Governo tenta culpar motorista. Acidente mostra caos no transporte do Rio de Janeiro e a ameaça de privatizaçãoO acidente com o bondinho em Santa Teresa no último sábado, que levou cinco pessoas à morte e deixou mais de cinquenta feridos, causou na população um misto de tristeza e indignação. Tristeza pelas vidas perdidas e indignação por saber que tudo isso poderia ter sido evitado. Não apenas esse último acidente, mas também as mortes da professora Andrea de Jesus (2009) e do turista Charles Damien (2011).

Os bondinhos, que foram tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 1988, são os últimos meios de transporte que se mantiveram estatais. O governo do estado é o responsável pela administração e manutenção do bonde, que cumpre um papel fundamental no bairro, transportando a população ao centro da cidade por um preço acessível (R$ 0,60), além de ser um cartão postal e ponto turístico da cidade. Entretanto, não fosse a constante pressão da comunidade, os bondes já teriam sido privatizados ou extintos.

O projeto de privatização dos bondes de Santa Teresa reproduz o processo de privatização das empresas públicas, como a Vale, a CSN, as companhias telefônicas, de luz etc. Para convencer a opinião pública, antes de privatizar precisa sucatear. A diferença é que desta vez, o sucateamento que prepara a privatização trouxe mortos e feridos.

Mas a luta dos moradores de Santa Teresa não para por aí. Quem vive no bairro sabe do péssimo estado de conservação dos bondes. Pequenos acidentes, paradas para ajeitar o cabo elétrico e recolhimento de carros eram problemas constantes. Apenas três bondes, entre os catorze existentes, circulavam no bairro. Entendendo todos esses problemas como reflexo de um grave descaso do governo, a comunidade vem fazendo denúncias, apresentando propostas e reivindicando soluções. A mobilização da comunidade chegou a movimentar a Câmara dos Vereadores, o Ministério Público Estadual e o CREA, que produziram diversos tipos de documentos comprovando a grave situação dos bondes e determinando providências urgentes.

Nada disso foi suficiente. O secretário de Transportes, Júlio Lopes, seguiu ignorando denúncias e determinações judiciais. Os acidentes fatais ocorridos em 2009 e 2011 tampouco tiveram como consequência uma atuação mais responsável do governo. Hoje, a consequencia de tantos desacertos está no sofrimento dos familiares de João, Ivone, Claudia, Maria Eduarda e do motorneiro Nelson.

As declarações que o secretário de Transportes, Júlio Lopes, fez à imprensa após o acidente causou revolta entre os moradores do bairro e a população em geral. O secretário vem afirmando que a responsabilidade pelo acidente foi do motorneiro, que conduziu o mesmo carro duas horas antes e, após um pequeno acidente com um ônibus, não teria recolhido o bonde para manutenção.

Além de precipitado (não há relação conhecida entre os dois acidentes), o secretário foi covarde. Não assumiu a responsabilidade que o cargo lhe confere, não reconheceu as inúmeras denúncias que já havia recebido e culpou um… morto! Simples, não?

O caos no transporte público do Rio de Janeiro
O bonde é um capítulo a mais dos problemas de transporte por que passa o estado do Rio de Janeiro. São frequentes os acidentes nos sistema de trens, barcas e metrô, todos privatizados e administrados pela SuperVia, Barcas S/A e Metrô Rio, respectivamente. Os usuários dos trens e metrôs passam diariamente por verdadeiras humilhações, ao ter se enfiar entre as pessoas para garantir um espaço nos vagões superlotados. Nas barcas, a indignação levou os usuários à revolta, que arrancaram cadeiras e a jogaram ao mar, reprimida pela Polícia Militar.

O autoritarismo do governo Sergio Cabral
Os números demonstram a falta de responsabilidade do governo com os bondinhos. Segundo informa o jornal O Globo, dos R$ 1,8 milhão que seriam gastos com a revitalização e modernização dos bondes em 2007 e 2008, apenas R$ 133 mil foram empenhados (reservados), representando 7% do total da verba.

Mas o problema não é apenas a diminuição de verbas, mas também a forma como essas verbas são aplicadas. Enquanto a comunidade reivindica a revitalização do sistema, incluindo a reforma dos 11 carros parados, o governo do estado insiste em gastar milhões na substituição dos bondes por VLT´s (veículos leves sobre trilhos). Segundo a AMAST, esses veículos não são adequados às vias do bairro, e o acidente que matou a professora Andréa foi mais uma das vezes em que o sistema de freios desse VLT não foi suficiente para a ladeira em que o carro se encontrava.

Como o (pouco) dinheiro destinado aos bondes tem sido utilizado praticamente para a “modernização”, reparos básicos como dos gradis de proteção ao longo dos Arcos da Lapa não foram feitos. Resultado: o francês Charles se desequilibrou do bonde, passou pelo buraco aberto na tela e caiu do alto dos arcos, morrendo na hora.

Se o governo chefiado por Sergio Cabral e a pasta comandada por Júlio Lopes não fossem tão autoritários e autossuficientes, se ouvissem a população usuária do meio de transporte, e se outros interesses privatistas não estivessem presentes, poderiam ter evitado as cinco mortes de sábado. O problema é que o governador Sérgio Cabral tem lado: não governa para o interesse dos trabalhadores, e sim dos empreiteiros, dos donos das empresas de ônibus. Por isso mandou prender os bombeiros, jogou bombas nos professores, atacou com spray de pimenta crianças de 4 anos de idade no Morro do Bumba que cobravam a moradia prometida, prendeu ativistas que protestavam contra a entrega do petróleo brasileiro para os EUA durante a visita de Obama, mandando-os para presídios cariocas. O PSTU não tem dúvida de que no tema do transporte Sérgio Cabral também está ao lado dos donos das empresas de ônibus e de todos aqueles que têm interesse em privatizar o bonde. Exigimos a demissão iimediata do secretário de transporte do estado e afirmamos categoricamente que o culpado pela tragédia não foi o motorneiro Nelson. Para nós, o culpado pelas mortes e sucateamento dos bondes e do transporte público é o governador Sergio Cabral e o seu secretário de transportes, Júlio Lopes.

. Solidariedade às vítimas e feridos do acidente
. Indenização para todas as vítimas e seus familiares já
. Fora Júlio Lopes, secretário de Transportes do estado
. Revitalização com verbas públicas de todo o sistema, incluindo os bondes que estão parados na garagem, sob controle dos usuários e da associação de moradores
. Não à privatização dos bondes
. Cadeia e confisco dos bens de todos envolvidos no desvio das verbas
. O bonde é dos moradores e da população!!!