Diante de um quadro de insatisfação crescente com o governo FHC e os resultados de oito anos de aplicação do receituário neoliberal no país – o que explica o substancial crescimento de Lula nas pesquisas de intenção de voto, atingindo a cifra de 35% – caberia ao maior partido de esquerda, depositário da confiança da maioria do movimento operário e popular, apontar uma perspectiva de ruptura com o imperialismo. Mas o movimento que fazem o PT e Lula é exatamente o oposto: quanto mais crescem nas pesquisas, mais endireitam o discurso para se mostrarem confiáveis para a burguesia e o imperialismo.
Programa Econômico para Burguesia e o Imperialismo
“Lula está se aproximando do nosso discurso macroeconômico”, disse o líder do governo no Congresso, Artur Virgílio, à revista Veja. Confirmando a afirmação de Virgílio, Guido Mantenga, assessor econômico do PT, declarou a Folha de São Paulo que sequer a renegociação da dívida externa está nos planos do PT: “Dos cerca de US$ 220 bilhões (da dívida externa), a maior parte é privada. O setor privado está rolando bem essa dívida. A dívida pública externa é pequena, a líquida soma uns US$ 50 bilhões. E a maior parte é dívida de médio e longo prazo, então, por que tomar alguma medida?”.
Contradizendo Mantenga, segundo a revista Época, o próprio PT trabalha com a hipótese de receber o poder com duas bombas de efeito retardado. Uma delas seria ter que pagar US$ 2,5 bilhões de dívida com FMI ainda durante a cerimônia de posse. A outra é que o próximo governo terá R$ 3 bilhões a menos de receita, com a redução das alíquotas de vários impostos. Ou seja, as primeiras medidas de um governo do PT podem ser mais amargas do que se imagina, a ponto de ter que realizar cortes nos gastos sociais.
Lula não se preocupa em esconder que pretende governar com os grandes banqueiros e a benção do imperialismo norte-americano, apesar de tímidas ressalvas que tentam minimizar sua total subordinação: “Quero construir o Brasil com essa gente que dita as regras do mercado. Mas eles têm de entender que não vão definir a política de juros do meu governo”. E que: “Quero ótimas relações com os EUA, mas não aceito a proposta deles para a ALCA nem a ocupação da Amazônia via Colômbia”.
O PT sequer apresenta um programa de reformas que se proponha a romper com as bases do modelo neoliberal. Para quem ainda tem dúvidas, com a palavra novamente o próprio Lula: “Não sou uma pessoa de falar uma coisa e fazer outra”. Depois acrescenta: “O De la Rua foi eleito na Argentina prometeu uma coisa e fez outra. Deu no que deu”. Ou seja, Lula se preocupa em não gerar expectativas para a classe trabalhadora. Promete continuar aplicando o modelo neoliberal e pretende cumprir a promessa.