A Ambev, maior cervejaria do mundo, teve de se curvar diante da vontade de seus trabalhadores. Nos dias 23 e 24, os trabalhadores da filial de Jacareí (SP) reprovaram o regime de banco de horas. A decisão foi tomada em assembléia na portaria da empresa e contou com a participação de 722 trabalhadores. Foram 385 votos contra e 337 a favor do banco de horas.

Este resultado é importante não só para os trabalhadores da Ambev, mas para toda a região de Jacareí e São José dos Campos. Coincidentemente, a General Motors propôs esse debate na semana passada ao Sindicato dos Metalúrgicos.

A Ambev é dona de 68,3% do mercado nacional, que produz 90 milhões de hectolitros de cerveja por ano. Para reduzir seus custos ela aplica o banco de horas em todas as unidades do Brasil e da América Latina. Não foi à toa que somente em 2006 a empresa obteve um lucro de R$ 2,8 bilhões, 81% maior em relação a 2005.

A unidade de Jacareí, cujo sindicato nunca assinou tal acordo, foi a única em que os trabalhadores não aceitaram o banco de horas. Aliás, o sindicato sempre apostou na luta e na unidade dos trabalhadores. Vale lembrar que o Sindicato da Alimentação de São José e Região foi o segundo do país a se desfiliar da CUT.

Mesmo assim, a empresa conseguiu em 2004 derrotar os trabalhadores e implantar esse regime. Para isso, desviou a produção de Jacareí, quase fechando a fábrica, demitiu mais de 130 funcionários e enfraqueceu a organização sindical. Para tentar legalizar o banco de horas, a Ambev contou com o apoio da Força Sindical e da CUT.

O sindicato foi para cima e realizou uma série de protestos e manifestações, chegando a ocupar a sede da empresa em São Paulo em janeiro de 2004. O que rendeu algumas multas, interdito proibitório (ação judicial que impede qualquer atuação sindical na portaria da empresa) e prisão de dirigentes sindicais.

Nos anos seguintes, a Ambev só conseguiu manter esse regime por meio de muita pressão, autoritarismo e repressão. Ela impediu assembléias e contou novamente com o apoio das centrais pelegas para tentar legalizar o banco de horas sem assinatura do sindicato.

A derrota do banco de horas na Ambev não é somente uma conquista dos trabalhadores de Jacareí. Ela mostra que é possível lutar e vencer, mesmo que seja um império mundial como a Ambev.