A rede de TV pública australiana SBS (“Special Broadcasting Service”) exibiu na quarta-feira, 16 de fevereiro, novas fotos da prisão de Abu Ghraib, em 2003, com iraquianos sendo torturados por soldados das forças de ocupação. A divulgação de casos de “homicídio, tortura e humilhação sexual“ envolvendo as tropas anglo-americanas deslocadas para a ocupação do Iraque indicam que os crimes teriam sido ainda piores do que já se sabia. Algumas fotos mostram corpos de presos mortos dentro de Abu Ghraib, enquanto outras revelam detentos com feridas na cabeça e no corpo. A TV australiana advertiu, antes de exibir as imagens, que “estas são fotos que o governo norte-americano não quer que você veja“.

A jornalista da SBS, Olivia Rousset, disse à BBC inglesa que uma das fotos mostra um oficial de alta patente iraquiano sendo tratado de profundos ferimentos no pescoço após ter resistido enquanto era transferido entre celas do complexo carcerário. Outras fotos mostram um detento obrigado a cobrir-se de excrementos e uma sala banhada de sangue. Um homem nu também é visto pendurado de cabeça para baixo em um beliche enquanto que outro, encapuzado e vestido com um uniforme laranja de prisioneiro, é, aparentemente, ameaçado por um cão. Um preso exibe as cicatrizes em seu antebraço esquerdo que parecem terem sido causadas por queimaduras e um outro agoniza sobre uma maca, coberto de sangue. Ao todo, são pelo menos 100 fotos de presos sendo torturados e agredidos por soldados norte-americanos e quatro vídeos com o mesmo teor. O material foi confiscado por militares em Abu Ghraib e entregue para a Divisão de Investigações Criminais do Exército dos EUA.

O programa Dateline da SBS exibiu ainda trechos de um vídeo em que homens enfileirados estariam sendo forçados a se masturbar em frente à câmera. Outro vídeo parece mostrar um prisioneiro batendo a própria cabeça contra a parede. O fato mesmo de que as imagens provenham da Austrália – um dos mais fiéis aliados militares dos EUA no mundo, tendo participado das operações no Iraque com cerca de 900 soldados – demonstra a abrangência da crise imperialista.

Cenas de barbárie
Alguns guardas identificados com os abusos de presos, praticados em 2003 no Iraque, já foram a julgamento militar nos EUA. Alguns, que já receberam sentenças de prisão, como a militar Lynndie England, aparecem nas novas imagens. A emissora garante que há fotos não-reveladas que a exibem praticando atos sexuais com os carcerários. Algumas das novas fotos trazem ângulos diferentes de cenas já conhecidas em todo o mundo, como a de um homem encapuzado com fios amarrados aos dedos, presos nus obrigados a se empilhar uns sobre os outros e, ainda, presos sendo ameaçados com cachorros.

De acordo com a emissora australiana, as novas imagens já haviam sido exibidas em sessões reservadas a membros do Congresso norte-americano. “Eles ficaram chocados com essas imagens adicionais, que revelaram o horror completo dos abusos que aconteciam em Abu Ghraib“, revela a TV SBS.

De acordo com a emissora, essas imagens são motivo de disputa judicial nos Estados Unidos, onde o governo se esforça para evitar que a imprensa tenha o direito de levá-las a público. Uma porta-voz da SBS se negou a revelar como as fotos foram obtidas, mas acrescentou que a rede tem “confiança na credibilidade da fonte“ dessas fotos e vídeos.

Em setembro do ano passado, um juiz de Nova York autorizou uma requisição da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, sigla em inglês) para ver as imagens censuradas. O grupo utilizou a lei da Liberdade de Informação para conquistar esse direito na justiça. “As fotos devem ser liberadas para que o público tenha alguma idéia do que ocorreu em Abu Ghraib”, disse Amrit Singh, da ACLU, à rede SBS. “É o público que deve decidir, ao ver as imagens, o que é preciso ser feito”. Amrit Singh, um porta-voz da ACLU, disse esperar depois do programa que a divulgação destas novas imagens possam acentuar a pressão sobre o governo americano para que puna os altos-comandos do Exército, e não apenas os sete soldados de patente inferior como Lynndie England, condenados à uma pena máxima de dez anos.

Em maio de 2004 – em um comitê de inquérito das forças armadas no Senado – o secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, afirmou que nem todas as imagens de abusos em Abu Ghraib haviam sido divulgadas publicamente. O desespero do governo Bush – patente no esforço conjunto dos aparelhos repressivos e ideológicos do Estado norte-americano, como o Pentágono ou o judiciário, em ocultar as cenas nuas e cruas da ocupação – revela a mais absoluta hipocrisia e cinismo da ocupação imperialista do Iraque, através das mais sórdidas, abjetas e repugnantes evidências de sistemático desrespeito ao direito internacional e, ainda, à tão propalada “liberdade de imprensa”. A crise que se instalou no Iraque demonstra de forma aguda, e dramática, a férrea disjuntiva histórica – socialismo ou barbárie – abrindo-se em toda sua profundidade.

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