O dia 27 de setembro passará para a história como o dia em que o chavismo reprimiu os petroleiros. Uma manifestação pacífica que reuniu cerca de 300 trabalhadores petroleiros foi violentamente reprimida pela Polícia do Estado de Anzoategui.
Os petroleiros se mobilizaram para reivindicar a adoção de um contrato coletivo, benefícios sociais – como a volta da cobertura do Sistema Integral de Saúde –, aumento de salários e incorporação de milhares de trabalhadores petroleiros que, segundo promessas do governo Chávez, seriam integrados à PDVSA (estatal petroleira).
O Major Comandante Robert Aranguren pela manhã disse na TV e na rádio que reprimiria a mobilização dos trabalhadores para controlar a ordem pública. Sem se importar com as ameaças e talvez acreditando que o governo Chávez não permitiria a ação da polícia, os trabalhadores rumaram à Corporacion Venezolana del Petróleo, uma holding que controla o petróleo do país. Os petroleiros protestavam tranquilamente com suas bandeiras, canções e palavras de ordem. Nem mesmo as ruas foram fechadas, os veículos circulavam normalmente.

No entanto, a polícia julgou que os petroleiros estavam desafiando em demasia o coronel do exército, Hugo Chávez. No dia anterior haviam feito a mais importante passeata em Puerto La Cruz dos últimos 10 anos. Havia uma rebelião nas bases da categoria. Nas refinarias de Puerto La Cruz, El Palito e em Falcon só se atendiam as emergências. Ninguém havia decretado greve, mas também ninguém trabalhava. Era uma rebelião de base.

Uma repressão violenta
A polícia de Anzoategui chegou lançando bombas de gás lacrimogêneo. Com pistolas nas mãos foram atirando em direção aos trabalhadores. Cápsulas de balas ficaram espalhadas por todos os lados. Como resultado, um trabalhador baleado foi hospitalizado em estado grave, mas há muitos outros feridos a bala. Cerca de 30 pessoas foram presas.

Coube o trabalho sujo de reprimir ao governador do estado, Wiliam Tarek, que já foi defensor dos direitos humanos e se apresentava como o “poeta da revolução”. Chávez decidiu pela repressão, mas tentou evitar suas conseqüências: o Ministro de Energia exigiu “investigações rigorosas”. Todo um teatro que a luta dos trabalhadores soube desmascarar.

Aprendendo novas lições
No dia seguinte, foi realizada nova assembléia na porta da Refinaria de Puerto La Cruz. Os trabalhadores tinham sangue nos olhos e queriam justiça. Luis Diaz, dirigente de Fedepetrol, denunciou que na zona residencial onde vivem os gerentes petroleiros – um lindo bairro, diga-se de passagem –, mora também o Major Aranguren, responsável pela repressão ordenada pelo governador.
Luis Diaz organizou uma marcha com 500 trabalhadores, entrou na refinaria e retirou aqueles que estavam trabalhando. Todos se dirigiram em passeata até o campo petroleiro para expulsar o repressor de suas instalações.

Eis uma nova surpresa. Alí estava a Guarda Nacional entrincheirada nos portões e impedindo o acesso. Os trabalhadores não acreditavam no que viam. Era uma dura descoberta ver a guarda de prontidão para defender Araguren e reprimir os trabalhadores. Afinal, a Guarda Nacional recebe ordens diretamente de Chávez.
Bladimir Carvajal, um dirigente sindical da recém nacionalizada Cerro Negro e chavista incondicional, dizia com lágrimas nos olhos e ódio no coração: “Eu não esperava que Chávez fosse capaz de apoiar esse desgraçado. Para mim chega!”.
Outro trabalhador dirigente de Sincor (outra empresa nacionalizada), em declaração à RCTV (a mesma emissora que Chávez retirou a concessão e agora transmite por satélite), dizia: “Agora entendo porque no seu programa dominical, Chávez dizia: ‘atenção Tarek no teu estado tem uma faísca e você tem que apagá-la’”.

Governo recua
O governo se deu conta de que a repressão serviu para pôr mais lenha na fogueira. O contrato que estava sendo negociado por uma burocracia escolhida a dedo pelo próprio governo, desde janeiro, foi aprovado a toque de caixa, em menos de três dias.

De todo esse processo, porém, os trabalhadores petroleiros incorporaram muitas lições e uma palavra de ordem: “só a luta muda a vida”.

Defender os trabalhadores venezuelanos

A maioria de esquerda alimenta simpatia pelo governo Hugo Chávez. Isso porque ele faz declarações contra o presidente dos EUA, George W. Bush, símbolo odiado da dominação imperialista, enquanto Lula chama Bush de “meu amigo”.

Existe uma enorme distância entre o discurso e a prática do governo Chávez, mesmo no que se refere ao seu “anti-imperialismo”. Seu governo segue pagando a dívida externa, e as nacionalizações feitas tiveram um prévio acordo com as multinacionais.

Para os simpatizantes do venezuelano, existiriam dois “campos” na Venezuela: o “campo” antiimperialista de Chávez contra o “campo” dominado pelo imperialismo.
O problema é que a sociedade se divide em classes e não em “campos”. Quando as mobilizações ameaçam a burguesia, os governos burgueses “progressivos” reprimem.
A ideologia do “campo” de Chávez não resistiu à greve dos petroleiros. O que fará a esquerda chavista? Dirá que as mobilizações operárias são reacionárias?

As mobilizações estão se sucedendo… e as repressões também. Antes dos petroleiros, foram reprimidos os trabalhadores da Sanitarios Maracay, em seguida foram os servidores públicos da Venezuela que ocuparam o Ministério do Trabalho.
Nós apoiamos a greve dos petroleiros contra a repressão do governo burguês de Chávez.

E chamamos todos os setores da esquerda latino-americana a fazerem o mesmo. Queremos nos dirigir em especial aos companheiros do PSOL, que em seu congresso aprovaram o apoio a Chávez.
O apoio às greves contra a repressão é uma questão de princípios para os que se consideram de esquerda. Vamos juntos apoiar a luta dos trabalhadores venezuelanos e protestar contra a repressão.

Post author César Neto e Leonardo Arantes, de Caracas
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