Ganharam destaque novamente as investigações policiais conduzidas pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz. Recentemente, a revista Veja publicou a reportagem “A tenebrosa máquina de espionagem do Dr. Protógenes”, em que chovem acusações sobre um suposto esquema de espionagem que teria sido montado pelo delegado.

Segundo a revista, com a ajuda de funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Protógenes teria investigado ilegalmente a vida de “peixes graúdos” do cenário político brasileiro. Na lista estariam o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, os senadores do DEM Heráclito Fortes (PI) e Antonio Carlos Magalhães Júnior (BA) e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

De acordo com Veja, as informações teriam sido extraídas de um computador pessoal de Protógenes e poderiam ser usadas como ameaça para “constranger autoridades”.

A matéria da revista é a mais nova tentativa da grande mídia de desmoralizar o delegado Protógenes. A perseguição começou depois que ele conduziu a Operação Satiagraha, iniciada no dia 8 de julho do ano passado e que resultou na prisão do banqueiro corrupto Daniel Dantas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e do megaespeculador Naji Nahas. Desde então, juristas, políticos e jornalistas se uniram numa campanha para preservar os corruptos que o delegado ousou investigar.

Mexendo em vespeiro
A investigação da Satiagraha chegou a gravar uma tentativa de suborno realizada por assessores de Dantas a investigadores da Polícia Federal. Na gravação, um dos assessores diz que o banqueiro “tem um trânsito ferrado no Supremo” e que “lá em cima ele segura”. Na época, Dantas foi preso duas vezes por determinação do juiz federal Fausto de Sanctis e também liberado nas duas ocasiões por Gilmar Mendes.
Mas o presidente do STF não ficou satisfeito com a soltura de Dantas. Ele ainda tentou retaliar o juiz Fausto de Sanctis com denúncias na Corregedoria da Justiça Federal, numa clara demonstração de pressão sobre o juiz.

Daniel Dantas é um dos maiores corruptores da República. A lista dos crimes do banqueiro, segundo a investigação da Polícia Federal, é imensa. Ele é acusado de corrupção ativa, evasão de divisas, uso indevido de informações privilegiadas, gestão fraudulenta, empréstimos vedados, lavagem de dinheiro, trafico de influência e formação de quadrilha, entre muitos outros crimes.

O banqueiro sempre atuou nos bastidores de todos os governos, de Collor a Lula. No comando do banco Opportunity, Dantas se tornaria um dos barões das privatizações realizadas por Fernando Henrique. Sob o governo Lula, foi acusado de ser um dos grandes financiadores do mensalão petista, conforme revelado na CPI dos Correios. Outra marca da trajetória do banqueiro é sua presença no seleto e poderoso grupo dos financiadores privados de campanhas eleitorais. Praticamente todos os grandes partidos receberam dinheiro de Dantas.

Mas não foram suficientes as investigações, que mostraram fortes indícios das maracutaias de Dantas, tampouco as gravações da tentativa de subornar os investigadores. Após a divulgação da Satiagraha, o delegado Protógenes foi afastado do inquérito, numa clara tentativa de fragilizar a continuidade das investigações.
Quase todas as semanas o delegado é acusado de representar uma ameaça ao “estado de direito” ou de querer impor um “estado policial” no país. Acusações que são repetidas por toda a grande imprensa. De investigador, Protógenes passou a investigado. Em seguida, uma CPI foi criada no Congresso para investigá-lo e fazer de tudo para incriminá-lo. No dia 1º de abril, Protógenes irá depor na comissão.
Enquanto isso, Dantas continua livre e segue sua rotina de negócios escusos.

O erro de Protógenes
O erro do delegado não foi ter investigado importantes figurões e notórios corruptos. Ele falhou ao acreditar que seria possível enfrentá-los com o aparelho do Estado e sua Justiça. Na justiça burguesa, nem todos são iguais perante a lei. A justiça tem lado, o daqueles que têm muito dinheiro e são poderosos. Mesmo que um empresário corrupto fosse preso, ele teria como contratar advogados que utilizam todas as inúmeras brechas da lei para atrasar ou impedir os julgamentos. Ou simplesmente comprar os juízes e jurados de um caso para serem absolvidos.

A Justiça atual é parte de um Estado que serve à dominação da grande burguesia. Na Justiça dos ricos, o aparato repressivo do Estado (inclusive a própria Polícia Federal) é utilizado para espionar e reprimir os movimentos sociais. Muitas vezes a PF e a Abin monitoram as mobilizações dos trabalhadores no país, ocupações de terras e de terrenos e prédios urbanos.

Nesses casos, os grampos telefônicos são utilizados para criminalizar os movimentos e ninguém fala em ameaça ao “estado de direito” ou de “estado policial”. Esse tipo de espionagem é uma prática constante e foi confirmada até pelo presidente da Associação dos Servidores da Abin, Nery Kluwe de Aguiar Filho. “Quando se reúnem três sindicalistas e dois líderes do MST para iniciar uma marcha, o GSI aciona a Abin para acompanhar isso. Somos obrigados até a procurar boi no pasto e a vigiar invasão de estudante em reitoria”, disse o agente em uma entrevista à Folha de S. Paulo em setembro de 2008.

Para os pobres e lutadores, a punição é implacável. Para os ricos, sempre há um jeitinho de livrar a cara de políticos corruptos, empresários e endinheirados. Talvez seja isso que Protógenes começou a compreender…
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