Manifestantes queimam pneus nas ruas
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Repressão da Minustah, liderada pelo Brasil, deixou cinco mortosUma onda de protestos tomou conta do Haiti nos últimos dias. As manifestações começaram na semana passada em função da inflação dos gêneros alimentícios que o país vive. O preço do arroz e de outros gêneros essenciais chegou a dobrar ou até mesmo triplicar, gerando protestos nas cidades de Gonaives, Petit-Goave e Les Cayes, no sul do Haiti. Houve um protesto também diante do Palácio Nacional, em Porto Príncipe.

Barricadas foram montadas nas ruas, e os manifestantes entraram em choque com as tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) que atuam no país. Segundo o jornal Estado de S. Paulo, testemunhas disseram que um dos mortos teria sido atingido na cabeça por um tiro disparado por um soldado da Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti, liderada pelo Brasil). Veículos da ONU foram queimados e um depósito de alimentos foi saqueado. Até agora cinco pessoas foram mortas nos conflitos. A quinta vitima foi um homem morto a tiros, no último dia 7, nas ruas de Les Cayes.

O episódio mostra qual é a verdadeira “missão” das tropas brasileiras no país caribenho: reprimir qualquer mobilização popular para dar estabilidade ao governo pró-imperialista de René Preval. “Reforçamos nossos contingentes policiais com unidades especializadas vindas de Porto Príncipe e um novo batalhão de soldados brasileiros também chegou para dar apoio”, disse Henriot Toussaint, membro do governo haitiano.

Salário e falta de comida
O Haiti é dos países mais afetados pela inflação alimentar – fenômeno que afeta diversos países do mundo -, segundo um relatório da ONU. A crise é produto da globalização capitalista e o controle das multinacionais sobre o campo para a produção voltada para a exportação e não para a alimentação da população. Assim há uma diminuição na produção de alimentos tradicionais para se produzir produtos que tem um maior preço no mercado mundial.

A crise dos alimentos já afetou o México em 2007, quando a tortilla, um alimento tradicional produzido com milho, teve um aumento de 400% em razão da produção de etanol (a base de milho) para o mercado norte-americano. Atualmente a crise pode ser vista também no Egito. A súbita elevação do pão provocou uma greve geral no país no último domingo.

Veja a reportagem da agência Reuters (em inglês)

No Haiti, a inflação dos alimentos se soma ainda com a baixa remuneração dos trabalhadores. Estima-se que cerca de 80% da população viva com menos de US$ 2 por dia. Recentemente, os trabalhadores dos país, especialmente os empregados das maquiladoras, realizaram uma jornada de lutas por melhorias salariais.

O governo propôs um aumento do salário mínimo que não chegou a 10%. Dos 70 gourdes atuais (US$ 1,85), a proposta previa 77 gourdes (US$ 2). Estudos do próprio governo reconhecem que esse valor é ridículo e não atende as necessidades do povo.

A organização sindical Batay Ouvriye (Batalha Operária), que esteve à frente da luta, denunciou a proposta em seu boletim: “Com esse salário mínimo criminoso (…) não se pode pagar a escola das crianças, suportar doenças, cumprir a renda em casa. Alguns nem chegam a comer e tem que se conformar com pães feitos de argila para não sucumbir”, denuncia a organização.

Em outro comunicado, a organização já colocava qual seria a opção do governo diante de um recrudescimento dos protestos populares: “Este governo decidirá (…) optar por um crime em massa [contra os trabalhadores]? Sabemos que entre o direito dos dominantes e o direito dos desposuídos é a força que decide. A Minustah está aqui para assegurar precisamente isso”.

A Batay Ouvriye é uma das organizações que convocam o Encontro Latino-americano e Caribenho (ELAC), que ocorrerá em julho, em Betim (MG), após o primeiro congresso da Conlutas.