No último dia 23 de agosto, a General Motors do Brasil e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região reiniciaram as negociações sobre o futuro do setor de montagem de veículos automotrizes (MVA).

A empresa reafirmou sua intenção de fechar o setor e, com esta medida, demitir 1.840 trabalhadores. Não satisfeita, a GM propôs ainda um pacote de maldades com 17 propostas que visam reestruturar a produção. Entre os pontos, estão o congelamento salarial por três anos, o não pagamento da segunda parcela da PLR, o fim da estabilidade para os lesionados (B-94), uma nova grade salarial para toda a fábrica, a redução do adicional noturno de 30% para 25%, um turnover de 1,5% (rotatividade, hoje em torno de 1% dos funcionários), a implantação do banco de horas, além de outras medidas. Tudo isso, inclusive, sem nenhuma garantia de investimento.

Entre as propostas estão vários “bodes”, mas está claro que além de não garantir o emprego para os 1.840 trabalhadores ameaçados de demissão (900 se encontram em lay-off), o objetivo da empresa é desferir um duro golpe nos direitos dos metalúrgicos. Com isso, a GM quer nivelar os trabalhadores da empresa aos metalúrgicos das demais montadoras que, por causa das direções sindicais, já sofreram uma ampla flexibilização de seus direitos.

Brasil: o paraíso das montadoras
O Brasil é o paraíso das montadoras. Basta dizer que o lucro dessas empresas em nosso país é o dobro do lucro no exterior. Em nenhum lugar do planeta se vende carros tão caros como no Brasil. No quarto mercado de automóveis do mundo, o preço de um veículo é pelo menos 30% mais caro do que no exterior, sendo que em alguns casos chega a ser mais de 100%. Já o custo da mão-de-obra é, em média, 8% do valor do carro.

Além disso, as montadoras vêm recebendo generosos incentivos por parte do governo em empréstimos e isenções fiscais. Entre 2001 e 2011, receberam em torno de US$ 24,6 bilhões de empréstimos do BNDES com juros a perder de vista. Além disso, essas empresas têm sido beneficiadas com a redução do IPI. Nos últimos três anos, deixaram de pagar US$26 bilhões, enquanto no mesmo período enviaram US$14,6 bilhões para suas matrizes.

Ao mesmo tempo, essas multinacionais estão buscando aumentar ainda mais os lucros através da relocalização de suas plantas em países e regiões com menor custo de produção para aumentar suas vendas a outros países, aproveitando acordos de livre comércio, tais como o Mercosul e o do Brasil com o México. Não por outro motivo a importação de carros tem aumentado significativamente no Brasil. Só a GM importou, em 2011, 89.990 carros, deixando de gerar em torno de três mil postos de trabalho no país. Agora quer transferir a produção do Classic de São José para a Argentina, o que vai implicar o fechamento do MVA e a demissão dos 1.840 trabalhadores. É preciso colocar um fim às manobras, proibindo essas importações.

Unificar as lutas
Somente este quadro já nos permitiria concluir que as montadoras instaladas no Brasil não possuem razão para demitir e muito menos para retirar ainda mais direitos. Poderíamos ainda por cima agregar o fato de que as vendas estão em alta. Mas a sede de lucro das empresas parece não ter limite.

Os acordos em que os sindicatos terminam aceitando a flexibilização de direitos e os incentivos fiscais concedidos pelo governo, não têm impedido as empresas de seguir demitindo e de avançar cada vez mais sobre os direitos. Máxima expressão disso são as demissões que vem ocorrendo na GM de São Caetano, os 1.500 trabalhadores em lay-off na Mercedez de São Bernardo e o PDV aberto na Volks de Taubaté logo após o sindicato ter fechado um acordo de investimentos em troca de direitos.

Para impedir o fechamento do MVA, as demissões e a ofensiva flexibilizadora na GM de São José será necessário não só impulsionar uma forte mobilização dos trabalhadores da planta, mas também de todos os metalúrgicos de São José e trabalhadores da região. Por sua vez, a CSP-Conlutas deverá abraçar esta luta e transformá-la numa campanha nacional em defesa dos empregos. É importante que a CUT, CTB, Força Sindical e demais centrais se somem a esta campanha para fortalecer essa luta.
Post author Leandro soto, de São José dos Campos (SP)
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