Paralelamente à viagem de Bush pela América Latina, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, organizou o seu próprio roteiro em contraponto à agenda do presidente norte-americano. No dia 9 de março, Chávez realizou um protesto contra Bush na Argentina, que reuniu 25 mil pessoas. Quando fechávamos essa edição, estava programada uma outra manifestação anti-Bush na Bolívia, que reuniria Chávez e Evo Morales.

À primeira vista, fica clara a diferença de postura entre Chávez e Lula diante do presidente dos EUA. Para milhões de ativistas fica a impressão de que Chávez enfrenta o imperialismo enquanto Lula o trata com serventia.

Existem dois blocos entre os governos ditos de “centro esquerda” na América Latina. O primeiro é liderado por Lula, com Bachelet (Chile) e Tabaré Vásquez (Uruguai), que está alinhado diretamente com o imperialismo.
O outro bloco surge mais à esquerda, sendo liderado por Chávez e inclui Morales e Rafael Correia (Equador).

Os governos deste último bloco surgiram após grandes mobilizações revolucionárias que impediram golpes e derrubaram presidentes, portanto, lidam com um nível mais radicalizado de lutas e da consciência das massas em seus países (uma conjuntura que explica as nacionalizações).

Por outro lado, os governos do bloco liderado por Lula surgiram antes do ascenso do movimento de massas e seu objetivo é esterilizar qualquer conflito social e neutralizar o antagonismo de classe.

Embora existam diferenças na postura em relação a Bush, nenhum desses novos governos “de esquerda” propõe alguma ruptura com o imperialismo. Buscam apenas negociar seus interesses e melhores condições. Quer dizer, apesar da crise que o imperialismo vive, esses governos nem sonham em romper com Washington. Nem mesmo os governos de Chávez e Evo Morales, romperam com o pagamento da dívida externa. Ao contrário, entre os países do continente, a Venezuela é um dos maiores pagadores da dívida. As nacionalizações conduzidas por Chávez e Evo possuem um caráter limitado e não expropriam as multinacionais. Servem para que esses governos negociem melhores preços para o petróleo e o gás com as multinacionais, mas não apontam nenhuma ruptura com o imperialismo ou com os planos neoliberais. Basta ver que as multinacionais seguem tendo lucros altíssimos nesses países e, por isso, nenhuma delas abandonou a Venezuela ou a Bolívia.

Nem Lula nem Chávez representam alguma opção de ruptura com o imperialismo. Essa alternativa só poderá ser alcançada com a mobilização independente dos trabalhadores em relação a esses governos.
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