Inspirado em músicas do cantor Roberto Carlos, filme traz um drama humano sobre uma tragédia comum a muitos brasileiros.Exibido nos cinemas brasileiros desde o dia 10 de agosto, À Beira do Caminho traz um drama nacional que mistura beleza e simplicidade pelas estradas do país. Dirigido por Breno Silveira, o mesmo diretor de “2 Filhos de Francisco”, o filme narra a história de um caminhoneiro atormentado, que precisa encarar os fantasmas de seu passado e reencontrar a vontade de viver. Com fortes e belas atuações do elenco, que conta com nomes como os de João Miguel, Dira Paes, Ângelo Antônio e o surpreendente menino Vinicius Nascimento, o filme é mais do que uma história inspirada nas músicas de sucesso do cantor Roberto Carlos. À Beira do Caminho é, na verdade, um pedido de reconciliação com o lado mais humano de todos nós.
Passado mal resolvido
“A recordação é uma cadeira de balanço embalando sozinha” , dizia o poeta Mário Quintana sobre as lembranças que permanecem vivas, ainda que contra a nossa vontade. Esse é o drama que faz o caminhoneiro João, vivido de forma emocionante pelo ator João Miguel, se refugiar nas estradas do Brasil na boleia de um caminhão. Amargurado e embrutecido por uma tragédia pela qual ele se julga responsável, e que o espectador vai conhecendo aos poucos, João deixa para trás a cidade natal, a própria história e a vontade de viver. Envereda, assim, numa fuga impossível e angustiante, pois não consegue enfrentar suas recordações, que seguem lhe perseguindo justamente porque o solitário caminhoneiro ainda não encontrou coragem suficiente para aceitá-las e assumi-las.
O impulso para isso vem do menino Duda, interpretado pelo comovente Vinicius Nascimento. Órfão de mãe, Duda é um garoto em busca do pai que ele nunca conheceu. Com o objetivo de chegar a São Paulo, onde espera ansiosamente encontrá-lo, o menino se esconde na traseira do caminhão de João, que aceita levá-lo a contragosto. A partir daí, segue-se uma jornada de grandes emoções, revelações e de reconciliação com a vida. Os maiores ensinamentos são dados por Duda, com direito a frases tradicionais de pára-choque de caminhão, como quando o menino diz a João: “Você tem que fazer como um caminhoneiro, seguir em frente”. As histórias de João e Duda correm paralelas, como dois rios convergindo para o mesmo ponto. O que o garoto busca foi o que João deixou para trás.
“Eu voltei pras coisas que eu deixei”
À Beira do Caminho não deixa de ser uma homenagem ao cantor Roberto Carlos, considerado o “Rei”. O título tem certa justeza. É difícil encontrar alguém que não saiba cantarolar ao menos uma parte de um dos sucessos do Roberto. Uma popularidade alcançada com base no iê-iê-iê da Jovem Guarda base e no universo de lembranças e perdas amorosas retratadas nas composições românticas do cantor, tão comuns a tanta gente. O nome do filme, inclusive, foi inspirado na canção Sentado à Beira do Caminho, composta por Erasmo Carlos e Roberto Carlos, em 1969.
Entretanto, a história de João e Duda não pode ser resumida simplesmente a um tributo, muito embora quase toda a narrativa seja embalada por músicas de Roberto Carlos, a exemplo de “A Distância”, “O Portão” e “Outra Vez”, que se encaixam e complementam o drama. É mais que isso. “É a história de um homem que supera uma perda e reaprende a amar”, disse o diretor. Com roteiro de Patrícia Andrade, Breno Silveira fez um filme humano, sobre gente de carne e osso, sobre uma tragédia bastante comum aos brasileiros. Nesse “reaprender a amar”, À Beira do Caminho traz à tona uma reconciliação com a vontade de viver.
Imitando o verso “eu voltei pras coisas que eu deixei”, da música O Portão, a história mostra que a vida não é um exílio, mas um retorno para casa, e que, às vezes, é preciso voltar para poder seguir em frente.
Nota: em muitas cenas, este jornalista se flagrou aos prantos. Coisas da paternidade. Culpa do meu filho João Gabriel