Existem dois brasis. Um deles inclui o Senado Federal, a Câmara e o governo, apoiados socialmente num setor ativo da grande burguesia nacional e multinacional que controla o país. No outro, uma massa de trabalhadores com salários arrochados ou desempregados. Hoje, ainda por cima, amedrontados com a propagação da gripe suína.

Num desses brasis, Fernando Collor e Renan Calheiros, poderosos e influentes, ameaçam os que criticam Sarney. No outro, nenhum desses três poderia tomar a palavra sem ser vaiado e xingado. Collor é um dos maiores ladrões deste país e teve de engolir a arrogância quando seu governo foi derrubado por uma gigantesca mobilização. Renan é um corrupto que teve de renunciar à presidência do Senado pelas denúncias crescentes.

Num dos brasis, os senadores viajam para o exterior a passeio com seus familiares com tudo pago pelo povo. No outro, os trabalhadores passam horas e horas nas filas dos hospitais públicos, sem conseguir tratamento para a nova gripe.

O que mantém a situação política atual é que os trabalhadores de um dos brasis acreditam que o governo Lula é parte do seu Brasil. Não veem Lula como realmente é. Não entendem que sem Lula, Sarney hoje já não comandaria o Senado. Como o governo quer manter a aliança eleitoral com o PMDB para as eleições de 2010, não quer de forma nenhuma a queda do presidente da casa. O mesmo trabalhador que vaia Sarney, aplaude Lula que, por sua vez, mantém Sarney.

Os trabalhadores que estão sendo infectados pelo vírus H1N1 da gripe suína, ou quem teve um parente que adoeceu, conhecem a experiência de procurar o remédio Tamiflu e não conseguir. Ele fica irritado com o hospital que o atendeu, mas não sabe que o responsável é Lula, por não querer quebrar a patente do Tamiflu e distribuir gratuitamente a todos os pacientes infectados. O mesmo trabalhador apoia Lula e rejeita a política do governo para a saúde.

Agora, ainda apoiando o governo, os trabalhadores vão se mobilizar em defesa de seus salários nas campanhas salariais do segundo semestre que estão começando. Metalúrgicos, bancários, petroleiros, operários da construção civil, mineração, funcionários públicos, trabalhadores dos Correios, e outros vão ter uma experiência concreta em suas lutas que pode levá-los a tirar suas próprias conclusões sobre quem são seus verdadeiros aliados.

Os ativistas e dirigentes sindicais têm, agora, uma enorme responsabilidade: é o momento no qual os sindicatos e entidades devem buscar unificar as campanhas salariais e conseguir vitórias em suas lutas concretas. A Conlutas tem um papel fundamental neste processo, porque desenvolverá esta mobilização se enfrentando com os pelegos da CUT e da Força Sindical, que vão tentar bloquear essas lutas.

Mas é também o momento no qual a Conlutas e outras entidades de peso devem assumir a politização dessas lutas. Devem levantar o “Fora Sarney” e exigir de Lula que autorize a quebra da patente do Tamiflu e a distribuição gratuita a todos os pacientes gripados.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 384
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