Manobras têm como objetivo centralizar o poder nas mãos da executiva da entidadeA direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (liderada pela CUT/Articulação) prepara um grande golpe contra os trabalhadores: o fim das comissões de fábrica na Volkswagen, na Ford e na Scania. Na Kostal (autopeças), ela já acabou há tempos.
O fim das comissões tem como objetivo centralizar o poder nas mãos do Comitê Sindical de Empresa (CSE), ou melhor, na executiva do sindicato. Tudo isso para evitar qualquer oposição, para que eles possam servir à presidente Dilma da melhor forma.

Organização da classe
A organização dos trabalhadores por local de trabalho é uma de suas maiores conquistas, produto de um processo de grandes mobilizações.
Resguardando as devidas proporções, podemos citar três processos onde surgiram organizações no interior das empresas: na Revolução Russa, com o surgimento dos sovietes, um processo que organizou fábricas, bairros e soldados, num processo muito mais amplo. Em 1932, na revolução espanhola, surgiram comissões obreiras. No Chile, em 1979, foram os cordões industriais.

No Brasil, as comissões surgiram como produto das greves no fim dos anos 70 e início dos 80, e foram uma espécie de anúncio da derrubada da ditadura.
No dia 12 de maio de 1978, os metalúrgicos da Scania, no ABC paulista, cruzaram os braços e entraram em greve. Três anos depois da paralisação desses trabalhadores, surgiu a primeira comissão de fábrica dos trabalhadores da Ford.

Surgem as comissões de fábrica
Em 1980, a direção da Volks tentou se antecipar aos fatos e criou uma comissão da fábrica, mas os trabalhadores e o sindicato não a reconheceram. Apenas em 1982 surgiria uma verdadeira comissão. Nesse período, nasceram também as comissões da Scania e da Mercedes em 1984. Após uma greve, que resultou no acordo da campanha salarial, os trabalhadores se mantiveram parados exigindo suspensão das demissões, abono de 80 horas e comissão de fábrica. Depois de seis dias de greve, a empresa cedeu. Assim, como resultado de uma dura batalha, surgiram as comissões de fábrica do ABC, que se alastraram pelas categorias formando mais de trinta nas empresas metalúrgicas da região.

Esta poderosa organização, ao longo do tempo, foi sendo transformada pelos burocratas da Articulação (CUT) em organismo de colaboração entre a empresa e o sindicato. Em 1996, a diretoria do sindicato mudou sua estrutura de organização, criando os Comitês Sindicais de Empresa (CSE). No quinto congresso da categoria, a diretoria do sindicato já apontava para o fim das atribuições da CF, mas houve uma grande revolta entre os militantes da própria Articulação. Na época, o presidente do sindicato, hoje o atual prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho, teve que recuar.

Mesmo assim, a desconfiança se generalizou e foram construídas chapas de oposição na Scania, na Volks, na Kostal, na Metal Leve, entre outras. Foram também abortadas sob ameaça as chapas de oposição na Mercedes e Ford.

Para se ter uma ideia da força da CF, são aproximadamente 250 representantes com tempo livre no interior da empresa, somando-se a ela a Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), com o mesmo número de liberados.

Criação do SUR
As empresas preocupadas com a grande quantidade de liberados na fábrica, e o sindicato, preocupado com o crescimento da oposição, criaram o Sistema Único de Representação (SUR), que é a unificação da CF e da Cipa.
Com o SUR, esses dois problemas foram resolvidos pela patronal e pela burocracia. Para dar um exemplo, na Volks eram 25 membros da CF e 27 cipeiros, totalizando 52. Com o SUR, esse número cai para 25. Como a eleição para o SUR é por chapa, se reduz o número de trabalhadores críticos ao sindicato, já que a eleição na Cipa é individual e o trabalhador pode ser eleito sem ser apoiado pela diretoria. Na Scania, em junho, haverá eleição para preencher dois cargos da Cipa, e já não terá mais eleição para a comissão.

Novamente, a direção do sindicato tenta acabar com as comissões, desta vez de forma sutil, acabando com atribuições da CF como: poder de negociar demissões individuais e ritmo de trabalho, encaminhando a resolução dos problemas nas linhas de produção aos diretores do CSE e representantes da CF, passando a fazer o papel da Cipa.
Dessa forma, mantém o SUR para evitar a eleição individual na Cipa, provocando seu esvaziamento.

O que está por trás?
Todas essas manobras têm como pano de fundo a integração do sindicato ao governo. Para isso não pode haver oposição, que denuncia a parceria feita com os patrões e o governo.

Soma-se a isso o projeto de lei que está sendo elaborado pela diretoria do sindicato, em que o negociado fica acima do legislado. FHC tentou fazer uma lei com o mesmo conteúdo, mas foi derrotado pelo movimento sindical.

Apesar de as comissões de fábrica terem perdido muito de sua combatividade desde a década de 90, quando foi firmado o acordo das câmaras setoriais no ABC, elas ainda são importantes organismos da classe trabalhadora.
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