Os trabalhadores acreditam que tiveram uma vitória nas eleições contra a “direita”. José Serra seria o representante dos “ricos e das grandes empresas”. Acham que Lula é um aliado, e que Dilma será sua continuidade. Existe uma enorme confusão na consciência dos trabalhadores, que só sua experiência concreta com o novo governo Dilma poderá superar.

A grande burguesia se dividiu nas eleições entre Serra e Dilma. Serra foi o candidato da direita tradicional, com uma parte da burguesia industrial e financeira paulista, as grandes empresas da mídia (TVs e jornais) e um setor do agronegócio.
Dilma foi a candidata de um grande setor da burguesia que cresceu muito no governo Lula e aprendeu a fazer bons negócios com o PT. São os benefícios com as maiores taxas de juros do mundo que levaram ao apoio do Itaú e da família Safra. Assim foi também com as grandes empresas da construção civil, beneficiadas com as obras do PAC e do “Minha Casa, Minha Vida”, e com grandes projetos na América Latina e em todo o mundo (levados a cabo por empreiteiras como Odebrecht e Andrade Gutierrez).

Da mesma forma com a mineração, um dos centros da exportação brasileira (Eike Batista, o homem mais rico do país; Vale, a maior empresa privada). Um setor importante da siderurgia (Benjamin Steinbruch, presidente da CSN) e das grandes empresas de comércio, beneficiadas pelo aumento no consumo (Abílio Diniz, do Pão de Açúcar). Essas grandes empresas receberam grande parte dos financiamentos do BNDES.
Além disso, é necessário destacar que uma parte da burocracia petista está se transformando diretamente em grandes burgueses, como é o caso de José Dirceu e Luiz Gushiken.

Posição do imperialismo

O imperialismo se manteve equidistante nas eleições, satisfeito com qualquer uma das duas opções. É evidente que os governos imperialistas têm excelentes relações com Lula, a ponto de dar-lhe grande destaque nas reuniões internacionais e possibilitar tanto a Copa do Mundo quanto a Olimpíada no Brasil.

Não é para menos: Lula lhes assegura grandes lucros e estabilidade, assim como um papel de aliado nas crises latino-americanas. Além disso, mantém a ocupação militar do Haiti há seis anos, a serviço do governo dos EUA.

O Financial Times, jornal do capital financeiro internacional, nas vésperas da eleição, apoiou em editorial a candidatura de Serra. Mas os termos em que manifesta o apoio são muito significativos. “Ambos são notavelmente similares. São social-democratas que creem em políticas pró-mercado com forte componente social”. No final, diz que, com a vitória de Dilma, Lula vai seguir como um presidente paralelo e deve voltar em 2014. E termina: “Ao menos para interromper essa relação com o poder, Serra é a melhor opção para o Brasil.”

Em essência, os bancos estrangeiros dizem que tanto Dilma quanto Serra são confiáveis, mas para evitar que o PT e Lula fiquem no poder por 16 anos, seria melhor que Serra fosse eleito.

Existe uma enorme diferença com o Lula eleito em 2002, que já tinha uma aliança com uma parte da burguesia, mas ainda provocava temores nos setores majoritários do capital. Basta lembrar a instabilidade financeira naquela época (em que o dólar ultrapassou os R$ 4) e a estabilidade atual. Desta vez, a burguesia encarou a eleição com tranquilidade (inclusive o setor que apoiou a oposição de direita), e uma parte importante apoiou Dilma. Nesse sentido, é até simbólico que Abílio Diniz esteja apoiando Lula. O suspeitíssimo sequestro desse grande burguês em 1989, fartamente utilizado pela direita, foi um dos grandes motivos da derrota de Lula para Collor na época.

Que classe sai vitoriosa das eleições então? A grande burguesia, sem nenhuma dúvida. Conseguiu uma candidata que, além do respaldo da mais alta burguesia e da maioria do Congresso, tem ainda o apoio majoritário dos trabalhadores do país e de suas principais entidades de massas, como CUT, Força Sindical, UNE, sindicatos etc. Isso facilita muito a retomada de projetos como a reforma da Previdência, que já está em estudo.

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