Redação
Na manhã desta quinta-feira, 18, a pergunta que todos se faziam – “Onde está Queiroz?” – foi finalmente respondida. Estava no sítio em Atibaia (SP) de propriedade do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
A prisão do ex-policial militar e ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, ainda que tardia, reafirma os estreitos laços da família Bolsonaro, principalmente de Jair Bolsonaro, com o submundo do crime organizado, as milícias, setor sobre o qual ergueu sua carreira política no Rio de Janeiro. O caso Queiroz mostra ainda que, longe de ser uma mancha no passado do político, tais ligações estão mais presentes que nunca.
Se o fato de o miliciano ter sido preso no sítio do advogado, que no dia anterior prestigiava a posse do novo ministro das Comunicações em pleno Palácio do Planalto – e que negara por diversas vezes saber o paradeiro de Queiroz – já não fosse revelador o suficiente sobre o envolvimento de Bolsonaro, o próprio fez questão de desvanecer quaisquer dúvidas que pudessem pairar sobre isso. Logo pela manhã reuniu os ministros da área jurídica, incluindo a Advocacia Geral da União (AGU), o ministro da Justiça, e seus ministros militares, para tratar sobre o caso, mostrando que trata a crise como assunto de Estado.
À noite, começou a sua live das quinta-feiras, defendendo o amigo, dizendo que “não havia mandado de prisão contra ele” e que Queiroz estava em Atibaia porque supostamente ficaria próximo do hospital onde ele estaria se tratando. Algo que foi desmentido pelo próprio hospital onde Queiroz tratou um câncer.
O nervosismo de Bolsonaro, que até deixou de falar com sua meia dúzia de apoiadores que batem ponto todos os dias em Brasília, mostra o tamanho desta crise. O que está em jogo não é “apenas” o caso das “rachadinhas”, esquema de confisco de parte dos salários de funcionários do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, incluindo funcionários laranjas, o que por si já seria grave e motivo de cassação. O que está em jogo é o envolvimento com as milícias, incluindo as que executaram a vereadora do PSOL no Rio, Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
As investigações apuraram que Queiroz mantinha intensa relação, chegando a compartilhar um plano de fuga com o miliciano morto pela polícia da Bahia no início do ano, Adriano da Nóbrega, o “Capitão Adriano”, chefe do chamado “Escritório do Crime”, a qual pertenceriam os dois milicianos presos pelo assassinato de Marielle Franco. Adriano, além das homenagens e condecorações, tinha a mulher e a mãe empregadas no gabinete de Flávio. O ex-PM morto pela polícia também repassou cerca de R$ 400 mil a Queiroz. E para fechar o rol das “coincidências”, o advogado de Adriano é o mesmo de Queiroz.
Não faltam evidências de que Bolsonaro agiu diretamente para esconder Queiroz. E que a sua sanha em controlar o aparato do Estado, incluindo a direção da Polícia Federal, deve-se à necessidade de esconder suas relações sórdidas com este setor do crime organizado.
O episódio da prisão de Fabricio Queiroz abre um novo momento da crise, em que o governo, cercado por denúncias e investigações sobre fake news e o financiamento dos protestos pró-ditadura, se vê envolvido diretamente com corrupção e milícias. Crise esta que se desenrola com o agravamento da pandemia como pano de fundo, e um governo genocida que, perante a explosão do desemprego e da miséria, oferece como alternativa redução do salário e corte na renda.
A política genocida do governo Bolsonaro, que fez com que o Brasil chegasse aos 50 mil mortos pela COVID-19 (só os notificados), e ao vergonhoso ranking mundial da pandemia, já era motivo mais do que suficiente para tirá-lo de lá. Assim como sua política de terra arrasada em relação aos direitos trabalhistas, ao meio ambiente e aos povos indígenas. Agora, a reafirmação do caráter corrupto e miliciano deste governo reafirma também que não é possível permitirmos que fique um segundo a mais no poder.
É preciso encontrar formas de mobilização, neste contexto da pandemia, para botar para fora Bolsonaro, Mourão e a sua trupe já.