A pressão dos Estados Unidos contra os países que defendem a utilização da energia nuclear, mesmo que seja para fins pacíficos, como o Irã, ou países que já estão fazendo testes com armas atômicas, como a Coréia no Norte, vem suscitando uma discussão acalorada, sobretudo entre a esquerda, sobre o direito ou não de os países terem a bomba atômica, se isso vai ou não contra nossos princípios morais, se deveríamos ou não “repudiar a fabricação dessa arma, seja por que governo for”. Esta discussão é muito importante e toca numa questão delicada para a luta dos trabalhadores pelo socialismo: os fins justificam os meios?

Não se pode tratar a questão do armamento nuclear de forma isolada do contexto, ou questionar este ou aquele tipo de arma. É preciso analisar cada caso em particular, porque como disse Lênin, a guerra nada mais é do que continuidade da política por outros meios e o nosso critério é sempre um critério de classe. Precisamos estudar cada guerra em particular e não tirar conclusões gerais, mas sempre verificar de forma bem precisa a quem os ataques atingem, quem se beneficia com eles e quem se prejudica.

O que quer o imperialismo?
No caso específico da bomba atômica, não se pode esquecer que o imperialismo, em particular os EUA, busca impor seu monopólio nas armas nucleares para esmagar os povos e países que tenham algum grau de independência. E isso é tão importante para o imperialismo que este conseguiu formar uma frente única com todas as principais potências e o respaldo do Conselho de Segurança da ONU para impor seu plano. Aqui fica a pergunta: nós recusamos o direito do Irã, que é justamente um dos eixos do ataque do imperialismo, de ter armas nucleares porque sua possível utilização é em si um método fascista?

A análise deve ser, como já dissemos, de classe: se ajuda a enfrentar o inimigo ou, pelo contrário, serve para dividir as forças populares e dos trabalhadores. Lembremos os atentados em Madri ou no Iraque. Nós os denunciamos porque vão contra a luta dos trabalhadores e do povo iraquiano contra o imperialismo. Já na guerra de Israel contra o Líbano, o Hizbollah reagiu aos bombardeios sionistas contra as cidades libanesas mandando foguetes contra as cidades israelenses, que infelizmente acabaram atingindo também a população civil; mas nós defendemos o direito do Hizbollah e mais, os apoiamos, porque era uma forma de fazer frente à invasão israelense, atingindo-a na retaguarda. 

No caso do Irã e da Coréia do Norte, há uma questão decisiva: hoje o imperialismo tenta impor seu controle absoluto sobre as armas nucleares, ou pelo menos fazer com que apenas os países imperialistas e seus clientes mais confiáveis as tenham. Assim, tenta fazer uma chantagem para fazer capitular todos os governos e direções que o enfrentam de alguma maneira. Por isso defendemos o direito dos países ameaçados de terem armamento nuclear para que não sejam invadidos ou chantageados com a ameaça de serem alvos de mísseis, seja de Israel, seja dos EUA. Partimos do princípio de que o grande perigo para a humanidade é o imperialismo, que desenvolveu e tem o controle das armas nucleares mais terríveis, e pode destruir totalmente o planeta e a humanidade inteira. Só o imperialismo americano as utilizou até hoje, para impor uma derrota humilhante a seus inimigos (o Japão, no final da Segunda Guerra Mundial, mas apontando para a URSS e todos os Estados Operários ou que tiveram um processo revolucionário).

Se estivermos contra o direito do Irã ou da Coréia de terem acesso à tecnologia e às armas nucleares, no momento em que o imperialismo está armado até os dentes, estamos fazendo eco à sua campanha que exige do mundo o desarmamento, com um discurso hipócrita, em nome de uma “paz” totalmente fictícia (na verdade, “a paz dos cemitérios”), enquanto guarda para si o direito de dominar os povos, explorar e massacrar quem ousa atravessar o seu caminho. A verdadeira ameaça para a humanidade é justamente essa.

Desarmamento geral exige a derrota final do imperialismo
Nós lutamos pelo desarmamento nuclear geral, mas sabemos que isso exige a derrota final do imperialismo para poder concretizar-se. Hoje defendemos o desarmamento unilateral do imperialismo, mas para desarmá-lo é necessária a resistência armada dos países invadidos ou ameaçados de invasão, e dos movimentos de resistência armados, como o Hizbollah. Assim como em um país defendemos o desarmamento da burguesia e o fim de seu aparato de repressão, mas para isso defendemos o armamento operário, que é a única classe que pode chegar a destruir o Estado e suas forças armadas, em âmbito mundial defendemos o desarmamento do imperialismo. Enquanto não conseguimos isso, somos contra o desarmamento dos países semicoloniais atacados e defendemos seu direito de resistir à chantagem nuclear, desenvolvendo esse tipo de arma.
 
Existe também a dúvida de se devemos defender essa mesma posição em relação a um Estado burguês e a um governo não apenas burguês, mas sumamente reacionário, como é o caso da teocracia xiita do Irã, que reprimiu o movimento operário e em quem não confiamos nem sequer para combater o imperialismo. Aqui novamente prima o critério de classe. Trata-se de um país dominado contra o imperialismo que o quer submeter.

Não por ser um Estado teocrático, ter um governo repressor, etc., mas opor-se até certo ponto à sanha colonizadora do imperialismo e de Israel. Independente do caráter de sua direção, estamos do lado do país semicolonial ou colonial contra o imperialismo e o sionismo. Além disso, é preciso lembrar que, com o desaparecimento dos Estados Operários e da ofensiva de Bush contra o que ele chama de “eixo do mal”, todas as últimas guerras e confrontos foram nesse tipo de cenário, desde Afeganistão até o Iraque, a Palestina e o Líbano. 

Sem entrar em detalhes específicos sobre os planos atuais da Coréia do Norte hoje, mas analisando em geral a questão do armamento nuclear, nós precisamos enfocar a questão de maneira concreta. É plenamente justificado o temor dos trabalhadores diante de governos que desenvolvem armas de destruição em massa, como é o caso das armas nucleares. Elas são armas que podem destruir países inteiros e causar danos irreparáveis ao planeta e à humanidade. Mas um temor maior devemos ter em relação ao imperialismo, porque o grande perigo não está no Irã ou na Coréia, que têm algumas armas ou estão começando a fabricá-las. O grande perigo é o imperialismo norte-americano, que detém armas poderosíssimas, e que já as usou contra Hiroshima e pode voltar a utilizá-las, dado seu afã por controlar o mundo e expandir seu poderio militar.
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