Cena do espetáculo
Divulgação

Adaptação de Brecht está no Teatro X, em São Paulo, até o dia 31 de maioDesde o dia 18 de abril, o público paulistano tem a oportunidade de conhecer uma das mais belas e surpreendentes obras teatrais já escritas em todos os tempos: Os Fuzis da Senhora Carrar, do teatrólogo alemão Bertold Brecht, no Teatro X, da Cooperativa Paulista de Teatro. O espetáculo esteve em cartaz no Tendal da Lapa em março e abril, onde foi sucesso de público. O lançamento foi ainda em dezembro de 2008, na Mostra Cultural.

Trata-se de um clássico da dramaturgia mundial, agora adaptado para falar dos dramas vividos por uma agricultora no interior de São Paulo, cujo filho está prestes a aderir ao movimento dos sem-terra e embrenhar-se nos conflitos contra os fazendeiros e seus bandos armados, que tanto sangue derrama pelos campos brasileiros.

Na peça original, Brecht trata do drama e das contradições vividas pela mãe Carrar em plena Guerra Civil Espanhola, quando seu filho se preparava para alistar-se junto às forças republicanas para combater o fascismo. Considerada uma das obras mais dramáticas de Brecht, autor conhecido por sua defesa do teatro épico, Os Fuzis da Senhora Carrar tornou-se um texto referencial para importantes companhias teatrais no mundo inteiro e um marco no teatro político mundial.

Sobre a peça
Quando escreveu Os Fuzis da Senhora Carrar, Brecht queria falar da luta dos povos em defesa da democracia contra o fascismo. Para isso, enfocou os dramas de uma mulher que perdeu o marido lutando nas brigadas de autodefesa contra o exército de Franco durante Guerra Civil Espanhola de 1936 e cujo filho está prestes a tomar o mesmo caminho.

Esse drama, pelo qual inúmeras mulheres passam na vida, é também o centro deste espetáculo. Batizada Foices, Facões, Fuzis, esta adaptação da peça de Brecht substitui a Guerra Civil na Espanha pela guerra civil que se desenrola no campo brasileiro pela posse da terra como tema central. Os dramas podem não ser os mesmos, mas são muito semelhantes. Bem como as opções, as escolhas e as dores que elas provocam em nós. Brecht queria falar de um ser humano inserido em um campo de forças bem definido: ou vai à luta e arrisca a vida, ou se cala. Mas ele não deixa opção: calar-se também pode significar a morte.

Nós queremos falar de nossa guerra civil, porque ela também insere os seres humanos nos mesmos dramas. Quem vai à luta pela terra e arrisca-se a perder a vida (como fez Chico Mendes, a freira Doroty Stang, como fizeram os sem terra em Eldorado dos Carajás e como vem ocorrendo diariamente, com as constantes mortes no campo). Quem se mantém calado, com os braços cruzados, arrisca-se a ter de suportar uma vida sofrida de sem terra.

Nesta adaptação, nossa intenção foi seguir justamente os passos do próprio Brecht, seguir seus próprios conselhos e as indicações que nos deixou, de uma forma clara ou não, em seus inúmeros escritos. Brecht era um homem de seu tempo, que fazia um teatro para a era científica. E adaptou seus textos e suas idéias aos problemas de sua época. Um dos mais conhecidos é a própria Mãe, nascida das belíssimas páginas do romance de Maximo Gorki.

A adaptação de textos tinha também para Brecht uma relação com a criação coletiva, com o conjunto, com o trabalho em equipe, onde todos se ajudam, todos dão sua colaboração para a obra (ou causa) comum.

Objetivos da montagem
A arte é uma das formas mais dinâmicas e efetivas de se expressar e compreender a realidade. Esta peça tem como objetivo proporcionar um momento de deleite, de emoção e beleza para o espectador, coisas que só o teatro consegue fazer.

Ao mesmo tempo, queremos fazer uma reflexão artística sobre a importância da reforma agrária no Brasil, sobre as contradições em que se debatem os trabalhadores sem-terra entre ocupar terras para poder plantar e criar seus filhos com dignidade, ou viver à míngua, como nômades famintos por este país afora.

Vivemos uma verdadeira uma verdadeira guerra civil no campo brasileiro. De um lado, os trabalhadores sem terra, bóias-frias, camponeses pobres. De outro, grandes fazendeiros, latifundiários e empresas multinacionais, proprietários de imensas extensões de terra. Os dramas gerados por essa situação de extrema desigualdade na distribuição de terra, as dores e alegrias da vida dos trabalhadores do campo, a solidariedade, o amor familiar, os conflitos de consciência, tudo isso conforma a matéria prima desta peça.

