A luta dos sem-terra pela reforma agrária tem um grande apoio no conjunto da vanguarda, mas a existência de duas marchas separadas, no mesmo dia, em Brasília, chocou a todos. A unidade das marchas poderia potencializar o dia 25, que representaria muito mais do que a simples soma das duas.
A divisão tem uma explicação política: a direção do MST tem a estratégia de pressionar o governo pela reforma agrária, mas mantendo seu apoio a Lula. João Pedro Stédile, líder do MST, considera Lula e Rosseto como aliados para a reforma agrária. A direção do MST acha que o problema do governo é o ministro Palocci e sua política econômica. O Ministério da Educação divulgou um documento no qual, infelizmente, o MST aparece como parte de um grupo de trabalho e discute com o governo, junto com a UNE e a CUT, a reforma Universitária. Por esses motivos, a direção do MST não poderia se somar a uma marcha contra a reforma Universitária e, menos ainda, contra o conjunto do governo.
Preparou, então, uma marcha à parte, que terminaria em frente ao BC, pedindo a mudança da política econômica e a demissão do ministro Antonio Palocci.
E tome vaias
Na Conferência de Terra e Água, realizada entre os dias 22 e 25, em Brasília, a direção do MST convidou ministros do governo, assim como o aliado Lula.
Mas a radicalização da base do MST falou mais alto do que os planos de sua direção. Refletindo a polarização que existe no campo, com a chacina de Felisburgo, todos os ministros do governo presentes na conferência foram vaiados.
Segundo a imprensa, a própria direção do MST desaconselhou a ida de Lula, para evitar uma vaia, o que acabou radicalizando ainda mais o plenário.
Dom Tomás Balduino, da Pastoral da Terra, perguntou aos presentes na conferência se Lula não estaria no local se aqui estivessem doze mil empresários, e foi muito aplaudido.
A resultante foi que a marcha final teve um claro sinal de protesto contra o governo, ao contrário dos planos da direção do MST. Além disso, um setor dos sem-
terra, o MTL, promoveu uma invasão da sede do Incra, que terminou com enfrentamentos com a repressão policial.
Tudo o que a direção do MST queria evitar, ao apostar na divisão das marchas do dia 25.
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