Algumas vezes os atores de um momento histórico não têm a dimensão do que estão fazendo. Pode ser que isso se dê neste momento, em que a Conlutas convoca um Congresso Nacional dos Trabalhadores, com o objetivo de formar uma alternativa à CUT.

Os que estiveram no antigo estúdio Vera Cruz (um galpão antes utilizado pelo cinema nacional), em São Bernardo do Campo (SP) em 1983, para a fundação da CUT, sabiam que algo novo e importante estava sendo feito. Mas não tinham idéia da dimensão.
Os que viveram aquele momento sentirão que o tempo passou. Ainda será possível para os mais antigos, lembrar da agitação daqueles dias, dos 5.054 delegados chegando, a improvisação para abrigar os que vieram de longe.

Que diferença entre aqueles delegados, operários e camponeses, metalúrgicos e bancários, gente simples e aguerrida, e a CUT de hoje. Talvez se possa tomar como imagem símbolo da CUT atualmente, um Luís Marinho, presidente da central até há poucos meses, hoje ministro do Trabalho. Marinho era metalúrgico da Volks, hoje usa ternos alinhados. No momento em que escrevemos, esta fábrica entra em sua terceira semana de uma greve duríssima, e Marinho não pisou na empresa.

A CUT foi fundada com um programa contra o pagamento da dívida externa. O governo de Lula e Marinho já pagou R$ 105 bilhões de juros da dívida de janeiro até agora. A CUT acaba de ajudar os banqueiros a fazer os bancários aceitarem um reajuste de 6%, depois de aumentarem seus lucros, só neste ano, em 52%.

Na verdade, o governo do qual Marinho é ministro, a CUT que ele presidiu, não têm nada a ver com o passado. Estão, na verdade, do outro lado, o dos patrões, fazendo a mesma coisa que os pelegos do passado faziam.

O congresso convocado pela Conlutas tem um sentido histórico: o fim do ciclo da reorganização do PT/CUT. Essas organizações, que foram a representação de toda uma geração de lutadores, de uma gigantesca onda de greves, foram também a expressão da maior decepção da história do movimento operário brasileiro. Poucas classes operárias no mundo viveram um sonho tão popular, com a eleição de sua maior liderança para o governo. Poucas tiveram decepção tão profunda com o desabamento de suas esperanças, com um governo neoliberal e corrupto.

Lula vai seguir, assim como o PT e a CUT. Mas não serão nunca mais os mesmos. Não carregarão consigo a bandeira dos que lutam e sonham. Carregarão seguramente outras, as dos oportunistas de sempre, dos carreiristas e representantes da patronal.

O PSDB e o PFL gostariam de passar para o povo a idéia de que a esquerda é o PT e a CUT, que o fracasso petista é o fracasso da esquerda. Gostariam de repetir no Brasil, o que o imperialismo apregoou em todo o mundo, a partir do desabamento das ditaduras stalinistas do leste: que o socialismo é igual ao stalinismo, que o socialismo morreu. Poderiam assim capitalizar o desgaste do PT, que no fundo se dá pelos mesmos motivos pelos quais FHC foi varrido em 2002: o mesmo plano econômico, a mesma corrupção.

Mas, as faixas e bandeiras vermelhas, no entanto, não desapareceram. Continuam presentes nas falas da oposição bancária, nas assembléias de greve contra os amigos dos banqueiros e de Marinho. Nas greves em que a direção da CUT é vaiada. Nas passeatas da Conlutas. Em cada um dos sindicatos que se desfilia da CUT e vota a adesão à Conlutas.

Quando em abril, o congresso convocado pela Conlutas se reunir, poderemos estar participando de um fato histórico, semelhante ao que vivemos há mais de vinte anos. Poderemos estar começando um novo ciclo de reorganização do movimento operário no país.

Alguns dos velhos camaradas, já com cabelos brancos, que estiveram na fundação da CUT, estarão também na formação da nova organização. As novas gerações de lutadores já surgem – e surgirão cada vez mais – sem o peso dessa experiência, mas também sem o fardo das derrotas passadas. Nas novas lutas, nas novas gerações de ativistas estará colocada cada vez mais a tarefa da construção do novo.

O Opinião Socialista tem orgulho de publicar em sua páginas centrais, neste e nos próximos números, a discussão desse projeto. O PSTU apóia a Conlutas desde seu início, junto com ativistas independentes e de outras organizações. Chegou a hora de construir uma nova direção.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 237
Publication Date