio de La Moneda, os estudantes promoveram um “beijaço” em defesa da educação que reuniu milhares de pessoas, inclusive casais homossexuais.
Enquanto fechávamos essa edição, os estudantes preparavam para o próximo dia 14, que prometia ser a maior manifestação dos últimos 30 anos no país. Nas bandeiras, além da luta pela educação, o “fora Joaquin Lavín”.

ANEL apoia estudantes
A ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre!) divulgou nota em apoio aos estudantes chilenos. Clara Saraiva, da Comissão Executiva Nacional da entidade, está acompanhando, no Chile, esse processo, levando a solidariedade ativa dos estudantes brasileiros. “A ANEL apoia integralmente a juventude chilena e está entrando em contato com ativistas do país, para acompanharmos cada vez mais de perto esse processo tão justo e importante para a luta da Educação no Brasil e em toda a América Latina”, diz a nota.
Post author da redação
Publication Date