A história do Haiti é combinação da selvagem exploração colonial imperialista com heróicas lutas de resistência empreendida pelo seu povo.

O país foi palco da primeira revolução anti-colonial da América Latina. Na época, o Haiti era mais uma das colônias francesas, cuja economia girava em torno da exploração da cana de açúcar produzida por escravos negros africanos. No momento da revolução, em 1804, a população negra chegou a ser dez vezes maior do que a população branca de homens livres. Inspirada pelos ideais de liberdade da revolução francesa (1789), a revolução haitiana foi a primeira revolução vitoriosa da história, cujos protagonistas foram os escravos.

Foi através de Toussaint Louverture, líder militar das tropas rebeldes, que se deram os principais episódios que levaram à independência do Haiti. Em 1803, Louverture morreria nas masmorras de Napoleão Bonaparte. No entanto, preconizou: “derrubando-me a mim, não abateram o tronco da árvore da liberdade dos negros”. A história confirmou suas palavras e a continuidade da luta do povo haitiano levou a conquista da independência em 1804.

Mais de 200 mil pessoas morreram na luta pela revolução e a economia do país foi arruinada. A “ousadia” do povo haitiano foi respondida pelas nações coloniais com isolamento e marginalização. Temiam que a luta pelo fim da escravidão e pela independência servisse de exemplo para a América espanhola e para outras regiões escravagistas, como Brasil e os EUA.

No Brasil do começo do século 19, então colônia portuguesa, os ecos da revolução haitiana se tornaram uma das mais perturbadoras preocupações das elites escravocratas. O impacto e o medo de que uma revolução de escravos negros pudessem se repetir no Brasil (na época uma a maior colônia escravagistas do mundo) foi semelhante ao temor da expansão da “ameaça comunista” depois da revolução cubana de 1959.

Por outro lado, a independência haitiana ainda sofria com as ameaças da antiga metrópole francesa. Somente em 1838, a França reconhece o status do Haiti como nação independente, depois que o país aceitou pagar uma “dívida” de 90 milhões de francos como “compensação” aos colonos franceses. Durante o século 19, o peso dessa dívida nas finanças do Haiti, a devastação das florestas e o empobrecimento do solo causado pela exploração excessiva no período colonial afetaram o desenvolvimento da nova República negra.

Um novo amo
No século 20 emerge como potência dominante o imperialismo norte-americano, que desenvolve na América Central e no Caribe uma política de intervenção colonial. Em 1915, o imperialismo ianque ocupa o Haiti onde permanece até 1934. Depois, em 1957, os EUA irão apoiar a sangrenta ditadura dos Duvalier. Nessa época ficam famosos os crimes da Tonton Macoute, polícia repressora dos Duvalier. A ditadura é finalmente derrubada em 1986 por uma imensa rebelião popular.

A última invasão imperialista foi realizada em 2004, para derrubar o então presidente Jean-Bertrand Arisitide, um sacerdote católico prestigiado entre a população mais pobre, durante a luta contra a ditadura dos Duvalier
Apesar da aura “progressista”, o governo Aristide se comprometeu a aplicar uma política pró-imperialista baseada no receituário neoliberal do FMI. Isto provocou uma ruptura com a base política que o sustentava, além de um forte enfrentamento com outros setores burgueses haitianos, gerando uma polarização com a participação de diversas frações armadas.

Ocupação
Temendo uma situação cada vez mais incontrolável, os EUA decidem invadir o país; derrubam Aristides e o levam para o exílio. Em seguida, os soldados norte-americanos foram substituídos pelos soldados da ONU e assume o manto supostamente de ajuda “humanitária”. Afinal, Bush precisava concentrar todos seus esforços militares na guerra do Iraque e a ONU envia 10 mil soldados de diversos países, liderados pelo Brasil. O apoio da ONU foi uma tentativa de camuflar o verdadeiro papel das tropas de ocupação, que estão lá a serviço do imperialismo. Couberam aos chamados governos “progressistas” do continente – como o Brasil, a Argentina, o Chile e o Uruguai – a vergonhosa tarefa de socorrer o imperialismo e reprimir o povo haitiano.

O governo Préval
Em fevereiro de 2006 são realizadas novas eleições presidenciais do país. René Préval, antigo colaborador de Aristide, foi eleito presidente capitalizando o prestígio que o antigo presidente conserva entre as massas pobres. O imperialismo, porém, tentou promover uma fraude eleitoral para beneficiar Leslie Manigat, seu candidato nas eleições. Mas a tentativa foi derrotada pelas massas haitianas, que foram às ruas exigindo o reconhecimento da vitória eleitoral de Préval.

Préval, entretanto, nunca se posicionou contrário à ocupação. Durante as eleições, declarou que as tropas deveriam permanecer “o tempo que fosse necessário”. Seu governo hoje tenta reconstruir o Estado burguês e seu aparato repressivo, a Polícia Nacional Haitiana, com base na presença militar da ONU. Tornou-se um governo tutelado pelas forças militares da repressão. É uma rara combinação de um governo de frente popular, apoiado em um regime baseado na ocupação militar estrangeira.

Mas seu plano poderá ser atrapalhado. Cada vez mais, a população manifesta seu repúdio às tropas de ocupação, protagonistas de vários escândalos de violação dos direitos humanos. O que certamente provocará enfrentamentos com o governo Préval.
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