Detalhe do ato contra o banditismo sindical
Sergio Koei

O salão Mário Scholz da Câmara Municipal de São José dos Campos (SP) ficou pequeno para o ato público convocado pela Conlutas contra o banditismo sindical e a criminalização dos movimentos sociais. O ato, realizado no dia 20 de agosto, contou com cerca de 300 ativistas de várias regiões do país, representando 58 entidades do movimento sindical e popular.

Além das entidades presentes, o ato contou com a solidariedade de personalidades como o bispo D. Cappio, a presidente do PSOL, Heloísa Helena e Hélio Bicudo, da Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos.

A manifestação faz parte da campanha de denúncia contra a invasão à sede da Conlutas do Vale do Paraíba no dia 1º de agosto. Na ocasião, cerca de 30 homens armados invadiram e depredaram a sede da Conlutas, no exato momento em que ocorria uma assembléia de operários da Revap (refinaria da Petrobras em São José) para fundar uma associação independente do sindicato da CUT. Os invasores deram cinco disparos, sendo que deles atingiu o braço de um trabalhador. Ao fugirem, levaram apenas os documentos da associação, comprovando a intenção de impedir a livre organização dos trabalhadores.

O ato teve início com um vídeo mostrando a destruição provocada pelo atentado à sede da Conlutas. Logo após, a mesa do evento, coordenada por Mancha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e Cabral, do Sindicato dos Trabalhadores Químicos, leram a resposta da Conlutas à mensagem enviada pela CUT à Coordenação. Nela, a CUT afirma “desconhecer” o ocorrido, acusa a Conlutas de “leviandade” e argumenta ainda que não lança mão de tais métodos no movimento, mas tão somente “convencimento políticos”.

Na resposta, a Conlutas reafirma que o atentado servia apenas à Petrobras, às empreiteiras envolvidas nas obras da refinaria, e à própria CUT, cujo sindicato é amplamente repudiado entre os operários da Construção Civil da região. A resposta também relembra um episódio ocorrido em 1997, quando a Articulação Sindical, atual direção esgamadora da CUT, liderou uma invasão de homens armados à sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Ou seja, esse método não é novo.

Criminalização dos movimentos sociais
Longe de ser apenas um caso isolado, o brutal ataque à Conlutas faz parte de um processo generalizado de criminalização e repressão à organização dos trabalhadores, em todos os setores.

José Vitório Zago, diretor do Andes, denunciou a tentativa do governo de acabar com o sindicato dos docentes, um dos mais combativos do movimento sindical do país. Recentemente, o Ministério do Trabalho cassou o registro da entidade, contra uma decisão da própria Justiça. “Isso ocorre pela postura combativa do Andes que, em 2003, foi a primeira entidade a organizar os trabalhadores contra a reforma da Previdência”, afirma o diretor, que relembrou ainda a ruptura com a CUT dois anos depois e o ingresso da entidade à Conlutas.

Os trabalhadores dos Correios também sofreram truculência na última greve da categoria. “Nunca haviam cortado nossos vale-alimentação durante as greves, nem durante o governo Collor ou FHC, mas o governo Lula cortou”, denunciou Geraldinho, diretor da Federação dos Trabalhadores dos Correios pela oposição.

“Existe hoje um processo de ataques sistemáticos contra os trabalhadores”, afirmou também Guilherme Boulos, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). O movimento sofre hoje com cinco interditos proibitórios impedindo qualquer manifestação do movimento nas prefeituras de diferentes cidades. “Se nos tirarem o direito de lutar, não poderemos lutar por nenhum outro direito”, disse. “O que se está sendo criminalizado não é só a organização dos trabalhadores, mas a própria pobreza”, denunciou Janira Rocha, do MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade). Ela citou a ação do “caveirão” no Rio de Janeiro, o veículo blindado da PM que invade as comunidades pobres espalhando o terror.

Lutar contra a criminalização
Se é unânime a constatação de que a repressão aos movimentos sociais se generaliza, também é unânime a compreensão da necessidade de passar à ofensiva. “A melhor forma de se responder a esse ataque é avançar naquilo que querem impedir, ou seja, na organização dos trabalhadores”, afirmou Ana Paulo, representante da Intersindical. Já José Maria de Almeida, o Zé Maria, comparou o atual momento à ofensiva da ditadura Vargas contra o sindicalismo independente. “Ao entrarmos com tudo em nossa campanha salarial, temos que defender também o nosso direito à livre organização”, completou.

O operário da Revap, Nilson Gomes, o Barba, presente no momento do atentado, descreveu o histórico da heróica greve da categoria, que passou por cima do sindicato da CUT e terminou vitoriosa. Os ataques são para tentar nos calar, mas aqui tem trabalhador, tem lutador, e não é assim que vão nos calar!”, disse, sendo aplaudido.

Ao final os ativistas aprovaram por aclamação um manifesto contra o banditismo sindical e a criminalização dos movimento sociais, assim como a preparação de um Seminário Nacional contra a Criminalização dos Movimentos Sociais.