Terra para quem nela trabalha!
Vivemos uma verdadeira guerra civil no campo. E isso se deve à estrutura de exploração colonial que, em pleno século XXI, ainda não foi superada. E não foi superada porque dessa forma ela beneficia os grandes latifundiários e empresas, sobretudo multinacionais, que concentram enormes extensões de terra, voltadas para a exportação e o lucro, enquanto milhões de camponeses e bóias frias vivem à míngua.

Produção agrícola voltada para exportação, o que acarreta no aumento dos preços dos alimentos e na fome de milhões de famílias. Grande parte da terra dedicada à plantação de soja. Alta concentração da terra em poucas mãos, o que acarreta em destruição da agricultura de subsistência, dispersão das famílias camponesas, superexploração dos trabalhadores e manutenção de inúmeras formas de trabalho escravo.

As empresas que controlam o mercado capitalista mundial também detêm a maior parte de nossas terras; a pressão que exercem sobre os pequenos agricultores provoca o êxodo rural e o desemprego em massa, intensificando o processo de concentração fundiária.

A situação é de crise e os trabalhadores não estão dispostos a sucumbir. O MST, entre tantos outros movimentos, vem dar voz aos oprimidos e explorados com a ocupação de terras improdutivas, lutando em prol de uma reforma agrária soberana. Por esta causa morreram e ainda morrem inúmeros companheiros, pois os latifundiários, com o apoio do governo, não hesitam em fazer o que for necessário para defender seus interesses.

Só uma reforma agrária radical, controlada pelos trabalhadores, com a expropriação dos latifúndios sem indenização e o assentamento das famílias sem terra pode apontar uma saída para a verdadeira guerra civil que se vive no campo, com massacres e assassinatos quase diários nas mãos dos bandos armados pelos fazendeiros, pela empresas multinacionais e o Exército.

A luta é diária e os braços de todos os trabalhadores do campo e da cidade são necessários nessa empreitada. A esses trabalhadores dedicamos a nossa peça.

Sobre o Grupo
A Cia. Teatral Trabalhadores da Arte teve duas origens: o Coletivo de Artistas Socialistas (CAS), formado há cerca de dez anos, em São Paulo, como instrumento de discussão política e estética, e o Grupo de Estudos de Brecht, que reúne semanalmente no Teatro Ruth Escobar, sob a coordenação da professora de Teatro Brasileiro, Lucia Capuani, artistas e estudantes de arte interessados em debater as teorias do Teatro Dialético.

Para colocar em prática esses estudos, o grupo partiu para a montagem da peça Foices, Facões, Fuzis, criada por Maria Cecília Garcia a partir da obra de Brecht. Esta, portanto, é a primeira montagem dos Trabalhadores da Arte, grupo que mistura atores já tarimbados com artistas recém-formados, com o objetivo de mesclar experiências e expressar artisticamente as suas inquietações.

Outro projeto em que o CAS está envolvido é a organização de Oficinas de Teatro e Grupos Teatrais nos Sindicatos. O projeto envolve debates, oficinas, cursos e montagens com grupos formados por trabalhadores de distintas categorias. Dessa forma, o CAS procura dar sua colaboração e incentivo para a expansão do teatro no seio da classe trabalhadora, despertando seu interesse em assistir e seu prazer em participar das artes cênicas.

“A questão do teatro não é ensinar política, mas simplesmente tornar o homem sensível a ela” (Brecht).

SERVIÇO:
Teatro X
Rua Rui Barbosa, 399, Bela Vista, São Paulo
Fone: (11) 3283 2780
De 18 de abril a 31 de maio
Sábados às 21h
Domingos às 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

Para maiores informações, acesse http://trabalhadoresdaarte.blogspot.com

  • Para os sindicatos, escolas, universidades e movimentos que quiserem contratar o espetáculo, basta entrar em contato pelo e-mail [email protected]

    FICHA TÉCNICA:
    Elenco: Cléo Moraes, Natália Sanches, Denis Snoldo, Cristiano Nery, Eduardo Mancini, Bárbara Kanashiro, Marla O’Hara e Rozanna Lazzaro
    Dramaturgia e direção: Maria Cecília Garcia
    Assistência de direção: Lúcia Capuani
    Preparação corporal: José Carlos Freyria
    Cenário e Fotografia: Carlos Sagra
    Luz: Rozanna Lazzaro e Bárbara Kanashiro
    Trilha Sonora: Ed Lacosta
    Voz off: Tin Urbinatti.
    Material gráfico: Elaine dos Santos
    Operação de som e luz: Rozanna Lazzaro e Bárbara Kanashiro

    Agradecimentos:
    Ana Paula Trommer, Funcionários dos Teatros Ruth Escobar e Maria Della Costa, pessoal do Sindsef, Livraria Cena Brasileira, CAS, Tendal da Lapa, Conlutas