O governo vai enviar o equivalente ao Bolsa Família de um ano ao FMILula disse que o país está mais chique. No último dia 9 de abril o governo anunciou que vai emprestar dinheiro ao FMI. O convite teria partido do próprio Fundo.

De imediato, o Brasil vai deixar à disposição do FMI 4,5 bilhões de dólares, valor igual à cota que o país já destina normalmente ao fundo. Na prática, vai trocar esses dólares por uma unidade monetária própria do FMI, chamada “Direito Especial de Saque”.

Além desse empréstimo, o governo Lula já anunciou sua disposição de emprestar ainda mais ao fundo. Esse aporte extra viria após o FMI emitir títulos específicos para captar mais recursos. Os valores desse novo empréstimo ainda não foram definidos, mas na reunião do G20 o governo chegou a falar em 10 bilhões de dólares. Com isso, o montante de repasses do Brasil ao fundo seria de 14,5 bilhões de dólares, fora sua cota de participação.

O governo e o conjunto da mídia comemoraram o que avaliam ser o “novo papel” do Brasil na instituição. Após a reunião do G20 em Londres, o Brasil teria galgado uma posição superior na definição da política mundial. O empréstimo ao FMI selaria, desta forma, esse cenário que Lula chegou a chamar de nova “geografia do mundo”. De devedor a credor do FMI. Mas será que é isso mesmo o que acontece?

Aval do FMI
Como o próprio ministro da Fazenda Guido Mantega explicou, o convite do FMI feito ao Brasil é realizado aos países com bons resultados no Balanço de Pagamentos e nas reservas internacionais. O Balanço de Pagamentos é a conta de todas as transações e remessas, comerciais ou financeiras, feitas pelo país com o exterior. Ou seja, é o registro de tudo o que entra e sai do país. Durante anos, o FMI impôs ao Brasil uma política econômica recessiva, baseado no corte das despesas do governo e de estímulo ao investimento especulativo estrangeiro. Tudo para o país acumular dólares e garantir o pagamento dos juros da dívida pública.

O governo Lula adotou e ampliou essa orientação. O crescimento econômico dos últimos anos possibilitou ao país acumular divisas, mesmo que à custa de sucessivos cortes no orçamento. Com reservas de 202 bilhões de dólares, o país pode garantir, a curto prazo, o pagamento dos juros da dívida. E é isso o quem vem fazendo. Só em 2008, entre juros e amortizações, o Brasil pagou R$ 334 bilhões, o que dá quase 160 bilhões de dólares. Para esse ano, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, estão previstos R$ 234 bilhões.

Um crime contra a soberania
O crescimento econômico foi a base para o governo pagar as dívidas antecipadamente ao FMI. Lula capitalizou esse fato, como se estivesse se afastando do fundo e defendendo a soberania nacional. O que ocorre, porém, é o oposto. O papel do FMI é impor programas econômicos aos países coloniais e semi-coloniais. O governo Lula pagou antecipadamente a dívida com o FMI, e seguiu aplicando o mesmo plano econômico imposto pelo Fundo junto com o governo FHC. O plano do FMI seguiu sendo aplicado no Brasil, mas agora com a cara de Lula.

Uma atitude real de soberania seria ter rompido com o fundo, abandonado seu plano econômico e ter deixado de pagar a dívida externa. Com a crise econômica, o Brasil vai agora emprestar recursos ao FMI, que vai utilizá-los para impor planos de ajustes neoliberais. Como da outra vez, o gesto de Lula está sendo comemorado pelo governo e a imprensa como um avanço na soberania do país. Agora, o país poderia opinar nas decisões econômicas do mundo.

Trata-se exatamente do oposto. O governo Lula é muito bem visto pelos governos imperialistas por aplicar o mesmo plano econômico apoiado pelo FMI, mas ser ao mesmo tempo um governo com apoio entre os trabalhadores. Lula, no entanto, não participa das reuniões do G-20 ou do FMI para defender os interesses dos trabalhadores e do Brasil. Não se conhece nenhuma batalha dada por ele nesses organismos contra as propostas do imperialismo. Mas se conhece bem o plano econômico aplicado no Brasil que, coincidentemente, é idêntico ao imposto pelo FMI.
Lula, ao enviar dinheiro para o Fundo, estará fazendo um atentado gravíssimo contra a soberania do país. Apóia politicamente o FMI, que está sendo questionado em todo o mundo pelos planos neoliberais que impôs. E agora vai, diretamente, financiar essa política anti-operária em outros países.

Financiando a política imperialista
As principais potências e os países reunidos no G20 justificaram a política de fortalecimento do FMI afirmando que era necessário ajudar os países em dificuldades. Países como os do Leste Europeu, como Hungria e Letônia, cuja quebra poderia arruinar grandes bancos da Europa, aprofundando ainda mais a crise. Ou países como o México, que acabou de pedir ajuda de 47 bilhões de dólares ao fundo.
O que ocorre, porém, é que não são apenas esses países periféricos que estão à beira da bancarrota. Países imperialistas correm o risco de quebrarem. A própria Inglaterra, que padece de uma dívida pública calculada em 80% de seu PIB, pode se ver obrigada a pedir ajuda ao FMI.

Ou seja, diante do agravamento da crise econômica mundial, a capitalização do FMI torna-se imprescindível para resguardar, em última instância, as grandes potências imperialistas.

Essa foi, na verdade, uma das duas resoluções centrais da reunião do G20: fortalecer o FMI para tentar impor novamente planos de arrocho aos países. A outra foi estender a todo o mundo a política dos EUA de injetar grandes somas de dinheiro público para salvar as empresas falidas.

O pedido de recursos do FMI revela, assim, a um só tempo a gravidade da crise, sua própria decadência e a disposição do governo Lula de atuar, alegremente, como seu cão de guarda entre os “emergentes”. Um papel nada chique.

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