Testemunhas acusam polícia de atirar contra garoto. Assassinato deve aprofundar crise política do governo PiñeraApós sucessivas repressões contra os protestos estudantis que tomam conta do Chile há pelo menos dois meses, finalmente os ‘carabineros´, a polícia chilena, e o governo conseguiram o que buscavam. Na madrugada desse dia 26 de agosto, um adolescente foi assassinado em Santiago. O jovem Manuel Gutierrez foi atingido por um disparo no peito no distrito de Macul, setor leste da capital. Apesar do ministério do Interior ter informado que o adolescente tinha 16 anos, alguns veículos de comunicação afirmam que o jovem contava com apenas 14.

Segundo o que testemunhas relataram à imprensa, o adolescente foi atingido por um disparo que partiu de um carro, que fugiu logo em seguida. “Eu vi os carabineros dispararem e não sou a única testemunha” , afirmou o irmão da vítima, que é cadeirante e estava sendo levado por Manuel quando ocorreram os disparos. A princípio pensaram se tratar de uma bala de borracha. Só quando os médicos anunciaram a morte do garoto, soube-se que na verdade era um projétil de calibre grosso.

Apesar do comando dos carabineros ter negado a participação dos policiais no assassinato, familiares e amigos do adolescente acusam as Forças Especiais de Carabineros, que estavam a apenas 300 metros do local. Eles informam ainda que no local do assassinato não havia confrontos com a polícia, como em outros lugares da cidade.

Greve Geral
Os dias 24 e 25 foram marcados por uma forte greve geral no país, que uniu os estudantes em luta por uma educação pública e gratuita e trabalhadores de diversos setores, contra a política econômica neoliberal de Sebastián Piñera. A greve foi marcada pelas paralisações, que se intensificaram no segundo dia, e por marchas multitudinárias nas ruas das principais cidades do Chile. Foram as maiores manifestações desde a queda da diatura.

A repressão do governo foi mais uma vez brutal e, além do adolescente morto, foram detidos 1394 manifestantes. O assassinato deve aprofundar a crise no qual se afunda o governo, que amarga aprovação de apenas 26% da população, menor índice desde a era Pinochet. Piñera, por sua vez, se limitou a chamar os estudantes para uma nova rodada de negociações. Outros ministros, por outro lado, atacaram a greve e o movimento dos estudantes e trabalhadores, taxando de “inútil”.

O Secretário Geral da Renovacion Nacional, Mario Desbordes, do partido de Piñera, foi além e pediu o recrudescimento da repressão contra os protestos. Nesse dia 26, enquanto se investigava quem assassinou o garoto em Macul, pediu que os ‘carabineros´ sejam autorizados a utilizar balas de borracha. “A água e o gás não são suficientes”, disse.