O Opinião conversou com Vivaldo Moreira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, e Luiz Carlos Prates, o Mancha, da diretoria da entidade e da Secretaria Executiva da Conlutas, que contaram como foi a mobilização dos metalúrgicos.

Após quatro paralisações desde o dia 10, os trabalhadores da General Motors de São José dos Campos (SP) firmaram um acordo vitorioso no dia 21: reajuste de 8,3%, abono de R$ 1.950 e aumento do piso salarial.

O acordo revelou o verdadeiro papel da CUT na direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Dias antes, a entidade havia firmado um acordo rebaixado com as montadoras.

Qual é sua avaliação da campanha salarial?
Mancha – O resultado da mobilização nas montadoras foi altamente positivo. As empresas, beneficiadas pela redução do IPI, conseguiram não ter uma queda acentuada nas vendas, e os trabalhadores viram que era o momento de ir para cima e conquistaram importantes vitórias. Ainda mais ao perceberem o aumento do grau de exploração e do ritmo do trabalho nos últimos meses. Houve um enxugamento de 10 mil postos de trabalho no início da crise e a produção se manteve. Então, nos lugares onde houve mobilização, os metalúrgicos conquistaram importantes reajustes. Na Honda e na Toyota, em Campinas, o reajuste foi de 10%. Na GM de São José e na de São Caetano do Sul, conquistamos 8,3% e na Renault e na Volvo, no Paraná, o aumento real também foi superior a 3%.

O sindicato do ABC, ligado à CUT, firmou um acordo de apenas 6,5% e alardeou que era o maior aumento do país. Qual o papel dele nesta campanha salarial?
Vivaldo – O papel da CUT foi o de, desde o primeiro momento, rebaixar as negociações. De início, exigiu apenas a reposição da inflação e nem mesmo indicou um índice de reajuste real. Na negociação, aceitou apenas 2% de reajuste e deixou outras mobilizações e greves, como a que ocorria no Paraná, isoladas. Fechou um acordo bem abaixo das possibilidades e tentou levá-lo para os outros setores, estabelecendo um parâmetro rebaixado para as negociações. Mas, em outros lugares, os metalúrgicos não aceitaram esse acordo, como em Campinas, aqui em São José e São Caetano, e no Paraná, e conquistamos um reajuste maior.

Mas o sindicato do ABC divulgou que o acordo firmado lá era uma “vitória” e, depois dos outros acordos maiores, tentou justificar afirmando que a média salarial lá era maior.
Vivaldo – Num primeiro momento, eles cantaram vitória sobre o acordo, dizendo que era o maior do país. Isso porque já haviam ocorrido as negociações em Camaçari (BA), onde o sindicato é dirigido pela CTB, e em Gravataí (RS), dirigido pela Força Sindical. Nesses lugares, os acordos estabeleciam praticamente apenas a reposição da inflação. Mas, depois do acordo do ABC, os metalúrgicos conseguiram conquistar índices maiores. O presidente do Sindicato do ABC, Sérgio Nobre, tentou justificar dizendo que isso era assim porque lá a média salarial era mais alta. Era o mesmo argumento das montadoras para impor o acordo da Sinfavea. Mas ele foi por água abaixo, porque aqui em São José temos praticamente a mesma base salarial e conquistamos um reajuste maior.

Qual a tendência agora para os setores que continuam em campanha salarial?
Mancha – Os acordos que haviam sido firmados pela CTB e pela Força, assim como a negociação do ABC, apontavam uma tendência de reajustes rebaixados. Agora, com as vitórias que conquistamos, abre-se a possibilidade de reajustes maiores. Pode-se abrir uma nova situação, inclusive em outras categorias em campanha salarial.

Como ficou a direção do sindicato do ABC e a base dos metalúrgicos após essa traição?
Vivaldo – Os acordos firmados na região de Campinas, Paraná e agora em São José e São Caetano expuseram claramente o papel da direção do sindicato do ABC. Os metalúrgicos estão percebendo isso. Na Volks, estão fazendo um abaixo-assinado para a realização de nova assembleia. Em Taubaté, o sindicato sumiu da fábrica porque não podia explicar aos trabalhadores o acordo firmado.

Qual a conclusão que se pode tirar após o acordo firmado em São José?
Mancha – Que existe uma disposição muito grande de luta na base dos metalúrgicos, que se expressou em mobilizações e greves. Por outro lado, direções como a CUT agiram no sentido de impedir que essas mobilizações se generalizassem e se unificassem. Mas não conseguiram impedir as lutas em todos os lugares. Em São Caetano, por exemplo, cujo sindicato é dirigido pela Força Sindical, os operários não aprovaram o acordo rebaixado na assembleia e foram à greve. Então, essas mobilizações mostraram que é preciso uma nova direção, apoiada pela base e nas assembleias dos trabalhadores.

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