O senador Geraldo Mesquita (P-SOL-AC)
José Cruz / Agência Brasil

Adaptação ao parlamento leva partido a adotar vícios e práticas petistasUma denúncia contra o P-SOL foi publicada no Jornal do Brasil da última sexta-feira. Paulo dos Santos Freire, um ex-funcionário do escritório do senador Geraldo Mesquita (P-SOL-AC) denunciou que era obrigado a entregar 40% de seu salário para o parlamentar. Ele foi demitido em janeiro passado, por reclamar do confisco salarial e, para provar sua denúncia, gravou três conversas telefônicas com a chefe do escritório, Maria das Dores Siqueira.

A transcrição dos telefonemas, que confirma a extorsão, correu os jornais do país no último final de semana. Em um dos trechos da gravação, Maria reclama a Paulo, dizendo que continua dando parte do salário: “Tu ainda continua daquele mesmo jeito ainda, tirando do teu salário para pagar as coisas?”, pergunta Paulo. “É, daquele mesmo jeito”, reclama ela.

Cada senador recebe um salário de cerca de R$ 12.720 mensais, além de mais R$ 15 mil de verba indenizatória (para gastos no escritório, como papel e caneta). Fora isso, ganha ainda outros R$ 72 mil para pagar despesas com funcionários, incluindo salários. Com os 40% expropriados dos salários dos funcionários, Geraldo Mesquita receberia por mês mais R$ 28 mil (além dos R$ 27 mil de salários e verba de gabinete, o que chegaria a R$ 55 mil mensais).

O senador negou os fatos, e disse que esse dinheiro era uma colaboração “para comprar pó de café” para o escritório. Não se conhece no país, pó de café tão caro. Chamou ainda a chefe de gabinete, cuja conversa foi gravada de “imbecil”. Além disso, reclamou que a verba que recebe é “insuficiente”. No último dia 24, entretanto, Mesquita entrou em contradição e colocou toda a culpa na sua funcionária dizendo que “ela me envolveu como um escudo de proteção”. Culpar funcionários subalternos, diga-se de passagem, está sendo uma prática recorrente dos mensaleiros do PT.

A senadora Heloísa Helena concedeu uma entrevista imediatamente, para diminuir os estragos causados pela divulgação do escândalo. Nela, informou que se as acusações forem confirmadas, o senador será expulso do partido. No entanto, para apurar os fatos, a senadora encaminhou o caso para a Comissão de Ética do Senado: “Se o Conselho de Ética entender que ele é responsável por qualquer corrupção, ele não fica no P-SOL, ele sabe disso”, disse.

Esta comissão é formada por quatro senadores do PMDB, três do PFL (entre eles Antônio Carlos Magalhães), três do PT, dois do PSDB. Trata-se de um procedimento estranho: chamar para julgar um caso de corrupção representantes de uma instituição burguesa e corrupta como o Senado, e de partidos envolvidos em escândalos iguais ou maiores. Evidentemente, essa comissão não vai apurar nada.

Adaptação ao parlamento
Não se trata de um incidente isolado. Já alertamos repetidas vezes ao P-SOL que, ao adotar a mesma estratégia do PT, priorizando o parlamento e as eleições e não as ações diretas do movimento de massas, esse novo partido acabaria incorporando todos os velhos vícios dos parlamentares. O PT também jurou a defesa da “ética na política”, mas rapidamente passou utilizar as mesmas maracutaias e a corrupção da direita.

A extorsão dos salários dos funcionários do Congresso é uma prática generalizada e antiga dos parlamentares. Como os salários ali são, em geral, superiores aos do mercado, os deputados e senadores só contratam aqueles que aceitam entregar uma parte do que ganham.

Lista de equívocos
Os mesmos vícios do PT já vinham se manifestando a nível político. Quatro deputados do P-SOL votaram em Aldo Rebelo para a presidência da Câmara, cooperando com uma manobra corrupta do governo Lula. A maioria dos parlamentares aderiu à campanha pelo Sim no referendo, junto com o governo e a maioria da burguesia. Vem à tona agora esse escândalo de corrupção.

O P-SOL já acobertou um episódio de nepotismo do próprio senador Geraldo Mesquita. Em abril deste ano, a imprensa denunciou que ele tinha contratado nove parentes em seu escritório, sendo um dos piores exemplos de nepotismo no Congresso.

O P-SOL saiu em defesa do senador. Em nota oficial, afirmou que: “O senador não cometeu nenhuma ilegalidade. Seus funcionários trabalham e, independentemente de vínculos familiares, são pessoas qualificadas”. Com isso, esse partido assumiu o mesmo tipo de postura de Severino Cavalcanti, que defendia a contratação de seus filhos, por serem “competentes”. Por baixo do pano, o senador, para abafar o escândalo, demitiu os parentes, admitindo na prática o erro.

O problema é que, ao acobertar essas ações, o P-SOL só piora os problemas. O cálculo da imprensa é que Geraldo Mesquita embolsava R$ 20 mil por mês com seus nove parentes contratados. Foi obrigado a demití-los pelo escândalo, mas com o confisco de 40% dos outros funcionários, passou a ganhar outros 28 mil.

Para piorar, agora o P-SOL está se envolvendo em uma manobra para acobertar esse grave caso de corrupção. Não se pode aceitar que quem denuncia o PT por manobrar as CPIs para não investigar os escândalos, acabe por atuar da mesma forma, com uma Comissão de Ética fajuta, da qual participa ACM (PFL-BA).

Uma outra tradição
O PSTU tem uma postura diferente para lidar com os salários dos parlamentares. Parte da tradição leninista, tão negada pelos social-democratas e reformistas do PT e do P-SOL, é a defesa de que os salários dos parlamentares seja nivelado pelos dos operários de média qualificação. Dessa maneira, os parlamentares não mudam seu nível de vida. Todo o salário ganho pelos deputados deve ser entregue ao movimento de massas e ao partido, recebendo ele somente o que corresponde ao salário de um operário qualificado.

O PSTU não só defende essa tradição revolucionária, como a aplica. Todas as ocasiões em que tivemos parlamentares, eles receberam o correspondente a um operário qualificado, ou o que recebiam antes de serem eleitos. Os funcionários dos escritórios parlamentares, que eram militantes, voluntariamente, tinham o mesmo critério. O que valia para o parlamentar valia também para o funcionário que era militante. Os funcionários que não eram militantes recebiam seus salários integralmente, sem nenhum confisco imposto.

Ao contrário da prática desse senador (que considera “insuficientes” R$ 12 mil, e abocanha R$ 55 mil), o salário de um parlamentar de esquerda deveria estar espelhado no que ganha a classe trabalhadora.

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