O Encontro Nacional do dia 25 é um marco na mobilização contra as reformas neoliberais do governo Lula. Nunca antes tínhamos conseguido reunir um tamanho leque de movimentos sociais e forças políticas ao redor de um plano de ação e palavras-de-ordem comuns.
Para se ter uma idéia da dimensão dessa frente, basta ver a lista das entidades que convocam o encontro: Conlutas (que esteve no centro da sua convocação e preparação), maioria das entidades nacionais do funcionalismo público (Fenasps, Condsef, ASSIBGE, Fenafisco, além do Andes e Sinasefe, filiados à Conlutas), pastorais sociais, diversas confederações, Intersindical, entidades estudantis (Conlute e outras) e populares (MTST e MST), além de muitas outras organizações sindicais.
Esta frente pode dar um salto se formarmos nesse Encontro um Fórum de Lutas para encaminhar as mobilizações contra as reformas do governo.
Como foi possível alcançar essa unidade
Conseguir a unidade na luta dessas forças está sendo possível por dois motivos. O primeiro é que existe um impulso vindo da base, no sentido de preparar essa luta. Podemos sentir nas reuniões prévias, nas categorias, uma disposição nova. Não é por acaso que o número de presentes deve ser muito superior às previsões iniciais. Pode ser que esteja começando a se expressar no Brasil a esquerdização presente na América Latina, como preparação para grandes lutas.
O segundo motivo é a idéia que originou esse encontro, de buscar a unidade na luta entre setores diferentes. Isso, que é extremamente simples, não é a norma corrente na relação entre os setores de esquerda. Muitas vezes, predomina um espírito mesquinho e sectário, que privilegia a manutenção do espaço de cada corrente em detrimento da busca da luta unificada. Esse encontro marca uma postura diferente que tornou possível a unidade, pela primeira vez, nessas dimensões, mesmo enfrentando a dificuldade de lutar contra um governo do PT.
Importância da presença do MST e um chamado ao movimento
Das organizações presente ao encontro, salta à vista a incorporação do MST. Queremos, antes de tudo, saudar os companheiros por sua presença num evento que prepara uma luta clara contra os planos neoliberais do governo Lula.
O Movimento dos Sem-Terra ganhou um enorme respeito dos ativistas de todo o país por ocupar terras em defesa da reforma agrária. No entanto, desde a posse de Lula, o MST, por seu apoio ao governo, vem perdendo o capital político acumulado em anos e anos de luta. Até agora, a direção do MST vinha dizendo que o inimigo era o imperialismo e que era necessário apoiar Lula, para evitar a direita.
Agora, tudo indica que Lula vai ainda mais para a direita, rompendo com as expectativas da direção do MST de que o segundo mandato fosse mais à esquerda. Embora a direção do MST tenha aumentado as críticas ao governo, infelizmente ainda não rompeu com ele. Segue dizendo que Lula não é nosso principal inimigo, que é preciso lutar contra o imperialismo e não contra o governo.
Como acreditamos que o MST tem uma grande importância para a evolução das lutas no campo, gostaríamos que os companheiros tirassem conclusões das seguintes questões.
Em primeiro lugar, quem é hoje o principal ponto de apoio do governo Bush no Brasil? Não se pode dizer que é o PSDB e o PFL. Foi Lula quem decidiu pelo envio das tropas brasileiras para o Haiti e assegurou os maiores lucros da história para os bancos. Não foi por acaso que vimos Lula e Bush abraçados nesta última visita do norte-americano, enquanto os militantes da Conlutas e do MST (entre outras organizações) eram reprimidos pela polícia.
Em segundo lugar, Lula é o grande defensor do agronegócio ou da reforma agrária? Segundo os dados do próprio MST, o governo do PT manteve a mesma política de FHC para estimular o agronegócio e não fazer a reforma agrária. Aliás, Lula utiliza a mesma tática de FHC de inflar os números de assentamentos. Pelo menos 48% dos números divulgados seria fruto de governos anteriores e só 25% das famílias foram assentadas em terras desapropriadas. É preciso que se diga a verdade: Lula é o governo do agronegócio, inimigo da reforma agrária.
Em terceiro lugar, qual é o governo responsável por gravíssimos ataques ao movimento de massas, como a transposição do Rio São Francisco, a liberação dos transgênicos e o plano do etanol? Todas essas definições foram ou estão sendo tomadas no governo Lula e não nos governos da direita de antes.
Agora, liguemos as coisas. Se Lula é o maior ponto de apoio de Bush no Brasil, é o defensor do agronegócio e o inimigo da reforma agrária, responsável pela transposição do São Francisco, pela liberação dos transgênicos e pelo plano do etanol, como a direção do MST pode dizer que o governo do PT não é nosso inimigo? Como lutar contra esses planos sem enfrentar o governo que é o responsável por eles?
Por isso, além de saudar a presença do MST no Encontro, queremos chamá-los a romper com o governo Lula. Só assim poderá avançar de forma conseqüente na luta. Só poderemos derrotar a reforma da Previdência, por exemplo, se lutarmos contra Lula, que vai apresentar essa proposta ao Congresso e defendê-la.
Depois do Encontro, vamos às bases
Caso consigamos nesse Encontro conformar o Fórum de Lutas e definir o plano de ação unitário, todos os esforços deverão estar centrados em levar suas conclusões para as bases.
Teremos de fazer um enorme esforço para transformar essas idéias em movimentos reais dos trabalhadores, estudantes e movimentos populares, construindo uma grande jornada de luta contra a reforma da Previdência e contra as outras reformas neoliberais. Construindo um forte 1º de maio alternativo e uma grande mobilização em Brasília no segundo semestre. Apoiando e unificando as ocupações e as lutas salariais concretas dos trabalhadores.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 292
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