Os metroviários acabam de realizar uma forte campanha salarial em que bateram de frente com a direção do Metrô, o governo estadual e a Justiça. O Portal do PSTU conversou com Altino Prazeres, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que faloQual a sua avaliação da Campanha Salarial deste ano?
Foi uma campanha que retomou a participação da categoria com diversas atividades. Assembleias massivas como há muitos anos não se via, reuniões de negociação com ampla participação da base, chegando a ter mais de 120 metroviários, e grande adesão ao uso do colete com o slogan ‘Chega de Sufoco´, fazendo diálogo com a população. Só no mês de maio fizemos 4 cartas abertas à população, defendendo a redução da tarifa do transporte de São Paulo, denunciando a superlotação do metrô. Exigimos também mais investimentos no metrô público, estatal e de qualidade. Enfim, a campanha salarial conseguiu avançar além do limite imposto pelo governo que era o IPC da FIPE, além de avançar algumas outras cláusulas como a Licença Maternidade de 180 dias que virou uma referência para outras categorias.

Quais foram os avanços conquistados pelos metroviários durante a negociação?
Reajuste de 8%, Licença Maternidade de 180 dias, o vale alimentação passou de 100 para 150 reais, e participação nos resultados que teve um aumento médio de 10%. Avançou no reenquadramento para algumas funções como os controladores de tráfego que conseguiram mais de 20%, ajudantes da manutenção, que entraram nas carreiras de oficiais e alguns reajustes que chegaram a mais de 20%. Na luta pela equiparação garantimos nesse primeiro momento para um grupo de 2009 a 2011, e a formação de comissão entre sindicato, empresa e Ministério Público para os anos anteriores. Também ficou a possibilidade de ter um bilhete de serviço para que os metroviários possam ter acesso à ferrovia e Linha 4, e vice-versa, além de algumas outras cláusulas.

Havia uma expectativa de que os metroviários entrariam em greve, por que isso não ocorreu?
Trabalhamos antes com ‘carta à população´ junto com os ferroviários e os trabalhadores da Sabesp. As assembleias estavam num crescente e tínhamos marcado greve para o dia 1º de junho. Quando entramos na quadra da assembleia recebemos a informação que os ferroviários e trabalhadores da Sabesp votaram greve para o mesmo dia. Aí a oportunidade era histórica, os ferroviários há 16 anos que não entravam em greve e poderíamos juntos pressionar o governo. Além disso, a Emtu e rodoviários do ABC também marcaram greve. O reajuste oferecido pelo Metrô era de 7,77%. A Intersindical, que é parte importante da diretoria, mesmo sabendo que as outras categorias decretaram greve defendeu fechar o acordo. Ao defendermos a greve, que estava sendo transmitida ao vivo pelo site do sindicato, a empresa propôs no meio da assembleia o reajuste 8%. Continuamos defendendo a greve para avançar a proposta e pressionar o governo com a unificação das categorias. A assembleia se dividiu ao meio. Se toda a diretoria estivesse unificada pela defesa da greve, a insegurança seria superada e teríamos uma greve histórica de todo o sistema metroferroviário de São Paulo. Diante disso defendi que, com a categoria dividida, era melhor adiar a greve para 2 dias depois, o que foi aprovado por mais de 90% da assembleia. Perdemos uma oportunidade única de colocar o governo em cheque e avançar ainda mais nas propostas, além de demonstrar a unidade na greve do transporte da cidade.

Essa foi a primeira Campanha Salarial dirigida pela nova diretoria eleita ano passado. Qual foi a diferença entre as campanhas anteriores?
A principal diferença foi a categoria voltar a acreditar nas suas próprias forças, com ampla mobilização, participação em todas as atividades, principalmente das assembleias. Dialogamos com a população, defendendo uma outra visão de transporte para o caos instalado na cidade. Também conseguimos construir um trabalho com os três sindicatos dos ferroviários que atuam na CPTM. Os trabalhadores perceberam que o sindicato estava de volta às suas mãos.

Quais os próximos passos? A campanha por transporte público de qualidade segue?
Temos várias reuniões sobre equiparação salarial, serão realizadas agora as eleições das 10 Cipas que elegerão mais de 140 representantes dos trabalhadores, e também a continuidade da campanha em defesa do transporte público, estatal e de qualidade. Além disso, a solidariedade ativa com os nossos irmãos ferroviários que suspenderam a greve, mas mantém suas campanhas. E tantas outras lutas que continuam.

Quer deixar mais uma mensagem?
Quero agradecer o apoio dos militantes do PSTU, da CSP-Conlutas e dos diversos sindicatos e entidades que estiveram conosco durante todas as atividades, trazendo solidariedade à nossa luta.

Os metroviários, ferroviários, trabalhadores da Sabesp, EMTU e rodoviários do ABC deram grande exemplo de que é possível, através da mobilização dobrar o governo e os patrões. Tenho certeza que essa foi a primeira de várias lutas que iremos travar juntos. A luta por salários, contra injustiças e a exploração, combinada com o exemplo das revoluções no Norte da África que derrubaram ditaduras faz voltar o sonho de uma sociedade diferente, sem exploração, democrática, onde os explorados e oprimidos governem de verdade, o socialismo!