Nas eleições de 1º de outubro, vamos ter uma luta muito particular. Não, não estamos falando de Lula x Alckmin. Estamos falando de outra que, apesar de não estar no centro da cobertura da grande imprensa, tem uma importância bem maior. Trata-se de saber em que medida os trabalhadores deste país vão expressar o surgimento do novo, de uma alternativa perante as duas opções burguesas, Lula e Alckmin. O voto em Heloísa Helena é a expressão do novo nestas eleições.

A grande imprensa, com o peso da TV e dos jornais, está fazendo a vida política do país girar ao redor do escândalo do dossiê e da possibilidade do segundo turno. A impressão é que a grande burguesia quer o segundo turno para enfraquecer Lula e torná-lo ainda mais submisso.

Estão agindo os mecanismos de pressão e manipulação da democracia burguesa, que de democracia real não tem nada. Existe um enorme descrédito nos políticos que cresce com a revelação de cada novo escândalo. Apesar de tudo isso, as pessoas estão sendo levadas a uma enorme polarização entre Lula e Alckmin. A grande desconfiança da população transforma-se em um voto no que existe de pior nos partidos e nos políticos deste país: a reeleição de Lula, com tudo o que ela significa de continuidade da corrupção e da política econômica ditada pelo FMI; ou o retorno do PSDB-PFL, das velhas oligarquias corruptas e também vendidas ao imperialismo.

As aparências enganam… e muito
Neste momento existe uma briga furiosa entre Lula e Alckmin, com a aparência de luta entre dois projetos. O conteúdo é de uma batalha pelo poder entre dois grupos que têm o mesmo projeto econômico (a continuidade do plano neoliberal e suas reformas), assim como a mesma corrupção. Lutam pelo poder para ver quem vai poder usufruir mais das regalias da corrupção.

Os trabalhadores iludem-se ao pensar que, elegendo um ou outro, sua vida vai mudar (ou não piorar). Mas vai piorar muito. Cada voto em Lula ou Alckmin é uma bala a mais na munição do PT ou do PSDB-PFL, que vai ser usada para atacar os trabalhadores e seus direitos. Uma vez eleito, qualquer um desses dois grupos vai impor um dos maiores ataques (e talvez o maior) já sofridos pelos trabalhadores do país.

É preciso que os trabalhadores saibam que, se optarem por Lula ou por Alckmin, estarão votando em quem vai tentar tirar seu direito às férias e ao décimo terceiro salário com a reforma trabalhista. Votarão em quem vai acabar com seu direito à aposentadoria antes dos 65 anos. Votarão em quem vai produzir mais e maiores escândalos de corrupção.

É como se houvesse uma eleição para o síndico de um prédio e os moradores estivessem votando majoritariamente em duas possibilidades: o síndico atual (que roubou o condomínio em um escândalo monumental), ou o síndico anterior (que caiu por ter roubado o condomínio). Resta uma pergunta: por que os moradores não escolhem uma terceira alternativa?

Eleição é parte de uma luta que não se esgota em 1º de outubro
É esta exatamente a questão: a necessidade de uma alternativa nacional, contrária aos dois blocos majoritários. Essa alternativa eleitoral tem nome, é Heloísa Helena, a candidata da Frente de Esquerda. Mas, dirão muitos, “ela não tem chances”. É provável que Heloísa não vá para o segundo turno. Mas esta eleição não está decidindo somente isso.

Se os trabalhadores brasileiros votarem maciçamente em Lula ou Alckmin, retomando a polarização eleitoral e limitando a votação de Heloísa, se enfraquecerá uma alternativa dos trabalhadores, que será necessária na luta contra as reformas do próximo governo, seja Lula ou Alckmin. Esta eleição é parte de uma grande luta, que será resolvida pela mobilização direta talvez já a partir de 2007. Uma grande votação em Heloísa enfraqueceria os dois blocos majoritários e fortaleceria essa luta.

A mesma coisa vale para a eleição dos deputados. Nesta eleição manipulada, a maioria dos eleitos deve ser desses blocos majoritários, incluindo também PMDB, PP, PTB, etc. Os mensaleiros e sanguessugas vão ser reeleitos e a maioria do congresso vai apoiar as reformas trabalhista e da Previdência, em troca de mais dinheiro da corrupção.

Será necessário repetir no Brasil o que a juventude francesa fez, barrando a reforma trabalhista com grandes mobilizações, com a ação direta das massas, mesmo com a maioria do parlamento a favor das reformas. Para isso, será necessário também eleger deputados comprometidos com a mobilização contra as reformas, para ecoar esta luta no congresso.

Por isso, votar nos candidatos a deputados do PSTU é votar no reforço da luta contra as reformas. É votar em quem não vai se abster ou votar a favor desses ataques. É votar em quem vai estar nas ruas e nas greves, como parte da ação direta das massas, ao mesmo tempo em que usará a tribuna do parlamento para ecoar essas lutas.

O voto em Lula ou Alckmin é realmente um voto útil… para os banqueiros, para Bush, para os que se aproveitam da corrupção, para as grandes empresas que vão se beneficiar das reformas. O voto em Heloísa e nos candidatos do PSTU é um voto útil para os trabalhadores e suas lutas.

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Post author Editorial do Opinião Socialista 276
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