O PT lançou uma cartilha chamada “O decênio que mudou o Brasil”. Nela, se apresentam os dez anos dos governos petistas como uma reversão do neoliberalismo imposto pelos governos do PSDB. Diz a cartilha que o governo petistas tornou “diminuta” a pobreza,
Lula está percorrendo o país, realizando seminários para a discussão dessa cartilha. Na realidade, começou a campanha eleitoral de 2014, com a preparação da reeleição de Dilma Roussef. Antecipou-se, assim, também uma discussão de projetos estratégicos para o país.
As únicas contestações contra a cartilha, até agora, vieram da direita, do PSDB e DEM. Essa direita, desmoralizada pelos desastres cometidos durante o governo FHC, não conseguiu produzir nada de consistente contra a cartilha petista.
O PT tem condições de ganhar para suas posições boa parte do ativismo das lutas sindicais, estudantis e populares. Existe certa sensação de que as coisas melhoraram no país com os governos de Lula e Dilma em função dos anos de crescimento econômico.
Mas seria um desastre caso toda uma geração de ativistas fosse educada com essas concepções. Trata-se de uma inverdade histórica. Os planos neoliberais continuam sendo aplicados no Brasil pelos governos petistas, acompanhados de políticas sociais compensatórias, como o Bolsa Família. Esses planos foram propostos pelo Banco Mundial e o FMI como forma de compensar parcialmente os efeitos sociais dos planos neoliberais. A onda de crescimento econômico, na qual os governos petistas se apoiou, não vai durar para sempre.  
Torna-se vital responder em termos estratégicos a cartilha petista, a partir de uma visão critica da esquerda socialista. As bandeiras históricas do movimento de massas que estiveram presentes por muitos anos nos programas do PT, como a reforma agrária e a suspensão dos pagamentos da dívida aos banqueiros, são ignorados na cartilha. O socialismo desapareceu. É substituído pela defesa do “desenvolvimentismo” capitalista.
A realidade brasileira precisa ser encarada e não mascarada. As pequenas melhoras ocorridas nos governos petistas não acabaram e não acabarão com a miséria. O país continua sendo governado pelas grandes empresas nacionais e multinacionais, que lucraram como nunca nos governos Lula e Dilma, e agora apoiam o PT. Existe um caos na saúde e educação públicas. A opressão aos negros, mulheres e homossexuais segue violenta. A corrupção é tão grande como nos tempos do PSDB, como mostrou o caso do Mensalão.
Nas páginas dessa edição especial do Opinião Socialista, assumimos o desafio de debater com profundidade as posições contidas nessa cartilha. Para isso, utilizamos os estudos realizados pelo Instituto Latino-americano de Estudos Sócioeconômicos (ILAESE).

Um campo socialista dos trabalhadores
É necessário construir um terceiro campo político no país, alternativo aos ao campo do PT e partidos da base governista, e do PSDB-DEM. Não é possível que os trabalhadores tenham que optar entre dois projetos que defendem os mesmos planos neoliberais.
A Marcha chamada para o dia 24 de abril em Brasília tem esse significado profundo. Os trabalhadores querem ter voz própria. Uma voz necessária, dizendo que uma parte importante dos trabalhadores deste país pensa diferente do governo Dilma.
Ao contrário do que diz o governo, continua existindo uma enorme injustiça social no Brasil. Não estamos satisfeitos com os salários que recebemos. Não aceitamos a flexibilização trabalhista contida nos Acordos Coletivos Especiais e exigimos a anulação da reforma da Previdência. Não concordamos com a paralisia da reforma agrária e dizemos não ao apoio do governo às grandes empresas, ao agronegócio, bancos e multinacionais.
Repudiamos a criminalização do movimento social e a repressão às greves dos trabalhadores, como a da construção civil em Belo Monte. Lula e o PT, que sofreram a repressão das  greves dos metalúrgicos do ABC, não poderiam apoiar a repressão as mobilizações dos trabalhadores. Repudiamos a impunidade  dos torturadores da ditadura militar. Dilma, que foi presa política, não pode acobertar os criminosos ainda impunes.
É preciso que seja ouvida uma voz dos trabalhadores que não se identifica com o PSDB e o DEM, mas também repudia Marcos Feliciano, Renan Calheiros, Maluf, Sarney e Collor, todos da base governista. Uma voz que rejeita a volta ao passado dos governos FHC. Mas que, também, não está de acordo em mascarar o presente da realidade brasileira. E, menos ainda, quer pensar o futuro sem a estratégia socialista.

Bandeira do socialismo
As mobilizações dos trabalhadores europeus contra os planos de austeridade fazem tremular de novo as bandeiras socialistas. Na greve geral de novembro de 2012, realizada em Portugal e na Espanha, uma das bandeiras foi a suspensão dos pagamentos da dívida aos banqueiros, algo que o PT já esqueceu completamente. As revoluções do Norte da África mostram o que é a força de um povo quando se levanta contra a injustiça social.
Queremos lembrar que os trabalhadores no Brasil já demonstraram que têm essa força para mudar o país. Hoje, a maioria ainda apoia o governo do PT porque acredita erroneamente que é “seu” governo. Não veem que os bancos e as multinacionais seguem mandando nesse país. Mas, o futuro está em disputa. Ou rebaixamos o horizonte de uma geração ao “desenvolvimentismo burguês” ou retomamos o sonho socialista. Essa edição é nossa contribuição para a construção desse terceiro campo, um campo socialista dos trabalhadores.

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