A decadência da empresa tem como principais vítimas seus trabalhadores, que perdem salários e direitos, e os passageiros, que ficam à mercê das péssimas condições de vôoA Vasp (Viação Aérea de São Paulo) vive a maior crise de sua história. Os funcionários da empresa sofrem com atrasos nos salários e demissões e respondem à crise com greves e paralisações. As dívidas crescem e não fica claro para onde vai o dinheiro que a empresa fatura. Aviões da empresa são barrados por falta de segurança. Aquela que já foi a segunda maior empresa em aviação no Brasil e já chegou a empregar mais de 7.000 trabalhadores, hoje está ameaçada de falência.

A causa do colapso está clara no histórico da empresa. Seu crescimento se deu no período em que era uma empresa estatal e a decadência foi o caminho pelo qual a empresa passou desde sua privatização em 1990.

A história

A Vasp foi fundada em novembro de 1933 por um grupo de empresários da região de São Paulo. Em 31 de março de 1934, obteve a autorização do governo para operar no espaço aéreo brasileiro.

A empresa, devido a prejuízos operacionais, pediu auxílio aos governos estadual e municipal antes de completar um ano de funcionamento. O auxílio pedido aos governos era sob a forma de subsídios e isenções fiscais. As administrações públicas optaram por assumir o controle acionário da empresa, entendendo a estatização da Vasp como única forma de viabilizá-la.

Após a estatização, a Vasp passou por décadas de crescimento, com aquisição de frotas e crescimento na abrangência de seu serviço no território nacional. Em 1969, a empresa servia 32 cidades em 21 estados e dois territórios, estando presente em todo o país.

Ao final dos anos 80, às vésperas da privatização, a Vasp possuía uma frota de 32 aeronaves, um contingente de 7.300 funcionários e era a segunda empresa do país, embora só atuasse no transporte doméstico.

Privatização fraudulenta

Já havia uma pressão dos representantes do neoliberalismo pela privatização da Vasp, inclusive por parte de Wagner Canhedo, que seria seu comprador e é o atual presidente da empresa. Em 1987, o brigadeiro Octavio Moreira Lima, então ministro da Aeronáutica, deu seu apoio à privatização da Vasp, impondo-a como condição para que a empresa atuasse nos vôos internacionais.

O então governador de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB), tratou de sucatear a empresa, antes de passá-la para o capital privado, para melhor argumentar em sua venda. Foram engavetados todos os projetos de melhorias na frota.

A VOE/Canhedo S.A. (empresa de Wagner Canhedo) adquiriu em leilão 60% das ações da Vasp. Apesar de ter sido nomeada uma Comissão Parlamentar de Inquérito em 1992, nunca ficou esclarecido por que o governo de São Paulo pagou US$ 53 milhões em 1990 ao Consórcio VOE-Canhedo, dias antes de a Vasp ser vendida ao mesmo consórcio por US$ 45 milhões. Também permaneceu obscuro como Wagner Canhedo conseguiu que o Banco do Brasil refinanciasse uma dívida da Vasp de US$ 276 milhões, sem dar garantias.

Aliás, a mesma complacência se repetiu mais recentemente, quando o presidente da Vasp ofereceu como garantia da dívida com a Previdência a frota obsoleta da empresa, já em parte comprometida com outras dívidas.

A crise

Após a privatização, a Vasp fez de tudo para se inserir no mercado internacional e isso lhe custou caro. As prioridades eram a expansão dos negócios e o crescimento dos lucros. Não houve preocupações com renovação de frota de aviões, com segurança dos passageiros e muito menos com as condições de trabalho e salários dos funcionários da empresa. A última década também foi marcada pela crise mundial no setor, dezenas de empresas foram fechadas ou compradas por outras maiores. Isso resultou em uma crise inevitável da Vasp.

Os aviões estão completamente obsoletos e não passam por manutenção. Quando surgem problemas nas peças, alguns aviões têm suas peças retiradas para serem usadas na recuperação de outros aviões. Não há garantias mínimas de segurança para os passageiros.

Já os funcionários passam por arrocho salarial, atrasos constantes nos pagamentos e demissões em massa. Em outubro, foram anunciadas cerca de 380 demissões de aeronautas, sob alegação de corte de custos. Por decisão do Ministério do Trabalho, a empresa teve que readmiti-los, mas lançou em contrapartida um Plano de Demissão Voluntária. Por causa da falta de cumprimento das obrigações trabalhistas, a empresa também recebeu da Justiça uma multa de R$ 14 milhões.

A empresa está afundando em dívidas, principalmente com a administração pública. Entre elas está a de R$ 11 milhões em taxas de embarque com a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), referentes apenas aos últimos meses.
O próprio presidente da empresa, Wagner Canhedo, já foi detido em Brasília por não pagar ao Instituto Nacional do Seguro Social, INSS, uma dívida de R$ 254 milhões, que deveria ser amortizada mensalmente (mas não era) com o depósito de 0,5% do faturamento da Vasp.

No último dia 7, a Vasp entregou ao governo Lula um plano de recuperação e o governo decidiu prorrogar por mais seis meses a concessão provisória que permite à Vasp continuar operando. Mais uma vez, o governo pode livrar a cara de empresários que realizam negócios fraudulentos e irresponsáveis.

Estatização da Vasp sob o controle dos trabalhadores

A Vasp entra em crise profunda e seus empresários logo correm ao governo em busca de “ajuda”. Querem facilidades, subsídios para continuarem lucrando às custas do povo. O empresário Wagner Canhedo, presidente da Vasp, levou a empresa a essa situação e poderá ser beneficiado pelo governo com envio de recursos financeiros, além de sair impune de toda essa história.

O governo petista, a princípio, prorrogou a concessão que permite que a Vasp atue no mercado de aviação.

Não podemos permitir que nenhum centavo do dinheiro público sirva para salvar os bolsos dos empresários corruptos em crise. É preciso afastar imediatamente esses empresários e fazer uma ampla investigação nas costas da empresa, punindo todos os responsáveis por negócios fraudulentos.

A Vasp deve ser estatizada e sua administração deve passar para as mãos dos trabalhadores da empresa. Essa é a única forma de manter o funcionamento da empresa, e desta maneira haverá prioridade para o pagamento de salários e para os direitos dos trabalhadores da Vasp. Só assim poderá haver um serviço de aviação barato, seguro, que tenha como objetivo servir à população.

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