No Largo do Santo Antônio, no Centro Histórico de Salvador, ocorreu mais uma ação violenta e truculenta da Polícia Militar contra a população negra. No último dia 3 de junho, uma abordagem policial a um jovem foi gravada por uma turista alemã. No vídeo de pouco mais de 11 minutos, o jovem é agredido com tapas, socos e cassetetes, o que gerou revolta na população que estava no local, que protestaram pacificamente aos gritos de “chega!” e “covardia!”.
Em um determinado momento da gravação, um dos policiais atravessa a rua e se dirige a uma das pessoas que estava observando a ação, uma mulher, negra, mãe e grávida de três meses. Ele desfere tapas, socos e puxa a mulher pelos cabelos em direção à viatura, o que causa maior indignação aos frequentadores da praça. A mulher consegue se soltar do policial, arrancando-lhe o colete.
Em uma declaração ao jornal A Tarde do dia 6, sem querer ser identificada por medo de retaliação da Polícia Militar, ela desabafa: “Me senti humilhada, impotente, discriminada. Me bateram na frente de minhas filhas. Tinha um monte de gente branca lá gritando também. Por que não pegou um branco? Pegou logo uma negra, grávida, que mora no buraco, como eles mesmo falam”.
Esta ação truculenta da PM baiana a uma mulher negra grávida ocorreu dias depois da divulgação do Atlas da Violência 2017, organizado pelo IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Neste relatório oficial sobre a questão da violência, constata-se que, enquanto a taxa de homicídios entre a população não negra reduziu em 12,2% entre 2005 e 2015; na população negra, essa taxa aumentou em 18,2% no mesmo período. Entre as mulheres essa taxa possui uma diferença ainda maior: enquanto a mortandade de mulheres não negras reduziu em 7,4%; nas mulheres negras o crescimento foi de 22%.
Na prática, nós temos dois “Brasis” coexistindo: um branco e de elite e outro negro, jovem e de periferia, concentrado em grande parte no Nordeste brasileiro. A cada 100 pessoas assassinadas do país, 71 são negras. Isto é um verdadeiro genocídio da população negra, que quando não é morta pela ação policial ou pelo tráfico, soma-se aos absurdos números da população carcerária, igualmente jovem e negra.
A Bahia administrada pelo governo Rui Costa, do PT, concentra grande parte desses dados. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só em 2015 foram 299 homicídios registrados no Estado em decorrência de intervenção policial. Esse número não é casual, em fevereiro daquele mesmo ano, 12 jovens do bairro do Cabula foram assassinados pela Polícia das Rondas Especiais (Rondesp), em que o laudo técnico indicou ter havido uma verdadeira chacina. A ação da polícia na Chacina do Cabula, como ficou conhecido essa fatídica noite, foi comparada pelo governador petista a um “artilheiro” que precisa decidir “como vai botar a bola dentro do gol”.
A violência policial do governo Rui Costa contra a juventude negra faz parte do cotidiano de bairros periféricos, como o Itinga, do município de Lauro de Freitas, uma das cidades mais violentos do país ou do bairro Irmã Dulce, em São Sebastião do Passé, onde a polícia chega arrobando a porta com pisão e atirando em pais de família na frente de filhos e esposas. A violência e a criminalização aos negros e negras é parte do cotidiano da política de segurança pública do Estado da Bahia. Não é à toa que o vídeo da agressão à grávida termina com um áudio dito com a seguinte reflexão: “agora imagina o que esses caras fazem quando não tem câmera, sacou man?”
Mas a ação repressiva e militar do governo de Rui Costa não para por aí. Na recente greve dos caminhoneiros que parou o país e pressionou Temer contra a parede, o governador petista fez uso das forças militares do Estado contra os trabalhadores, como nas proximidades de Alagoinhas, para garantir a desobstrução das rodovias e a passagem dos combustíveis, jogando na prática no time de Temer e da sua intervenção militar contra os caminhoneiros.
Em se tratando de reprimir os negros, as negras e os trabalhadores, Temer, Rui Costa e o prefeito de Salvador, ACM Neto, são tudo farinha do mesmo saco! É preciso dar um basta de imediato à violência policial e ao racismo institucional da PM! A punição exemplar dos agressores, a desmilitarização da Polícia Militar e a unificação com a polícia civil, garantindo a eleição direta dos delegados e oficiais pela própria comunidade, além da descriminalização do uso das drogas são medidas mínimas e democráticas para se começar a superar essa violência institucional.
Mas não queremos só “medidas de compensação”, queremos trabalho, renda e terra e queremos sim, assumir os postos chaves do Estado. Somos a maioria da população, que acorda cedo toda manhã, trabalha o dia todo e volta nesses ônibus cheios de baratas. Os governos capitalistas, sejam de direita ou de esquerda, já demonstraram que são incapazes de combater o racismo. Por isso, precisamos mesmo é de uma rebelião dos de baixo, uma revolução negra e socialista que coloque os operários e povo pobre no poder para governar esse país e esse Estado.