Com a frase acima, Pedro* resume a realidade que enfrentou nos últimos meses para conseguir pagar suas dívidas. “Tive uma vida miserável, por isso digo que apenas sobrevivi nestes anos, enquanto o banco consumia metade do meu salário”, diz.
Operário de Curitiba, com qualificação profissional acima da média, Pedro hoje trabalha numa fábrica pequena que produz peças para automóveis. No entanto, pouco antes tinha conhecido o drama do desemprego.
“Fiquei desempregado, vivi do seguro desemprego por quatro meses, mas fiquei seis meses sem emprego. Com isso todas as dívidas que tinha em lojas não puderam ser pagas, também acumulei dívidas com aluguéis. Em desespero, fui obrigado a emprestar dinheiro no banco”, relata.

Pedro conta como foi extorquido pelos bancos. “Minha dívida que era de aproximadamente 12 mil reais, em alguns anos, passará dos 30 mil reais quando terminar de pagá-la no final deste ano”, diz.
A realidade de Pedro é parte do alto índice de endividamento enfrentado pelas famílias curitibanas. Pouco mais de 27% da renda mensal das famílias curitibanas está comprometida com as dívidas, a maioria delas com os bancos. No caso de Pedro, atualmente, cerca de metade da sua renda mensal está comprometida com o pagamento das dívidas junto ao banco.

O endividamento foi um dos elementos que influenciou na disposição de luta que marcou as inúmeras greves metalúrgicas que ocorreram nos últimos meses na capital paranaense. Na Volks, foram 37 dias de greve, o que resultou numa importante vitória a favor dos trabalhadores. Nas fábricas e assembleias era comum ouvir dos operários “que o crescimento econômico das empresas deveria ser revertido em melhores salários”. A maioria deles reclamava da situação de endividamento em que vivem. Endividados, os trabalhadores decidiram lutar por “sua parte” do crescimento econômico.

* pseudônimo do operário entrevistado, mas a situação é real.

Post author Marcello Locatelli, de Curitiba (PR)
Publication Date