O primeiro semestre do ano foi marcado por uma retomada importante das greves e mobilizações, na sua maioria por reivindicações econômicas, em diversos segmentos do movimento sindical brasileiro.

Os trabalhadores da construção civil, em particular das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), protagonizaram verdadeiras rebeliões contra as condições de trabalho impostas, enfrentando-se com os patrões, governos, a PM e a burocracia sindical, nas usinas de Jirau e Santo Antônio, em Suape (PE), Pecém (CE), no Mato Grosso do Sul e em refinarias da Petrobras.

Foram seguidos pelos trabalhadores da construção civil de vários estados, que também foram à greve, com destaque para os operários de Fortaleza (CE).
Os metalúrgicos, em particular das montadoras de automóveis, realizaram mobilizações e greves como há anos não víamos.
Foram enfrentamentos duros, mas, em vários deles, os trabalhadores alcançaram vitórias econômicas importantes.

Já os servidores públicos das três esferas (municipal, estadual e federal) também realizaram – e seguem realizando – greves longas, com enfrentamentos também duríssimos com os governos e poderes públicos.

Um destaque importante cabe aos trabalhadores em educação, que se mobilizaram em 18 estados do país, na luta pelo piso da categoria, por melhores condições de trabalho e em defesa dos planos de carreira.

O aumento dos preços dos alimentos e das tarifas púbicas fomentou um processo de indignação entre os trabalhadores, com reflexos também nos movimentos populares e estudantis.

A retomada da inflação, combinada com o aumento da exploração no trabalho e os altíssimos lucros obtidos pelos empresários potencializaram as lutas salariais.
A CSP-Conlutas buscou unificar essas lutas, com diversas iniciativas, da própria Central e do espaço de unidade que estamos construindo com outras organizações. Foram atos unificados de categorias e movimentos sociais de diversos estados, um dia de mobilização nacional em 28 de abril, caravanas e mobilizações do funcionalismo federal em Brasília (DF), lutas do movimento estudantil e movimentos populares urbanos e rurais.

No segundo semestre não será diferente
E com um elemento a mais: o aumento do nível de endividamento das famílias (leia na página 8 e 9).

Algumas das principais categorias já se preparam para as suas campanhas salariais, dentre elas os metalúrgicos dos estados de Minas Gerais e São Paulo; trabalhadores da Petrobras, dos correios, em processamento de dados, bancários e eletricitários, dentre outras. Setembro e outubro concentram a maioria das datas de reajuste salarial.

A permanência do ambiente econômico atual, com os altíssimos lucros das empresas, alta nos preços e necessidade de recuperação do poder de compra dos salários, deve empurrar os trabalhadores à luta.

A CSP-Conlutas pode e deve cumprir novamente, um papel importante no processo de aglutinação das categorias, organização das campanhas e unificação dos trabalhadores.
A partir da reivindicação salarial, podemos articular as ações dos nossos sindicatos filiados e fazer um amplo chamado à unidade de ação para lutar, construindo campanhas com eixos políticos, que questionem a política econômica do governo, responsável pela volta da inflação, pelo arrocho salarial, que favorece os banqueiros e grandes empresários, ataca os serviços públicos e prejudica a população pobre.

Reivindicações
Para a situação melhorar de fato precisamos derrotar essa política econômica. Precisamos aplicar os recursos disponíveis no país (desviados para o pagamento dos juros da dívida pública aos banqueiros) para melhorar o emprego, saúde, educação, transporte e moradia.

A redução da jornada de trabalho é um tema sentido e reivindicado pelos trabalhadores, em particular entre os operários.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) está investindo nessas luta e já fechou acordos com redução da jornada de algumas empresas, de 44 horas para 40 horas semanais.

Outro tema importante é a organização no local de trabalho, com o direito a eleição de delegados sindicais. Muitas vezes, os sindicatos não dão a atenção devida a esse tema e, mesmo fazendo um sindicalismo de luta, só organizam o trabalhador da porta da empresa para fora.

O nó da questão é que é dentro das empresas, das fábricas em particular, que os trabalhadores sofrem diretamente com o ritmo alucinante do trabalho, o assédio moral das chefias, com o adoecimento e acidentes de trabalho.
Por isso, ganha peso nas campanhas salariais que as pautas discutidas com os trabalhadores agreguem essa reivindicação, prevista na Constituição brasileira, mas até hoje não regulamentada pelo Congresso Nacional.

E exemplos não faltam de que é possível conquistar o representante no local de trabalho. Os mais conhecidos são os do funcionalismo público. Mas também entre sindicatos que organizam trabalhadores da iniciativa privada, temos bons exemplos. O Sindeess de Belo Horizonte (MG), que organiza trabalhadores da saúde privada e o Sindiflora da Bahia, que organiza o pessoal do reflorestamento, ambos filiados à CSP-Conlutas, tem em suas convenções e acordos coletivos o direito de eleger os delegados sindicais, com fiscalização e controle do próprio sindicato.

Outro tema importante, que precisa estar na pauta, são as reivindicações que garantam direito à creche para os filhos de trabalhadores e trabalhadoras, direitos iguais para todos, sejam mulheres, negros, homossexuais e outros setores discriminados.

Jornada
A CSP-Conlutas está convocando, junto com outras entidades, uma jornada de mobilização de 17 a 26 de agosto, com manifestações nos estados e uma caravana a Brasília, em 24 de agosto. Estão nessa também a CNESF, COBAP, ANEL, Condsef, MTL, MTST, MST, UST, Intersindical e diversas outras entidades.

Queremos fazer convergir os planos de luta para manifestações e paralisações nesse período, buscando aglutinar forças e questionar os patrões e os governos.
Os metalúrgicos de Minas organizados na Federação Sindical e Democrática definiram o dia 18 de agosto como um dia estadual de mobilização. A CSP-Conlutas estadual abraçou a data e realizará uma grande manifestação em BH, junto com os movimentos populares e ocupações urbanas, servidores públicos e estudantes. O exemplo deve ser seguido nos demais estados.
Post author Sebastião Carlos, o “Cacau”, é membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas
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