Festas, sorteios, shows. Milhares de pessoas nas ruas para ver o show de seu artista e, quem sabe, voltar para casa com um dos prêmios sorteados. As centrais governistas fizeram uma verdadeira “virada” no 1º de Maio, transformando-o em uma grande festa. Com isso, abandonaram o caráter histórico desta data, de luta internacional dos trabalhadores contra os patrões e o capitalismo.

Essa mudança não foi por acaso. É um sinal das mudanças que ocorreram no sindicalismo brasileiro, com a adesão de centrais, como a CUT, ao projeto do governo Lula, de governar para os ricos, contra os trabalhadores e o povo.
Do outro lado desta trincheira, movimentos, entidades e partidos, como a Conlutas, a Intersindical, as pastorais, o PSTU, o PSOL e o PCB, buscam manter o sentido original da data. Por isso, centenas de atos classistas e de luta ocorrerão em todo o país.

“Precisamos fazer um 1º de maio que resgate a tradição de luta da classe trabalhadora. Esse dia nunca pode perder o seu caráter: independente, classista e internacionalista, e é isso que o 1º de maio da Sé pretende ser”, afirma Paulo Pedrini, da coordenação da Pastoral Operária em São Paulo.

Superexploração
A data do 1º de Maio foi escolhida para lembrar os cerca de 80 trabalhadores mortos em uma greve nos Estados Unidos, em 1886, pela redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Hoje, 112 anos depois, a maior parte dos trabalhadores cumpre uma jornada superior a essa, sem considerar o tempo gasto no transporte ou, no caso das mulheres, na dupla e tripla jornada de trabalho. A exploração dos trabalhadores aumentou sob o governo Lula, com baixos salários e perda de direitos trabalhistas. Hoje, uma imensa parte da classe trabalhadora está terceirizada, sem registro em carteira ou associada a “cooperativas”, criadas pelos patrões para burlar a legislação trabalhista.

O banco de horas e medidas como as metas de produção fazem com que praticamente todo o tempo do trabalhador seja dedicado a garantir o lucro de seu patrão.
Assim, não há o que comemorar em mais um 1º de Maio sob o governo Lula. Neste dia, é preciso sair às ruas, por aumento de salários, pela redução da jornada sem redução de direitos, contra as reformas, pela extinção do fator previdenciário, pela reforma agrária e contra a transposição do São Francisco, contra os ataques às universidades e pela retirada das tropas brasileiras do Haiti.

Em São Paulo, ato lembrará 1968

O ato classista de São Paulo acontecerá na Praça da Sé, e está sendo convocado por entidades e partidos, como a Conlutas, a Intersindical, Pastorais Sociais, MTST, MST, PSTU, PSOL e PCB.

Além de lutar por “Emprego, moradia, terra e direitos sociais”, o ato irá lembrar o 1º de Maio de 1968, na mesma Praça da Sé, em plena ditadura. Na época, além de exigir o fim do regime militar, o ato denunciava o arrocho salarial.

Os pelegos da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo levaram para o ato o governador Abreu Sodré, indicado pela ditadura. Os trabalhadores presentes e o Movimento de Oposição Metalúrgica (Momsp) vaiaram massivamente o governador e os pelegos, atirando paus e pedras e expulsando-os do palanque na Praça da Sé. “A massa vaiou, expulsou o governador e, revoltada com a situação, derrubou o palanque e ateou fogo. Os pelegos saíram de gatinho e, junto com o Sodré, fugiram para o Sindicato dos Metalúrgicos. Aquela imensa massa saiu em passeata por São Paulo protestando contra o arrocho salarial”, relembra emocionado Waldemar Rossi, coordenador da Pastoral Operária e dirigente da Oposição Metalúrgica em 1968.
O protesto dos metalúrgicos foi reprimido, mas serviu para a explosão das greves metalúrgicas da década seguinte, que marcaram o retorno da classe operária e os últimos suspiros da ditadura.

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