Mobilizações se alastraram por quase todas as províncias
Arquivo FOS/AR

No dia 4 de abril, o professor de Química Carlos Fuentealba foi covardemente morto na província de Neuquén, na Argentina. Ele foi atingido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo lançada por um policial a menos de dois metros de distância. Fuentealba ainda agonizou antes de morrer. Levado ao hospital, foi mantido em vida artificial e faleceu no dia seguinte.

No momento em que foi atingido, Fuentealba participava, com mais mil pessoas, de uma tentativa de trancamento de uma estrada. Os docentes argentinos estão em estado de mobilização permanente por aumento de salários, incompatíveis com a inflação do país que, nos últimos dois anos, chegou a quase 25%. Acordos feitos entre o governo e a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) levaram a categoria a uma situação de arrocho insustentável.

O movimento já havia sido reprimido de forma selvagem, recentemente, pelo menos duas vezes, com bombas de gás e balas de borracha. Além disso, o governo enviou a Gendarmería – uma espécie de polícia fronteiriça militarizada – para militarizar as escolas na província de Santa Cruz, que junto com Neuquén e Salta constituem os principais pontos das mobilizações.

Os ativistas argentinos responsabilizam, também, o presidente Néstor Kirchner pela situação. “O presidente é tão responsável quanto o governador, com escolas que estão militarizadas”, disse Marcelo Guagliardo, da Associação de Trabalhadores da Educação de Neuquén (Aten). O movimento exige o fim da repressão em todos os níveis e o fim das prisões políticas que já chegam a 5.000 em dois anos.

Morte de professor catalisou a luta nacional
A morte do professor Carlos Fuentealba teve repercussão nos principais jornais do mundo. O mais importante, porém, foi que desencadeou um conjunto de mobilizações pelo país. Os professores convocaram uma greve nacional docente para a segunda-feira, 9 de abril. Em Neuquén, 30 mil pessoas foram às ruas pedir a punição dos responsáveis pelo crime e exigir a renúncia do governador Jorge Sobisch, pré-candidato à presidência nas eleições de outubro próximo.

Foi o maior protesto desde o início do governo Kirchner. As escolas ficaram vazias, e alunos e pais aderiram à manifestação, inclusive em escolas particulares. Segundo o jornal La Nación, a adesão chegou aos 70% nas escolas. Nas ruas, comerciantes fecharam as portas e colaram cartazes de apoio às marchas.

“O giz não mancha de sangue”, repetiam os manifestantes, demonstrando que não estão dispostos a se entregar. Aos professores, juntaram-se trabalhadores fabris e do setor de transportes. Os protestos se espalharam por quase todas as províncias.

Em Buenos Aires, foram mais de 20 mil ativistas. Em Salta, os manifestantes ocuparam o palácio do governo. O jornal La República afirmou que a Argentina esteve “semi-paralisada” em função da greve.

Momentos após a mobilização contra a morte de Fuentealba, Kirchner informou, através do ministro do Interior Aníbal Fernádez, que enviará mais gendarmes à Neuquén se Sobisch solicitar. Demagogicamente, Kirchner e Fernández se pronunciaram contra a repressão, mas mantiveram-se calados até presenciarem os protestos.

A Frente Obrera Socialista (FOS), seção Argentina da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), está participando ativamente das mobilizações agentinas. A FOS distribuiu um panfleto que, além de repudiar e exigir a punição dos responsáveis pela morte de Fuentealba, chama à construção de um encontro nacional que defina um plano de lutas e assembléias em todos os locais de trabalho.

“Se este crime fica impune e se limitam a sancionar um policial somente, a mensagem será que trabalhador que luta por salário estará ameaçado de morte”, diz o manifesto.

A FOS também responsabiliza os próprios dirigentes sindicais da categoria que, apesar de convocarem a greve nacional do dia 9, “abandonaram as províncias em luta”. Segundo o texto, o Hugo Yasky, secretário da CTA, fez um acordo com o governo nacional para colocar limites nas reivindicações salariais dos educadores, o que o levou a trair seus representados.