Mesmo com o esquecimento do caso Renan, um grupo de cerca de 1.500 trabalhadores rurais ocupou, nesta segunda-feira, 23, a fazenda Boa Vista, do deputado federal Olavo Calheiros, para protestar contra a impunidade e o poderio da família do senador Renan, que manda e desmanda em Murici (AL). Os sem-terra integram os movimentos MST, MLST e MTL.

É a segunda vez que os trabalhadores rurais ocupam as terras do deputado Olavo Calheiros – muitas delas de origem duvidosa e por isso estão em litígio há vários anos. Na primeira invasão, em fevereiro do ano passado, dezenas de famílias de sem-terra foram expulsas e algumas delas agredidas por jagunços encapuzados.

“Eles jogaram gasolina e queimaram tudo. Muitos de nós tivemos que fugir pelo mato para não morrer, enquanto outros trabalhadores foram levados para a sede da fazenda do deputado e mantidos como reféns durante várias horas”, lembrou uma das lideranças do movimento.

Esqueceram de mim
Alguém se lembra do Renan Calheiros, manchete de todos os dias nas capas de jornais? A tragédia do avião da TAM em Congonhas retirou todos os holofotes da crise política envolvendo o presidente do Senado. Nos últimos dias, é difícil encontrar até mesmo uma simples menção sobre as marucataias do senador. Também contribuíram para isso o recesso parlamentar e o festival de baixarias que se sucedeu a tragédia envolvendo autoridades e ministros do governo, como o famoso top top de Marco Aurélio Garcia.

Com as atenções voltadas para a crise aérea, Renan tenta rearticular sua tropa de choque, buscando apoio no Conselho de Ética para sepultar definitivamente seu caso na volta do recesso.

Renan também impediu a convocação de uma comissão representativa do Congresso para discutir o desastre com o Airbus da Tam. Com isso, ele reforça a manobra de paralisar e congelar qualquer investigação contra ele.

Renan é acusado de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Mas há outra denúncia que também pesa contra ele. A empresa Schincariol teria sido beneficiada por Renan, depois de comprar uma fábrica de bebidas cujo dono era o seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL). Após a conclusão do negócio o presidente do Senado teria conseguido evitar a cobrança de uma dívida de R$ 100 milhões da Schincariol com o INSS e outra, também milionária, com a Receita Federal.

Nesta quarta-feira, dia 25, os sem-terra cercaram as instalações da fábrica de cerveja Schincariol em Alagoas. Eles foram impedidos de entrar e realizaram um protesto contra Renan em frente à empresa.

As investigações ganharam grande impulso e logo se concentravam em investigar o súbito enriquecimento do senador como os seus negócios agropecuários. Calheiros apresentou notas frias de empresas inativas e guias falsas de vacinação e transporte de gado para justificar sua renda. As investigações ficaram em segundo plano e o Conselho de Ética realizou uma porção de manobras regimentais e políticas, chefiadas pelos governistas, para protelar o caso.