Violência policial contra jovens negros da perifieria de Alagoas
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Nas últimas semanas, dois atos de violência urbana chamaram a atenção da população de MaceióNa semana passada, mais uma paralisação de rodoviários aconteceu, mais um protesto da categoria revoltada com as péssimas condições de trabalho e insegurança da profissão. O motorista Josecler dos Santos foi assassinado na tarde do último dia 29 de novembro no Tabuleiro, bairro da capital alagoana. Segundo o Comando de Policiamento da Capital (CPC), foram registrados mais de 500 assaltos a ônibus só em 2012.

A primeira coisa que vem à mente da população é a necessidade de colocar mais policiamento na rua, atitude que já vem sendo feita pelo governo estadual através do plano federal “Brasil mais Seguro”.

O Plano Brasil mais Seguro
Na definição do Portal Brasil, o plano tem “o objetivo de induzir e promover a atuação qualificada e eficiente dos órgãos de segurança pública e do sistema de justiça criminal”. Foi Lançado de forma pioneira em Alagoas, pelo fato de nosso Estado ser o mais violento e com maior número de homicídios do país.

Inaugurado no dia 27 de junho, o plano tem como mote o aumento de policiamento, contratação de mais policiais militares e civis, bem como uma reestruturação da perícia. O plano vem obtendo resultados positivos no que toca a redução de homicídios. A última avaliação do plano feita pelo governo é de que, no mês de novembro, os homicídios foram reduzidos em 55%. O próximo passo é iniciar um processo de videomonitoramento em locais como a orla de Maceió. Filmar os passos dos moradores será a próxima ação de segurança do Estado. Segundo dados do governo, desde a implementação do plano a criminalidade foi reduzida em mais de 28%.

O que esse plano tem haver com a morte do rodoviário? Absolutamente tudo. É óbvio que o plano só irá atenuar temporariamente a violência, apenas na aparência. A estratégia de colocar mais policiais nas ruas sempre foi a estratégia número um de todos os governos para combater a violência. E o que vemos sempre é, a cada ano, mais medo por parte da população e o aumento da criminalidade. O plano Brasil mais Seguro ataca apenas a superfície do problema, a insegurança em Maceió continuará a mesma, e, infelizmente, trabalhadores continuarão morrendo, como Josecler. Dados fornecidos pela própria avaliação do plano indicam que, enquanto diminui temporariamente a violência em Maceió, aumenta o número de homicídios em Rio Largo, na região metropolitana, em 41,67%.

Além de tudo, o novo plano nacional de segurança conta com a ação da Força Nacional de Segurança Pública, a polícia de elite do governo federal, mais um braço repressivo do Estado brasileiro, uma polícia que possui um poder e um treinamento de guerrilha urbana. A “Força”, como é chamada, causa medo até na nas outras polícias. Há até denúncia por parte do Sindpol-AL de abuso de poder da Força Nacional.

Cultura da violência em Alagoas?
Muitas vezes, são criadas ideologias para explicar a violência urbana e não se ataca a raiz do problema. Alguns intelectuais alegam que existe uma cultura da violência em Alagoas, que as oligarquias latifundiárias instauraram um sentimento de violência na população. A impressão é que a violência é um costume em nosso estado, diferentemente de outros estados que seriam mais democráticos e civilizados. Não concordamos com esta afirmação.

O que existe, na verdade, no nosso estado, é miséria. Miséria em escala crescente que gera cada vez mais violência. A raiz estrutural da violência em nosso estado não está no comportamento dos indivíduos, está na brutal exploração da classe trabalhadora e da juventude. O aumento da violência é consequência dos planos neoliberais que foram aplicados no país e aumentaram a violência no país inteiro, sendo ainda pior em locais com grandes desigualdades sociais, como em Alagoas.

A polícia gera mais violência
A Polícia Militar é dotada de uma estrutura completamente apodrecida. Foi fundada na ditadura militar para combater o “inimigo interno” do regime, nada mais nada menos que os militantes de esquerda que travavam lutas de resistência contra os militares e eram chamados pela mídia e pelo governo de terroristas. Hoje, a PM continua a implementar métodos bárbaros de interrogatório e tortura dentro das delegacias e prisões do país. É um resquício da ditadura que deve necessariamente acabar.

O plano Brasil mais Seguro está conseguindo reduzir temporariamente a violência e a taxa de homicídios em Alagoas, mas sabemos que é apenas um paliativo. Pior, essa redução está se dando sobre o aumento da repressão, utilizando principalmente a Polícia Militar como ferramenta repressiva.

A segunda notícia relacionada à violência na cidade que ganhou grande repercussão nas últimas semanas tem a ver justamente com a truculência da PM. Sete policiais agrediram jovens considerados suspeitos, com choques, chutes na barriga e extrema violência. Esses policiais foram afastados das ruas e colocados em tarefas administrativas. Sabemos, no entanto, que este caso não é uma exceção. É comum vermos relatos ou até mesmo presenciarmos ações de extrema truculência envolvendo a Polícia Militar.

Como dissemos, a própria estrutura da PM foi constituída para que estes agissem de forma violenta. Sabemos que existem diversos policiais honestos que não compactuam com essas práticas. Infelizmente, é impossível mudar a estrutura da PM por dentro ou buscar humanizá-la.

As drogas como parte importante do problema
A juventude da periferia é exposta a todo tipo de violência. Entre elas, a violência ligada ao tráfico de drogas. É preciso dizer que esse tráfico tem ligação direta também com a própria polícia. Vários policiais fazem parte do esquema do tráfico, lucram com isso e ainda instauram um poder paralelo com as milícias, dizendo à população que vão protegê-la dos traficantes, quando na realidade é tudo um grande conchavo. O tráfico de drogas é uma das indústrias mais lucrativas do mundo, e o lucro não vai apenas para os traficantes que vivem na periferia, vai também para os “colarinhos brancos” que fazem o papel de manter o tráfico intacto da intervenção do estado.

Nós acreditamos que as drogas devem ser tratadas como um problema de saúde pública, e o usuário como paciente. Portanto, é necessário que o Estado descriminalize todas as drogas para ter o controle da produção e distribuição. Dessa maneira, será possível acabar com o tráfico e ter uma política de saúde e educação para os usuários.

Pelo fim da PM e da violência urbana
Até mesmo a ONU, em relatório divulgado recentemente, reconheceu a necessidade de se dissolver a PM. Nós achamos que é fundamental extinguir este formato de polícia e construir uma guarda eleita pela própria população, civil e democrática. A PM, ao invés de travar um combate à violência, a amplia.

A juventude do PSTU acredita que não é possível acabar com a violência sem travar uma dura luta contra o sistema capitalista. É este sistema que joga milhões de jovens na miséria, que coloca como única alternativa para a juventude o crime, a prostituição e o tráfico. É preciso que a juventude das periferias se organize em unidade com a classe operária para construir outra sociedade, uma sociedade sem exploração e sem miséria, que é a fonte de todas as violências.

O combate a isto se dará não com mais policiamento, mas com mais esporte, lazer e cultura para a juventude. Como não termos um Estado violento quando temos ainda várias escolas fechadas, com obras inconclusas pelo governo do Estado? A juventude precisa de Educação, cultura e lazer e não repressão!