As grandes escolas de samba, sobretudo no Rio e em São Paulo, têm “enfeiado” o Carnaval. Apesar do esforço das comunidades e trabalhadores que se dedicam o ano inteiro e fazem um desfile deslumbrante, as agremiações estão cada vez mais voltadas ao mercado, adaptando seus enredos e alegorias ao gosto de grandes empresas e governos. Como a Mangueira, que esqueceu o aniversário de Cartola em troca do patrocínio da prefeitura do Recife.

Entretanto, o povo continua rindo, brincando, dançando e cantando nesses quatro dias em que a vida dá uma folga para a dureza do dia-a-dia. E, cada um a sua maneira, vai-se fazendo o carnaval nas ruas de todo o Brasil.

Além da Sapucaí
O Carnaval mais tradicional do país acontece no Rio de Janeiro. A Marquês de Sapucaí, onde desfilam domingo e segunda as escolas de samba do Grupo Especial, segue sendo a grande atração, com transmissão pela TV para todo o mundo. Ingressos caros afastam a população mais pobre, que aglomera-se nos piores setores da arquibancada. Ou, então, como ocorreu neste ano, enchendo as arquibancadas nos dias de ensaio, quando a entrada é gratuita.

Mas, para quem pensa que só de Sapucaí vivem os cariocas, é bom saber que a maior concentração de foliões está hoje nos blocos e bandas de rua, que vivem uma fantástica recuperação de uns anos para cá.

Alguns blocos já estão na rua há décadas, como o Cordão do Bola Preta, que desfila pelo centro desde 1918 ao som de velhas marchinhas, e o Cacique de Ramos, do bairro que hospeda o piscinão. O Cordão do Boitatá é um dos mais novos, mas já é dos mais procurados pelas ruas do Centro do Rio. A folia, com marchinhas antigas e fantasias, começa às 8h, dá uma paradinha por volta do meio-dia e se transforma num baile que sem hora para acabar.

Outros blocos surgiram de um fenômeno dos últimos anos: a formação de vários pequenos blocos, como o Zôobloco, em que os foliões desfilam fantasiados de bichos e cantando músicas relacionadas a animais. A trilha sonora de A Arca de Noé é cantada quase toda, de memória.

A procura é tão grande que alguns dos maiores blocos, como o Suvaco de Cristo e o Sal da Terra, estão escondendo os horários ou divulgando e datas erradas para tentar despistar o público e evitar que a lotação prejudique a brincadeira. O Cordão do Boitatá tem uma história curiosa. Há alguns anos, o Boitatá divulgou o dia errado em que desfilaria no sábado para “despistar” a multidão. Os foliões enganados que apareceram na concentração, se revoltaram e fundaram um novo bloco: o Cordão do Boitolo.

Protestos alegres
O Carnaval também pode ser um bom momento para protestar. Pelo menos é assim que o Acorda Peão, em São José dos Campos (SP) chega aos seus 10 anos. Com enredos politizados que denunciam políticos e a bandalheira de nosso país, é um dos blocos mais conhecidos famosos da cidade e o mais animado.

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Em Brasília (DF), o Pacotão também não deixa barato. Fundado por jornalistas durante a ditadura militar, o bloco completa 31 anos com letras de crítica à política nacional e, principalmente, os políticos. Este ano, o enredo é pra lá de adequado: Eles estão metendo a mão. Para reforçar o protesto, o bloco desfila na contramão.

Em Recife (PE), o Simpere, sindicato dos professores, botou um bloco na rua também. O enredo é Nossos alunos não estudam na Mangueira é uma referência ao patrocínio que a prefeitura da cidade deu à escola carioca para que ela divulgasse os 100 anos do frevo. A crítica dos educadores vai desde a falta de verbas para a educação até a falta de patrocínio para os blocos da própria cidade.

Em Olinda (PE), já é tradição desde o fim da ditadura militar a concentração de barracas de partidos no centro da cidade, atrás do colégio São Bento. A música toca num palco armado pela prefeitura e o local é ponto de encontro de militantes, ativistas e da população em geral. O PSTU estará presente, como faz todos os anos.

Agora, é cada um botar o seu bloco na rua, procurar o seu baile e se divertir até terça-feira. E repor as energias para a batalha do resto do ano.