Segundo dados do próprio Banco Central, as remessas de lucros ao exterior bateram recorde em 2007. Segundo o banco, as multinacionais instaladas no país teriam enviado US$ 21,2 bilhões a suas matrizes, o maior valor desde 1947, ano em que o BC começou a monitorar esse tipo de movimentação. Tal valor é 30% superior ao remetido em 2006.

O aumento das remessas, além de ter sido impulsionado pela baixa do dólar, que possibilita que o real compre maior quantidade da moeda americana, foi uma estratégia utilizada pelas multinacionais para compensarem a desaceleração econômica nos Estados Unidos e demais países imperialistas, enviando os lucros das filiais no Brasil para cobrir prejuízos das matrizes.

Embora o Banco Central e o governo brasileiro alardeiem o aumento do investimento estrangeiro direto em 2007, ele não foi capaz de frear a queda no superávit da conta de transações correntes do país. Essa conta abrange todas as transações comerciais, de bens e serviços, realizadas pelo Brasil e demais países.

Em 2007 o Brasil recebeu US$ 34,6 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), ou seja, investimento realizado nas empresas. Porém, a conta das transações correntes do país teve uma redução de 74% comparada a 2006. A Balança Comercial, que se refere somente ao comércio, fechou o período com um valor de US$ 6,4 bilhões menor que o ano anterior.

Perspectivas
O mês de janeiro teve uma movimentação contraditória. Ao mesmo tempo em que o sistema financeiro assistiu a uma fuga de US$ 1,8 bilhão em ações e títulos de empresas brasileiras para fora, no mês entraram, segundo o Banco Central, US$ 4 bilhões em investimentos diretos.

Analistas, porém, verificam que, enquanto a fuga de capitais tem relação direta com a recente crise financeira e econômica que já atingem o coração do império, o montante de recursos que ingressaram no país trata-se de uma movimentação excepcional, provocada provavelmente por negociações particulares. Dos US$ 4 bilhões que entraram, US$ 700 milhões, por exmeplo, se referem somente à compra de parte do capital da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) pela Bolsa de Chicago. A BM&F imitou a Bovespa, que abriu seu capital vendendo suas ações no mercado.

Com o avanço da desaceleração econômica e a recessão, a tendência é que se diminuam os investimentos estrangeiros na mesma proporção em que se elevem a remessa de lucros. Os países coloniais e semi-coloniais, desta forma, cumprem o papel de salva-vidas das economias imperialistas.

Em dezembro último, por exemplo, a General Motors no país reduziu seu capital em R$ 469 milhões, enviando esses recursos para tapar o rombo provocado pela queda de vendas da empresa nos EUA. Enquanto a empresa registrava queda nas vendas no mercado norte-americano, no Brasil a GM era a terceira maior montadora, num ano em que o setor automobilístico teve vendas recordes.

Isso só comprova que a recessão na economia norte-americana afetará em cheio o Brasil e que, se os investimentos estrangeiros no país podem, num primeiro momento, representar aumento da produção e emprego, a médio e longo prazo impõem a transferência de lucros ao exterior. Os investidores, ao contrário do que querem nos fazer pensar o governo e os representantes do capital, não são filantropos.