Após 55 dias de greve, os professores da educação básica da Bahia aprovaram a suspensão de um movimento que, ao que parece, sepultou de vez a confiança de muitos no novo governo do petista Jaques Wagner.

A insatisfação ficou evidente no desfile do “2 de Julho” (Independência da Bahia), quando nem a claque de assessores levados pelo governador foi capaz de sufocar as vaias dos populares. Os presentes não pouparam aplausos para os professores do ensino básico e superior, ambas as categorias em greve há mais de um mês e com os salários cortados.

Um recuo corajoso
Reunidos na quadra do Sindicato dos Bancários no dia 3, cerca de três mil professores optaram pela suspensão da greve. Cansada das manobras da direção da APLB-Sindicato, ligada ao PCdoB, e dos longos dias de greve sem resultados palpáveis, a categoria não permitiu contudo que a greve acabasse como queria o governo.

Primeiro, os professores deram mostras de coragem ao não se intimidarem com as ameaças e o assédio moral promovidos pelos diretores, que ligavam para as casas dos professores convocando-os para o trabalho. Depois, queimaram milhares de telegramas que haviam sido enviados com nova convocação para o retorno às salas de aula na penúltima assembléia da categoria, devidamente preparada para acabar com a greve.
Por fim, na assembléia do dia 3 a direção da APLB tentou pôr fim ao movimento sem que houvesse nenhuma discussão, mas foi rechaçada pelos professores. Estes exigiram uma avaliação e, na sua maioria, apontaram a direção do sindicato como responsável pela não conquista da pauta.

Rechaço
Não foi somente o governo que passou maus bocados durante a greve. Os parlamentares da base aliada e os sindicalistas da pelega CUT sequer puderam falar nas assembléias em função das vaias que lhes eram dirigidas.
O ridículo da situação ficou por conta da deputada federal do PCdoB Alice Portugal que, na última assembléia, impossibilitada de falar devido às vaias, fez um gesto insinuando que os professores estavam loucos.

Apesar do saldo político positivo, as fragilidades da categoria ficaram mais uma vez evidentes nesta greve. Primeiro, os professores carecem da existência de uma oposição organizada, que sobreviva às greves e seja capaz de dar uma nova lógica à mobilização, diferente da imposta pelo sindicato, que faz de tudo para preservar seu governo do desgaste.

Neste sentido, é fundamental atacar também outro problema: a falta de organicidade da oposição. Apesar do esforço sincero de muitos companheiros, ela ainda não foi capaz de imprimir maiores derrotas aos pelegos justamente em função de que, após cada greve, ela tende a desaparecer.

Em função disso alguns professores buscam alternativas de organização na Conlutas, junto com os docentes do ensino superior do estado e setores do funcionalismo federal. Estes últimos, que já fizeram sua experiência com Lula e a governista CUT, têm certamente algumas lições a ensinar.
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